Na Cultura, enfim surge uma funcionária exemplar

"Devo admitir que a senhora Leticia Dornelles, presidente da Fundação Casa de Rui Barbosa, se revelou uma funcionária exemplar da área de Cultura do governo de Jair Messias. Ninguém, absolutamente ninguém, se mostrou tão disposto a cumprir, em termos concretos e urgentes, a missão primordial, o objetivo central do governo de Jair Messias: destroçar tudo", escreve Eric Nepomuceno, Jornalista pela Democracia

Letícia Dornelles e a Casa de Rui Barbosa.
Letícia Dornelles e a Casa de Rui Barbosa. (Foto: Divulgação)


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Por Eric Nepomuceno, do Jornalistas pela Democracia - Antes de mais nada, admito que até o dia 25 de outubro de 2019 eu jamais tinha ouvido falar de uma certa Letícia Dornelles. 

Naquele dia soube que ela é autora de dois livros infantis e de um para adultos, de título sugestivo: ‘Como enlouquecer em dez lições’. E só soube disso porque havia sido nomeada para presidir a Fundação Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro, um dos pouquíssimos, se não o único, setores do ministério de Cultura que haviam sobrevivido ao desastre que foi o governo cleptômano do senhor Michel Temer.

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Aliás, vendo a ficha corrida da senhora Dornelles, soube de mais coisas. Por exemplo: havia escrito roteiros de novelas e programas do SBT e da Record, e participado de alguns núcleos de redação de programas de entretenimento da Globo. 

Ah, sim: numa de suas primeiras entrevistas para revelar suas relações com o mundo das artes e da cultura, mencionou o fato de ter sido vizinha de Carlos Drummond de Andrade. Não explicou se de edifício, de andar ou de rua, nem disse, talvez por modéstia, talvez por sinceridade, que era sua leitora. Ter sido vizinha pareceu suficiente.

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Evidentemente, nada em sua ficha corrida e em suas declarações é suficiente para merecer a honra de presidir um dos mais importantes centros de pesquisa cultural, e principalmente literária, deste pobre país. 

O governo de Jair Messias, porém, preferiu a senhora Dornelles e deixou de lado Rachel Valença, indicada – como rezava a tradição – por pesquisadores e funcionários da Casa de Rui. 

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Um rápido lampejo de olhar pelo currículo de Rachel Valença é suficiente para jorrar méritos e razões para que ela fosse escolhida para presidir a Casa de Rui. 

Um exame minucioso e benevolente da ficha corrida da senhora Dornelles comprova exatamente o contrário. 

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Qual, então, seu único mérito diante dos imensos e amplos méritos de Rachel Valença? 

O apoio e a simpatia de uma das mais bizarras figuras da Câmara de Deputados, Marco Feliciano, um autoproclamado pastor evangélico, integrante de uma dessas seitas altamente especializadas em explorar o desespero e a angústia dos infelizes a troco de muito dinheiro.

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Pois bem: devo admitir que a senhora Leticia Dornelles se revelou uma funcionária exemplar da área de Cultura do governo de Jair Messias. 

Ninguém, absolutamente ninguém, nem mesmo o responsável pelo setor, Roberto Rego Pinheiro, que usa o pseudônimo de Roberto Alvim, se mostrou tão disposto a cumprir, em termos concretos e urgentes, a missão primordial, o objetivo central do governo de Jair Messias: destroçar tudo.

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Por mais que se reconheça o esforço hercúleo dos encarregados de fulminar o audiovisual, a senhora Dornelles foi mais rápida e eficaz. É bem verdade que enfrenta resistentes em número infinitamente menor, e menos poderosos, que os do setor de cinema. 

Ainda assim, é dever reconhecer sua ação exemplarmente fulminante.

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Ela assumiu no finzinho de outubro, e de lá para cá se manteve numa discrição que parecia indicar o mesmo destino das outras patéticas abjeções que o furibundo Alvim espalhou pelo outrora ministério da Cultura.

Ledo engano: nesta quarta-feira, oito de janeiro, a senhora Dornelles mostrou a que veio: fulminou o núcleo de pesquisadores que era coração e alma da Casa de Rui. 

De uma penada só, defenestrou uma constelação formada pelo cientista político Charles Gomes, a jornalista Jöelle Rouchou, o diretor do centro de pesquisas da Casa, Antonio Herculano Lopes, a ensaísta Flora Süssekind e o sociólogo José Almino de Alencar.

Enquanto seus colegas da Biblioteca Nacional e da Funarte, para ficarmos em apenas dois exemplos, se contentam em disparar batatadas patéticas e (por sorte nossa) não fazem nada de concreto, a senhora Dornelles revelou uma capacidade para destroçar que nem de longe encontra páreo na equipe chefiada pelo Roberto que quis virar Alvim. 

Perguntada pelas razões da sua decisão, a senhora Dornelles disse apenas que se trata de uma medida de ‘otimização administrativa’. E que é uma ‘decisão de governo’.

Claro que na Casa de Rui permanecem profissionais altamente capacitados. O problema é que se a senhora Dornelles descobrir quem são, tratará de manter cada um deles afastado de postos e cargos importantes.

Claro que um dia essa senhora voltará ao merecido desvão dos desconhecidos, e a Casa tornará a ressurgir.

O problema é o custo e o tempo que essa retomada demandará. 

Mas, até lá, será justo reconhecer que com sua ‘otimização administrativa’ a senhora Dornelles mostra que tem, sim, todos os atributos e méritos necessários para ser considerada funcionária exemplar no cumprimento da sua verdadeira missão: destruir, destroçar, arrasar. 

Para isso, pelo menos, ficou bem claro que ela serve. 

Para alguma outra coisa, ninguém sabe. 

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