Mundo pedirá de novo o fim do bloqueio a Cuba. E o Brasil?
A aprovação da moção na ONU, repudiando este crime humanitário e econômico, não porá fim ao embargo, mas será vitória diplomática, escreve Tereza Cruvinel
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Por Tereza Cruvinel - Há mais de 60 anos os Estados Unidos impõem a Cuba o bloqueio comercial, econômico e financeiro que, embora não tenha alcançado o objetivo de derrubar o regime socialista da ilha, traz custos e sofrimentos enormes para os cubanos, com privação de alimentos, remédios, combustíveis e equipamentos.
Pela 30a. vez, o governo cubano apresentará à Assembleia Geral da ONU, nos próximos dias 1 e 2 de novembro, moção pedindo o fim dessa verdadeira guerra econômica, que é acompanhada por uma campanha difamatória global que, como temos visto, é reproduzida no Brasil pelo bolsonarismo.
A moção não tem poder coercitivo contra os Estados Unidos mas vem recebendo, todos os anos, o apoio da maioria absoluta dos países. Invariavelmente, votam contra apenas Estados Unidos e Israel. Pela primeira vez, em 2020, o Brasil os acompanhou, contrariando as linhas históricas da diplomacia brasileira, de não-ingerência externa e respeito à autodeterminação dos povos. A péssima repercussão levou à abstenção no ano passado. Na votação da próximas semana, Lula já deve ser o presidente eleito do Brasil mas o governo Bolsonaro talvez repita o vergonhoso voto de 2020, ou mesmo a omissão covarde do ano passado.
As consequências do bloqueio são mal conhecidas no Brasil, onde o bolsonarismo ressuscitou o anticomunismo e a demonização de Cuba e governos de esquerda em geral. Um dos mantras da campanha de Bolsonaro é dizer que, sob Lula, os brasileiros sofrerão o que sofrem cubanos e venezuelanos.
Apesar dos efeitos nefastos do bloqueio - que afeta não apenas as relações comerciais dos EUA com Cuba mas também as de outros países com a ilha do Caribe - o regime socialista cubano tem resistido ao longo destas seis décadas, garantindo progressos notáveis a seu povo. Mas os custos têm sido enormes. Segundo o chanceler cubano Bruno Rodríguez, em seu relatório para a ONU, só nos primeiros 14 meses do governo Biden (que manteve as restrições adicionais impostas por Trump), o bloqueio causou prejuizos de US$ 6,364 milhões. Ao longo de seis décadas, teria sido de US$ 147 bilhões.
O bloqueio começou em 1961, quando o presidente Kennedy proibiu todas as importações de origem cubana. No ano seguinte as restrições se ampliaram, tornando-se lei. Em 1992, veio a imposição do bloqueio a terceiros países onde existam subsidiárias de multinacionais americanas e a proibição a navios mercantes no comércio com Cuba. E 1996, a Lei Helms-Burton completou o arrocho econômico. A partir de 2000, até as viagens turisticas de cidadãos estadunidenses à ilha foram proibidas, para cortar uma das fontes de divisas do governo cubano.
Trump baixou mais 243 medidas. Cruzeiros e voos para Cuba (exceto para Havana) forma vetados, assim como operações bancárias. Representações consulares foram fechadas e empresas que vendiam combustíveis e outros bens essenciais para Cuba passaram a ser perseguidas. O pais foi posto numa lista arbitrária de patrocinadores de terrorismo, o que ampliou as restrições.
Para escapar do cerco, Cuba é obrigada a recorrer a intermediários em suas importações ou exportações, o que implica em grande aumento de custos com fretes, seguros e taxas impostas por bancos.
O objetivo é claro: sufocar a economia da ilha com privações de toda ordem, criando insatisfação popular e minando o apoio à Revolução Cubana de 1959. É obter a rendição ou a derrubada do regime gerando fome e sofrimento para os cubanos.
A aprovação da nova moção na ONU, repudiando este crime humanitário e econômico, não porá fim ao embargo, mas será uma vitória diplomática importante para Cuba. O Brasil ainda estará sendo governado por Bolsonaro mas a diplomacia brasileira deverá ter altivez suficiente para votar ao lado das nações que pedem o fim dessa política criminosa contra o povo cubano.
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