Na gangorra latino-americana

"Na gangorra de instabilidades em que se transformou a América Latina, volta a vez da Argentina descer e a surpresa é que o México parece que vai subir", diz o colunista do 247 Emir Sader; o fracasso da política neoliberal da Argentina, que levou o país governado por Maurício Macri a recorrer ao FMI para tentar salvar a economia, vai de encontro ao atual momento político do México; ali, "a esquerda está pronta para ganhar as eleições de primeiro de julho, com a terceira campanha de Andres Manoel Lopez Obrador; "Aí, definitivamente, os olhares se voltarão para as eleições brasileiras que, se ajudam a interromper a ofensiva conservadora, reabriria uma nova fase da política latino-americana, talvez mais estável e menos volúvel às oscilações da economia internacional", diz

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Na gangorra de instabilidades em que se transformou a América Latina, volta a vez da Argentina descer e a surpresa é que o México parece que vai subir.

A Argentina ha havia sido uma vez "the case", o modelo que os organismos financeiros internacionais apontam como a referência a seguir. Foi quando, valendo-se dos traumas causados pela hiperinflação, Carlos Menem implantou a paridade entre a moeda argentina e o dólar por decreto. O país não poderia imprimir moeda sem a entrada dos dólares correspondentes.

O um a um transformou rapidamente o poder de compra dos argentinos, ao mesmo tempo que impunha uma sensação de alívio. Como se perdia muito sangue, o governo engessou as veias da economia argentina. A economia parou, as importações se impuseram e o país viveu uma lua de mel de ilusões, que nenhum político tinha coragem de propor o final, porque seria o final do festival de consumo em que viviam todos.

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Veio a implosão do modelo, pela gigantesca dívida pública que produzia, as pessoas tiveram que se dar conta que a paridade não era de um a um, mas de quatro a um, e foram quebrar os bancos para recuperar o dinheiro – e o futuro – perdido. Foi no que deu aquele "case" que felizmente nenhum outro governo seguiu.

Mais recentemente, foi na Argentina que a contraofensiva conservadora encontrou de novo um "case". A derrota do peronismo kirchnerista era um sonho da direita argentina há muito tempo e veio pelas mãos de um hábil politico de direita, ex-presidente de uma época de ouro do Boca Juniors e por duas vezes prefeito da conservadora cidade de Buenos Aires, Mauricio Macri.

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Orientado por um marqueteiro equatoriano de sucesso nos mercados da região, Macri se projetou como quem ia sepultar o peronismo, não apenas com o eventual sucesso do seu duro ajuste fiscal, como também com a judicialização da política argentina, perseguindo Cristina Kirchner e vários de seus ex-ministros, assim como líderes sindicais. Uma direita que, ao contrário da brasileira, voltava ao governo com maioria eleitoral, tinha mais perspectivas de voltar para ficar.

Mas não bastou o marketing para Macri. Ele nunca conseguiu domar a inflação, de que acusava sistematicamente a Cristina, a economia, lá como cá, não retoma o crescimento, o empobrecimento generalizado da população, inclusive da classe média, se generalizou e, sintoma sempre da crise argentina, o dólar disparou. Desde a crise do fim da paridade, em 2001-2002, os argentinos passaram a desconfiar dos bancos e passaram a poupar em dólar, que o Macri prometeu que ia baixar radicalmente.

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O fracasso da política econômica levou o dólar a superar a marca dos 20 pesos e Macri não teve alternativa senão subir drasticamente a taxa de juros, com os efeitos que se pode imaginar no aprofundamento da recessão, do desemprego e do desgaste salarial. Termina sua lua de mel, mal como todas aquelas centradas no ajuste fiscal.

Já no México, depois de quatro tentativas, duas delas derrotadas por fraude, a esquerda está pronta para ganhar as eleições de primeiro de julho, com a terceira campanha de Andres Manoel Lopez Obrador. Ele lidera com ampla vantagem as pesquisas, enquanto os candidatos dos dois partidos tradicionais da direita – o PRI e o PAN – não conseguem enfrentá-lo e nem sequer decidir pelo voto útil a favor de algum deles.

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A campanha se aproxima do seu final, restam apenas 13% de indecisos, enquanto todas as pesquisas dão vantagens bem maiores a Lopez Obrador e o voto útil não parece funcionar, abrindo caminho para que o vizinho dos Estados Unidos, vítima privilegiada das politicas tresloucadas de Donald Trump, que incluem a obsessão pelo muro na fronteira, eleja alguém que possa fazer o México se reaproximar da América Latina e de políticas de distribuição de renda.

