Morreu um bravo
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Faleceu, no dia 24 de julho, aos 72 anos, um dos mais dedicados, destemidos e criativos militantes sociais deste país, o italiano Vito Giannotti, brasileiro de coração.
Era um revolucionário sem dogmas e preconceitos.
Quando abraçou a causa do socialismo, em sua pátria natal, soube dos kibutz israelenses e teve a esperança de que lá, no final dos anos 50, nascia um mundo novo.
Arrumou suas malas e mudou-se para Israel, sem ter qualquer vínculo com o judaísmo.
Quebrou a cara. Decepcionou-se com o que viu e viveu. Rapidamente desistiu do sionismo, do qual passou a ser crítico implacável, procurando a encarnação de suas convicções socialistas em outras plagas.
Resolveu, então, se juntar à epopéia latino-americana, mudando-se para o Brasil, empregando-se em uma metalúrgica e atuando no movimento sindical logo após o golpe militar de 1964.
Foi um dos grandes animadores da oposição sindical metalúrgica de São Paulo, nos anos 70 e 80.
Dedicou-se especialmente à tarefa de educar o sindicalismo combativo para a tarefa da comunicação, pois considerava essa a principal ferramenta para radicalizar a consciência de classe e pavimentar o caminho ao socialismo.
Desde os anos 90, mudando-se de São Paulo para o Rio de Janeiro, liderou a constituição do Nucleo Piratininga de Comunicação (NPC), formidável experiência para o debate dos temas da informação e para a formação de animadores da luta social.
Ao partir, Vito deixa um enorme legado, de histórias e instrumentos, ideias e iniciativas, além de muitos amigos e companheiros.
Eu o conheci há quase 35 anos, durante uma época na qual o sindicalismo comunista, ao qual me vinculava como jornalista, se contrapunha aos grupos fundadores do PT e da CUT, então em formação.
Sorriso cativante, gestos largos, voz de barítono, Vito encantava até os adversários, que não perdiam a chance para um dedo de prosa, uma história bem contada ou uma acalorada discussão sobre os rumos do movimento operário.
Nos anos 90, quando eu dirigia uma editora de livros, ele me procurou para lançar seus primeiros textos. Eram obras sobre a história do sindicalismo, com críticas duríssimas às experiências que direta ou indiretamente tinham sido comandadas pelo PCB ou seus herdeiros.
Eu já era filiado ao PT e me encantava a ironia do autor, que um dia me disse com indisfarçável triunfo: "publicar esses livros contigo é a certeza de que você vai ler o que escrevi e nunca mais andar com gente errada."
Vito sempre será exemplo, para as atuais e as futuras gerações. Um homem sem papas na língua, um bravo da luta de classes, um educador inigualável, um coração do tamanho de seu vozeirão.
Morreu um camarada, um irmão inesquecível. A tristeza só não é maior que as lembranças do tanto que este tremendo italiano fez pelo bom combate.
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