Mudança de prioridades
A mudança de posição em relação a Cuba significa a perda da importância da América Latina na agenda da política externa norte-americana e sua reorientação para o Oriente Médio e a Ásia Central
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Que relação poderia haver entre o reatamento das relações diplomáticas dos Estados Unidos da América e Cuba com os acontecimentos da França? - É possível dizer que ambos os fatos assinalam uma mudança nas relações internacionais, sobretudo na política externa da União Européia e da nação norte-americana?
Essa foi a pergunta da repórter sobre o reatamento das relações diplomáticas entre a ilha do Caribe e os EUA. O bloqueio continental imposto ao regime de Fidel e o isolamento diplomático de Cuba eram um resquício da "guerra fria" no continente americano. Tanto quanto a existência da OTAN em solo europeu. Ambos se inscrevem na luta contra o fantasma do comunismo no mundo ocidental e americano. Enquanto durou a "guerra fria" e o Pacto de Varsóvia, a retórica anticomunista alimentou o cerco político, econômico e diplomático a Cuba, como justificou a Aliança Militar do Atlântico Norte: o inimigo vermelho. Depois da queda do Muro de Berlim, ficou sentido defender a Europa da ameaça comunista e o risco de a ilha caribenha se transformar numa plataforma de lançamento de mísseis contra os EUA. No entanto, tanto o embargo a Cuba permaneceu, como a OTAN sobreviveu e assumiu novas funções: obstruir qualquer esforço no sentido da União Européia construir uma política externa independente, como postulou o manifesto assinado por vários intelectuais franceses. Não bastassem os aliados importantes dos Estados Unidos, como a Alemanha e a Inglaterra, a sobrevivência da OTAN - num mundo pós-guerra fria - só tinha uma razão manter a hegemonia política norte-americana na Europa.
A mudança de posição em relação a Cuba significa a perda da importância da América Latina na agenda da política externa norte-americana e sua reorientação para o Oriente Médio e a Ásia Central (Irã, Iêmen, Síria, Iraque) e a substituição da guerra ao comunismo, pela guerra ao terror. Busca de um novo inimigo externo que unifique e produza uma relativo consenso e em torno da administração central, contentando não só a direita, mas sobretudo as empresas de armas e equipamentos militares e grandes empresas de energia e construção civil, justifica a mudança de prioridade e de inimigo. O alvo agora não é mais o fantasma do comunismo ateu e dissolvente, mas o combate ao terrorismo islâmico, aos ativistas do estado islâmico ou do Califado muçulmano na África. Faltava impor à Europa essa nova orientação política. Os atentados em Paris ajudaram muito a convencer os governos aliados da Europa em aproximar a política externa da União Européia à política externa norte-americana. Agora será mais fácil para Washington obter o consenso dos governos europeus para ações armadas no Oriente Médio ou na Ásia Central contra os militantes muçulmanos, mesmo à revelia dos organismos internacionais, como disse o presidente Barack Obama.
Vem a calhar, nesse ambiente unimultipolar, a tese falaciosa de Samuel Hunticton - "tlhe crash of the civilizations" - o choque das civilizações: o ocidente cristão, democrático, branco e capitalista contra a barbárie do mundo árabe muçulmano, teocrático. Tese muito conveniente para esconder os interesses geo-políticos e econômicos dos EUA. O mundo pode até estar em guerra contra os Estados Unidos e sua política unilateral, mas isso nada tema ver com os valores do islã, do budismo, do chitoismo ou os cultos africanos. A guerra é política e econômica e a crise porque passa a União Européia não pode ser simplesmente jogada sobre os ombros do Islamismo, dos imigrantes ou do terror.
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