Aí, definitivamente, os olhares se voltarão para as eleições brasileiras que, se ajudam a interromper a ofensiva conservadora, reabriria uma nova fase da política latino-americana, talvez mais estável e menos volúvel às oscilações da economia internacional.

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NA GANGORRA LATINOAMERICANA

 

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                Na gangorra de instabilidades em que se transformou a América Latina, volta a vez da Argentina descer e a surpresa é que o México parece que vai subir.

 

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                A Argentina ha havia sido uma vez “the case”, o modelo que os organismos financeiros internacionais apontam como a referência a seguir. Foi quando, valendo-se dos  traumas causados pela hiperinflação, Carlos Menem implantou a paridade entre a moeda argentina e o dólar por decreto. O país não poderia imprimir moeda sem a entrada dos dólares correspondentes.

 

         O um a um transformou rapidamente o poder de compra dos argentinos, ao mesmo tempo que impunha uma sensação de alívio. Como se perdia muito sangue, o governo engessou as veias da economia argentina. A economia parou, as importações se impuseram e o país viveu uma lua de mel de ilusões, que nenhum político tinha coragem de propor o final, porque seria o final do festival de consumo em que viviam todos.

 

        Veio a implosão do modelo, pela gigantesca dívida pública que produzia, as pessoas tiveram que se dar conta que a paridade não era de um a um, mas de quatro a um, e foram quebrar os bancos para recuperar o dinheiro – e o futuro – perdido. Foi no que deu aquele “case” que felizmente nenhum outro governo seguiu.

 

        Mais recentemente, foi na Argentina que a contraofensiva conservadora encontrou de novo um “case”. A derrota do peronismo kirchnerista era um sonho da direita argentina há muito tempo e veio pelas mãos de um hábil politico de direita, ex-presidente de uma época de ouro do Boca Juniors e por duas vezes prefeito da conservadora cidade de Buenos Aires, Mauricio Macri.

 

        Orientado por um  marqueteiro equatoriano de sucesso nos mercados da região, Macri se projetou como quem ia sepultar o peronismo, não apenas com o eventual sucesso do seu duro ajuste fiscal, como também com a judicialização da política argentina, perseguindo Cristina Kirchner e vários de seus ex-ministros, assim como líderes sindicais. Uma direita que, ao contrário da brasileira, voltava ao governo com maioria eleitoral, tinha mais perspectivas de voltar para ficar.

 

        Mas não bastou o marketing para Macri. Ele nunca conseguiu domar a inflação, de que acusava sistematicamente a Cristina, a economia, lá como cá, não retoma o crescimento, o empobrecimento generalizado da população, inclusive da classe média, se generalizou e, sintoma sempre da crise argentina, o dólar disparou. Desde a crise do fim da paridade, em 2001-2002, os argentinos passaram a desconfiar dos bancos e passaram a poupar em dólar, que o Macri prometeu que ia baixar radicalmente.

 

        O fracasso da política econômica levou o dólar a superar a marca dos 20 pesos e Macri não teve alternativa senão subir drasticamente a taxa de juros, com os efeitos que se pode imaginar no aprofundamento da recessão, do desemprego e do desgaste salarial. Termina sua lua de mel, mal como todas aquelas centradas no ajuste fiscal.

 

        Já no México, depois de quatro tentativas, duas delas derrotadas por fraude, a esquerda está pronta para ganhar as eleições de primeiro de julho, com a terceira campanha de Andres Manoel Lopez Obrador. Ele lidera com ampla vantagem as pesquisas, enquanto os candidatos dos dois partidos tradicionais da direita – o PRI e o PAN – não conseguem enfrentá-lo e nem sequer decidir pelo voto útil a favor de algum deles.

 

        A campanha se aproxima do seu final, restam apenas 13% de indecisos, enquanto todas as pesquisas dão vantagens bem maiores a Lopez Obrador e o voto útil não parece funcionar, abrindo caminho para que o vizinho dos Estados Unidos, vítima privilegiada das politicas tresloucadas de Donald Trump, que incluem a obsessão pelo muro na fronteira, eleja alguém que possa fazer o México se reaproximar da América Latina e de políticas de distribuição de renda.

 

        Aí, definitivamente, os olhares se voltarão para as eleições brasileiras que, se ajudam a interromper a ofensiva conservadora, reabriria uma nova fase da política latino-americana, talvez mais estável e menos volúvel às oscilações da economia internacional.

 

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