Morre um rei, nasce um deus
"Enquanto viveu, foi rei. Do futebol, do Brasil, do mundo. Reis morrem. Agora é um deus. Imortal", escreve Alex Solnik
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Não há palavras para descrever Pelé.
Rei do futebol desde 1958, ninguém foi rei por tanto tempo.
Mas o que Pelé fez com os pés, a cabeça e o corpo não foram lances de futebol. Foram, também, ousadias de toureiro. Foram coreografias de balé. Foram poemas concretos. Foram passes de mágica.
Era craque, mágico, bailarino, poeta, toureiro.
Manolete, Baryshnikov, Uri Geller, Haroldo de Campos.
Todos queriam vê-lo jogar para comprovar se era verdade o que falavam dele. E deixavam o estádio convencidos de que ele não era humano.
Humanos não conseguem passar incólumes, com a bola nos pés, no meio de três adversários, contrariando as leis da física. Einstein ficaria estarrecido.
Humanos não sabem driblar com os olhos.
Em pouco tempo, reverenciado por reis, presidentes, príncipes, generais, democratas, ditadores, artistas, papas, sábios, ou cidadãos comuns, torcedores ou não, o epíteto “rei” ficou pequeno para ele.
A palavra “Pelé”, que virou sinônimo de Brasil, tornou-se a mais conhecida em todo o planeta, em qualquer idioma. Basta dizê-la para as portas do mundo abrirem-se para os brasileiros.
Não importa o que ele disse, escreveu ou falou. Seu dicionário era outro. Ele falava com os pés, numa linguagem universal que sempre terminava na euforia do drible impossível ou do gol que sacudia as redes.
É inútil compará-lo a outros craques, porque estes só jogaram futebol. O que Pelé praticava era outro esporte. E do qual só ele conhecia os segredos.
Enquanto viveu, foi rei. Do futebol, do Brasil, do mundo. Reis morrem.
Agora é um deus. Imortal.
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