Mourão segue Vandré e toma lugar de Araújo
Simbolicamente, o vice presidente general Hamilton Mourão tomou o cargo do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Em vez de cuidar da pauta acessória, escapista, que despista dos assuntos mais sérios, como começou a fazer o chanceler Araújo, Mourão foi logo na veia
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Espírito de ação
Simbolicamente, o vice presidente general Hamilton Mourão tomou o cargo do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Em vez de cuidar da pauta acessória, escapista, que despista dos assuntos mais sérios, como começou a fazer o chanceler Araújo, Mourão foi logo na veia. Numa jogada diplomática competente de impacto, à moda de estratégia de auto-comando militar, encontrou-se com empresários chineses para dizer que a China é prioridade absoluta. São destinados a ela, anualmente, 34% das exportações brasileiras. Interrompido tal comércio, seja por que razões for, emergiria colapso econômico. O vice presidente atuou como verdadeiro chanceler de fato do governo Bolsonaro em questão fundamental. Transformou o chanceler de direito em pura caricatura.
Os embaixadores estão morrendo de vergonha com a pauta fundamentalista teocêntrica do ministro Araújo. Ela coloca o Brasil como sabujo internacional dos Estados Unidos e de Israel e é diplomaticamente suicida, torcendo nariz para os chineses e árabes, maiores parceiros comerciais. Aliás, a Globo já sacou que Ernesto é uma fria. Rifou ele. Mourão sentiu o vácuo, nem esperou a poeira baixar para ocupar espaço. Foi ao que interessa. Acertou com os chineses uma coexistência pacífica no contexto da guerra comercial EUA-China. E deu outros passos, concernente aos pontos de vista da diplomacia histórica brasileira de pregar soberania nacional e não interferência nos assuntos internos dos parceiros internacionais, especialmente, no continente sul-americano.
Mercosul e Venezuela
O vice já tinha dado tacadas diplomáticas em entrevista à jornalista Mônica Bergamo, da FSP; dera puxão de orelha em Paulo Guedes, o todo poderoso guru econômico de Bolsonaro, cujo discurso de posse teve mais ameaças que propostas concretas. Os empresários estão num medo danado dele; promete seguir Temer, cujo ato final de governo foi liquidar indústrias com tarifas baixas; de 14 caiu para 4%. A abertura pauloguedeseana joga os empresários nacionais para escanteio. Nesse contexto, morre o Mercosul, por meio do qual as empresas nacionais estavam se dando bem, na balança comercial.
Mourão ergue-se como contradição a Guedes. Disse que o Mercosul, que Guedes diz não ter importância, precisa ser reformulado e reforçadas as relações, principalmente, com a Argentina. Da mesma forma, cuidou de afastar ilações, que estão sendo alimentadas, inclusive, pelo presidente venezuelano Maduro, de que ele, Mourão, seria cabeça de ponte americana no Brasil para abrir guerra com Venezuela. Descartou esse assunto.
Aliás, a grande mídia, subordinada à orientação de Washington, está fazendo calculada confusão com a relação Brasil-Venezuela. Os militares brasileiros desejam boas relações com os militares venezuelanos. Mourão reconheceu que os militares estão avançando no governo Bolsonaro, mas, acrescentou, a intensidade dessa participação é bem maior na Venezuela. Lá esteve, no ano passado, o ex-ministro da Defesa de Temer, Joaquim Silva e Luna, e de lá voltou dizendo ser importante ter a Venezuela como aliada não como alvo de guerra, como deseja a direita norte-americana.
Sem função?
Mourão mostrou que vai na linha do poeta Geraldo Vandré: quem sabe faz a hora não espera acontecer. Fincou estacas em três frentes político-diplomáticas: Mercosul, Venezuela e China. Fez diplomacia profissional, colocando em patamar inferior o ministro Ernesto, chegado a um fanatismo religioso, tremenda contraindicação diplomática em tempos guerra econômica global entre as duas maiores potências, Estados Unidos e China. Mourão abre espaço, embora rolem contraditórias informações de que não terá função no governo, por ordem do presidente Bolsonaro.
Verdade ou mentira?
A proatividade de Mourão diante da inatividade pragmática de Araújo, envolvido nas questões subjetivas, anti-diplomáticas, demonstra o perfil político do vice-presidente. Ele vai caminhando, cantando e seguindo a canção. Fez diferente, especialmente, no caso chinês, no qual evidenciou sentido de urgência na ação política.
Era isso que se esperaria de Araújo, na primeira hora. Comeu mosca, tergiversando sobre questões irrelevantes, como destacou a analista do Valor, Rosângela Bitar, na avaliação do discurso presidencial. Abriu a guarda para Mourão. A três interferências do vice evidenciaram a racionalidade da verdadeira diplomacia brasileira não pela boca do chanceler formal, mas pela do chanceler informal.
Olha o novo diplomata!
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