Mortes aumentam, mas omissão de Bolsonaro contagia estados

"A omissão do governo federal contagia outras autoridades numa velocidade maior do que a do coronavírus", escreve Helena Chagas, do Jornalistas pela Democracia. "Governar, porém, é também tomar medidas impopulares, arcar com suas consequências momentâneas e aguardar o julgamento da história"

(Foto: Reuters)


✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

Por Helena Chagas, do Jornalistas pela Democracia

O Brasil começa a semana superando a marca de 1.000 mortes diárias pela Covid-19 na média móvel — foram 1.016, mostrando variação de 65% em relação a 14 dias atrás. A média de casos diários (53.250) cresceu 54%, um recorde. Já virou chavão dizer que a vacina é a luz no fim do túnel, e que estamos avançando. Mas esse túnel é longo, bem comprido mesmo, e não dá para esperar até lá sem outras providências, como muitas das autoridades querem fazer crer.  Por mais que sejam importantes as tratativas em torno da imunização, segundo os especialistas, seu impacto não será sentido tão cedo. Hoje, agora, não vai salvar um número significativo de vidas — aliás, por enquanto, nenhuma, já que por aqui nem começou a campanha de vacinação. 

continua após o anúncio

Países como o Reino Unido e a Alemanha, que estão muito mais adiantados do que nós na vacinação, mas ao mesmo tempo também sofrem o impacto da assustadora segunda onda, com a aceleração no número de contaminações e mortes, já fizeram o inevitável: decretaram novos isolamentos, fechando o comércio não essencial e outras atividades, e até lockdown em algumas áreas, forma mais eficaz de conter a proliferação do coronavírus.

É devastador para a economia? Sim. Mas obriga a população a salvar a vida, já que, infelizmente, em boa parte do mundo, incluindo o  Brasil, a tendência das pessoas é sair de casa e se aglomerar. O ser humano é gregário, e de sua natureza viver em sociedade e suportar mal o isolamento. Mas, assim como se submete a uma série de outras normas da vida social que contrariam seus instintos, o cidadão precisa obedecer a determinações sanitárias que têm por objetivo preservar a coletividade. Simples assim. 

continua após o anúncio

Não é tão simples assim, em meio à crise econômica e ao desemprego que grassa, decretar isolamento, como está ocorrendo, por exemplo, em Belo Horizonte. Mas o prefeito Alexandre Kalil parece ter sido um dos poucos governantes de cidades grandes — e de estados — a ter coragem de enfrentar o tabu e fazer o que é preciso. E o que é preciso? Isolar e obrigar o governo federal a retomar os pagamentos do auxílio emergencial para quem não pode trabalhar.

Pelo resto do país, infelizmente, assistimos a prefeitos e governadores acuados, caindo numa espécie de bolsonarismo pandêmico. Com seu discurso ignorante e mau exemplo, Bolsonaro parece ter conquistado apoio de parte da população, que resolveu sair às ruas. Até mesmo governadores que, na primeira onda, tomaram medidas enérgicas, agora parecem estar amarelando.

continua após o anúncio

A omissão do governo federal contagia outras autoridades numa velocidade maior do que a do coronavírus. Governar, porém, é também tomar medidas impopulares, arcar com suas consequências momentâneas e aguardar o julgamento da história – na qual vai ficar inscrito, antes de tudo, o número de mortos da pandemia do século.

(Conheça e apoie o projeto Jornalistas pela Democracia)

continua após o anúncio

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Este artigo não representa a opinião do Brasil 247 e é de responsabilidade do colunista.

Comentários

Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247

continua após o anúncio

Ao vivo na TV 247

Cortes 247