Moro, o vendilhão desmascarado
"Quando Moro soltou um trecho da delação premiada de Antônio Palocci faltando pouquíssimo para o segundo turno, ficou mais do que claro que se tratava de uma jogada cujo único e exclusivo objetivo era ajudar Bolsonaro na reta final da campanha", diz o colunista Eric Nepomuceno, do Jornalistas pela Democracia
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Por Eric Nepomuceno, para o Jornalistas Pela Democracia - É verdade que nenhum deles – estou falando de quem cerca Jair Bolsonaro – vale grande coisa. E isso, na melhor das hipóteses: a imensa maioria não vale é nada.
Ninguém que tenha sido chamado para integrar esse governo merece nem verniz de respeito. Isso vale, é claro, para os militares empijamados.
Ainda assim, oscila entre o curioso, o engraçado e o extremamente sério o que falam aqueles que romperam com o destrambelhado clã presidencial. Do ex-ator pornô Alexandre Frota à robusta plagiadora Joice Hasselman, que do mais que merecido ostracismo saltaram para o palco graças justamente ao desmiolado candidato que acabou virando presidente, todos saem dizendo pestes e contando podres da família miliciana.
Um dos casos que cabem perfeitamente na categoria do extremamente sério é a revelação feita por Gustavo Bebianno, defenestrado do vistoso posto de ministro da Secretaria Geral da Presidência dois meses depois de ter sido nomeado. Sua saída humilhante ocorreu depois de um embate com Carlos Bolsonaro, o mais hidrófobo dos muito hidrófobos filhos presidenciais.
Carlos acusou Bebianno de ter mentido, o acusado provou que o mentiroso era Carlos, e Bolsonaro apoiou justamente quem mentiu.
Isso aconteceu em fevereiro, e o primeiro grande medo de Bolsonaro foi que Bebianno, que era seu advogado, resolvesse cobrar os honorários dos quais tinha aberto mão.
Bobagem de dimensões olímpicas: devia ter tido é medo daquilo que o cão de guarda que coordenou sua campanha eleitoral sabia. E, mais que medo, devia ter pavor do que Bebianno pudesse contar se alguma vez resolvesse abrir a boca e contasse uma parte milimétrica do que tinha feito.
Ele ainda não contou um milésimo do que sabe. Mas uma das coisas que contou confirma o que muitos de nós sabíamos: pelo menos entre o primeiro e o segundo turno, o então juiz Sérgio Moro foi convidado e aceitou largar a toga para virar ministro de Justiça do candidato altamente beneficiado por ele e a turma da Lava Jato.
Quando Moro soltou um trecho da delação premiada de Antônio Palocci faltando pouquíssimo para o segundo turno, ficou mais do que claro que se tratava de uma jogada cujo único e exclusivo objetivo era ajudar Bolsonaro na reta final da campanha.
Pois agora Bebianno, em uma entrevista ao jornalista Fabio Pannunzio, precisou de apenas e exatos dois minutos e cinco segundos para revelar e comprovar o que eu e muitíssima gente sabíamos: a cumplicidade do então juiz com o candidato ultradireitista não se limitou a impedir Lula de ganhar a eleição. Teve seu prêmio assegurado com antecedência.
Bebbiano foi, mais que coordenador, o grande articulador da campanha eleitoral e participou ativamente da estruturação do governo de Bolsonaro. Pretendia ser ministro da Justiça. E quando foi informado por Paulo Guedes que seu candidato pessoal tinha sido preferido por Bolsonaro, achou perfeitamente natural.
Num gesto de lealdade ao passado, na entrevista Bebianno diz que até onde ele saiba, Bolsonaro e Moro não tinham tido nenhum contato pessoal direto. Tudo foi feito por Paulo Guedes.
O que ele não disse, nem precisava, é que Guedes pode ter sido escolhido por Bolsonaro para as sondagens e negociações com o juizeco que desde sempre se mostrou absolutamente parcial e manipulador.
Com essa revelação feita pelo condutor da campanha eleitoral, que ainda por cima menciona testemunhas da conversa – Onyx Lorenzoni, o empresário Paulo Marinho, Paulo Guedes – a situação de Moro como ministro fica insustentável.
Quer dizer: ficaria, se tanto ele como Bolsonaro tivessem uma gota de vergonha na cara e um mínimo vestígio de dignidade.
Em compensação, vossas excelências que integram o Supremo Tribunal Federal passam a ter um motivo a mais – o centésimo – para julgar a conduta do então juiz Sergio Moro. Uma conduta imoral, indecente, abjeta.
E, além de motivo, têm uma nova oportunidade para mostrar que não se trata de um tribunal omisso, cúmplice, poltrão. Oxalá não a desperdicem como desperdiçaram todas as anteriores.
Também a Câmara de Deputados tem uma excelente oportunidade de tentar desfazer ao menos em parte, pequena parte, sua péssima imagem: Moro já compareceu e mentiu aos deputados.
Por que não fazer uma convocação ampla, incluindo, além de Moro, Paulo Guedes e Onyx Lorenzoni, e provocar uma acareação do trio com Gustavo Bebianno?
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