Moro tem mais bala na agulha que Bolsonaro

"Se o centrão não se contentar com o que ele [Bolsonaro] oferecer ou se a pressão da mídia, ou seja, da Rede Globo, da Folha e do Estadão, principalmente, for irresistível, a situação poderá mudar de água para vinho", constata o jornalista Alex Solnik

Sergio Moro e Jair Bolsonaro
Sergio Moro e Jair Bolsonaro (Foto: ABR | Reprodução)


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Por Alex Solnik, para o Jornalistas pela Democracia 

Eu estava aqui discutindo comigo mesmo quem leva vantagem no duelo Moro vs. Bolsonaro que está começando hoje.

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 Essa guerra tem três frentes.

 Na Polícia Federal, Moro ganha de Bolsonaro. Ganha porque tem intimidade com a PF e prestígio desde o início da Lava Jato e ganha também porque conseguiu prestar seu depoimento hoje, quando a cadeira de chefe da PF ainda está vaga, dado o fracasso da tentativa de Bolsonaro de colocar lá seu compadre e amigão do filho 02, Alexandre Ramagem.

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 Isso quer dizer que a equipe dessa investigação começa a trabalhar hoje, não tendo sido, portanto, nomeada pelo interventor de Bolsonaro qualquer que seja ele, menos Ramagem que já está queimado e se o ainda presidente insistir em recorrer vai ser mais vergonhoso porque vai levar uma goleada no STF.

 Temos, então, que no quesito investigações Moro conta com mais destroyers nessa batalha naval.

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 Quanto ao teor das acusações, ou seja, pressões para interferir diretamente na Polícia Federal sem haver motivo para exonerar o titular, Moro já mostrou no primeiro trecho da sua delação que tem bala na agulha e ninguém duvida que tenha uma coleção de tentativas de interferência em investigações da PF em 17 meses de convivência.

 Bolsonaro, por sua vez, não tem do que acusar Moro a não ser chamá-lo de Judas, como fez hoje de manhã, desencadeando uma explosão da #morojudas nas chamadas redes sociais.  O que eu quero dizer é que não há crime de que Moro possa ser acusado por ele, mas ele será atacado de todas as formas como só os bolsonaristas sabem fazer com seus desafetos preferidos.

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 Concluídas as investigações, sabe-se lá quando, a Bolsonaro interessa esticá-las ao máximo, elas serão encaminhadas a julgamento no STF.

 Nem Moro nem Bolsonaro são bem quistos na corte, mas acho que a barra de Moro a essa altura está menos suja que a de Bolsonaro, que tem sido impiedosamente derrotado pelo Supremo nos últimos embates.

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 Moro tem a seu desfavor aqueles escândalos revelados pela Lava Jato na sua conduta como juiz e nas suas relações com alguns ministros, mas ainda assim há uma bancada lavajatista no STF, o que me leva a crer que também no STF Moro leva vantagem sobre Bolsonaro mantida a composição atual.

 No quesito comunicação Moro também ganha porque tem ao seu lado os canhões da Rede Globo, com potencial de fogo mais letal que Record, SBT, RedeTv! e Band e as redes sociais bolsonaristas. Tirar Bolsonaro do poder antes de 22 é tudo o que a Globo quer, pressionada pelas ameaças de perder a concessão estatal que ele renovou anteontem.

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 Mas, tudo, bem ou mal, termina no Congresso. É onde se trava o duelo final. É quando a onça vai beber água.

 Bolsonaro vai precisar de 171 votos para se salvar se o STF definir que ele cometeu crime de responsabilidade ou mesmo crime comum.

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 No primeiro caso, esses votos impediriam a abertura do impeachment e, no caso de crime comum, a autorização para seu julgamento no STF.

 Bolsonaro já trabalha com a possibilidade de ter que chegar ao duelo na Câmara, como indicam suas últimas decisões de estreitar os laços com os partidos do centrão, que reúnem algo como 200 votos e, portanto, garantem sua vitória.

 Hoje mesmo os jornais informam que teria ameaçado de demissão ministros que não abrirem vagas no segundo e terceiro escalões aos ditos cujos.

 Não há garantias, no entanto, de que ele vai conseguir seduzi-los com apenas tais benesses, como já declarou o notório Roberto Jefferson, que vem insinuando que o que o seu PTB quer é ministério.

 Ninguém vai jogar no lixo, é claro, cargos de segundo e terceiro escalões, mas quanto mais perigo Bolsonaro correr, mais pressões sofrerá para entregar as joias da coroa, os ministérios e terá de entregá-las.    

 Não há dúvida que na Câmara e no Senado, mantidas as atuais condições de temperatura e pressão, Bolsonaro tem mais votos que Moro; mas, se o centrão não se contentar com o que ele oferecer ou se a pressão da mídia, ou seja, da Rede Globo, da Folha e do Estadão, principalmente, for irresistível, a situação poderá mudar de água para vinho.

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