Na AMAN, comandante do Exército chama Bolsonaro de general e puxa bordão eleitoral

O deslize do general e o discurso do Bolsonaro evidenciam a naturalidade com que a política frequenta os quartéis, a começar pelo registro, como se fosse corriqueiro, do lançamento da candidatura presidencial na própria AMAN, diz Jeferson Miola

General Paulo Sérgio
General Paulo Sérgio (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil | Marcos Corrêa/PR)


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No sábado [14/8] Bolsonaro prestigiou cerimônia de entrega de espadim [réplica da espada de Duque de Caxias, o patrono do Exército] aos cadetes da AMAN, a Academia Militar de Agulhas Negras, em Resende/RJ.

Ao final do discurso do Bolsonaro, o comandante do Exército cometeu um ato falho e chamou o capitão de general. Além do ato falho, o general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira também puxou o bordão “Brasil, acima de tudo” – que é o brado da Brigada de Infantaria Paraquedista do Exército apropriado como slogan da chapa Bolsonaro/Mourão na eleição de 2018.

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Bolsonaro mal terminou o discurso de menos de 4 minutos no pátio da AMAN – mesmo local onde, em 29 de novembro de 2014 ilegalmente lançou sua candidatura presidencial – e o comandante do Exército, percebendo que ele esquecera de puxar o bordão eleitoral, gritou: “É o Brasil, general”, para em seguida se corrigir: “… ôô Presidente …”.

Ato contínuo, Bolsonaro então retomou o script previsto e conclamou: “Brasil!”, sendo seguido pelo brado forte e ensaiado dos cadetes, que completaram silabicamente: “a-ci-ma de tu-do!”.

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O vídeo da cerimônia está disponível no facebook do Bolsonaro [aqui]. O ato falho do comandante do Exército aparece quase ao final, a partir do momento 3’:40”.

O deslize do general e o discurso do Bolsonaro evidenciam a naturalidade com que a política frequenta os quartéis, a começar pelo registro, como se fosse corriqueiro, do lançamento da candidatura presidencial na própria AMAN, em evento que contou com a cumplicidade dos então comandantes militares e a alienação do governo Dilma: “Em 2014 aqui fiz um vídeo onde me dirigi pra aspirantes, nossos colegas, e falei que 4 anos depois seria o presidente da República. Lógico que muita gente não acreditou”, discursou.

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No vídeo de 2014 citado por ele, Bolsonaro não fez menção a qualquer risco de atentado. Mas, decerto para dramatizar e manter aceso o mito da facada, ele inventou que “Eu falei também em 2014 …. [pausa teatral de 8 segundos] … que tentariam me matar. Não é bola de cristal. A minha idade, a minha experiencia permitia [sic] antever estes problemas”.

A percepção alimentada pelos militares a respeito da tutela sobre a democracia e instituições civis também é bastante naturalizada e incutida na mente dos futuros oficiais.

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Bolsonaro discursou que “hoje nós temos um presidente da República que acredita em deus, respeita seus militares, defende a família e deve lealdade ao seu povo. É servir à pátria sem estar fardado”, e pediu que os cadetes “se dediquem, se preparem, que o Brasil espera de todos vocês algo mais até que a nossa própria vida, a nossa dedicação integral. Quem vai colocar o Brasil no lugar de destaque que ele merece somos todos nós, todos nós somos brasileiros que temos um coração verde-amarelo e uma alma da mesma cor”.

Vocês amanhã estarão substituindo o nosso comandante Paulo Sérgio bem como, quem sabe, até a minha pessoa. E a passagem de vocês por aqui é a certeza de que o Brasil sempre estará em boas mãos”, arrematou Bolsonaro, dizendo que “estar aqui é uma emoção sempre redobrada. Mais ainda em sendo o chefe das forças armadas, isso não tem preço”, afirmou.

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Numa instituição que respira política, que cultiva uma cultura de intervenção na política e na qual são incutidos valores de superioridade da casta militar sobre a sociedade civil, não surpreende um comandante do Exército que chama o capitão de general e que estimula a repetição de slogan eleitoral em instalações militares.

O impeachment do Bolsonaro é uma urgência nacional. Mas a luta pela democracia e contra a escalada fascista-militar deve combinar o fim deste governo genocida com o imediato retorno dos militares aos quartéis e a saída efetiva deles da política, onde atuam como uma facção miliciana armada.

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