Morte, sonhos e reaparições

Contudo, o ‘mundo cristão’ padece de uma neurose coletiva de ódios, armas, mortes e justificativas infundadas.



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Inobstante o beijo falso de Judas, a fuga dos discípulos, Pedro renega Jesus publicamente. Ninguém comparece para falar em favor do preso, medo. Pelos poderes sacerdotal e civil, com roupagens legais, condenaram um inocente de forma rápida, antes da Páscoa. A turba raivosa quer sangue de um dos detidos, do de Jesus. Entretanto, um cristão oculto e fariseu, José de Aritmateia, dá sepultura ao nazareno em seu jazigo familiar. Após a morte tudo se calou pela lei do sábado judaico. 

Morte e condenação mal explicadas com muitos desdobramentos, mas por quê? Essa questão vital e insustentável voltou e mudou concepções de antes. A esposa de Pilatos – a que sofrera em sonhos pelo crucificado, se converte ao cristianismo. Uma pessoa sensível, essas as quais percebem as coisas antes mesmo que perpassem o consciente, pessoas difíceis de se convencer por mera retórica ou ideologia.

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O mundo adoeceu sob as crucifixões ressentidas pelos mais pobres e sem condições de defesa. Jesus resistira ao ódio do ataque moralista contra a pecadora, defendera os pobres e doentes da Galileia e se insurgira contra o oportunismo dos doutores da lei, que fingiam cumpri-la. 

Foi um crime político bizarro pelo uso do judiciário antigo, sob a distração dissimulada do circo de Pilatos – que garganteia, ameaça lavar as mãos, faz cena e deixa a sentença na tábua. Quantos inocentes são executados em países com a vigência da pena de morte! Quantos são incriminados por provas ‘plantadas’ de drogas ou outras! Quantos são perseguidos pelas orientações sexuais que a natureza lhes deu, por ódio gratuito e contumaz. Quantos são preteridos por ódio de classe social! Combate-se muito os efeitos da violência, ocultando-se as causas desta.

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Entretanto, conta o evangelho das reaparições de Jesus, por um breve tempo. No vilarejo de Emaús reconhecem-no ao partir o pão. Ato solene que ele mesmo sacramentou na ceia derradeira, e na qual passa a ser reconhecido, no pão partilhado. 

Jesus retorna tal qual o abandonaram aos seus algozes. Vê-se nele ainda as marcas da flagelação, na fronte cravejada, no olho vazado, nas espáduas açoitadas e, mesmo assim, reaparece desejando a paz, sorrindo e restabelecido das antigas dores que nos ferem uns aos outros. Não retorna como um deus pagão apoteótico, grandiloquente, mas em essência, do que o comum é ainda que não percebido, intocável – o mistério da presença. Madalena não toca em Jesus e Tomé não se atreve nem com um dedo, rende-se pateticamente num ato de fé.  

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A verdade incomoda tanto quanto a mentira quando não podemos explicar. Por isso que se chama de mistério da fé, se fosse explicável teria outro nome. A reabilitação civil e limpeza do nome de Jesus levou trezentos anos e pelo mesmo poder que o condenara.

Contudo, o ‘mundo cristão’ padece de uma neurose coletiva de ódios, armas, mortes e justificativas infundadas.

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