Moro não tira férias
O jornalista Mauro Lopes, editor do 247 e fundador do Paz e Bem, escreve sobre o contra-ataque de Moro contra as revelações da Lava Jato; o governo Bolsonaro está solidamente ancorado no projeto das elites de transferir todo o patrimônio público para o grande capital e os rentistas e Moro é fundamental para o novo cenário institucional: "Manter Lula preso e a oposição acuada; investir contra a imprensa; construir um Estado policial"; ele não tira férias para cumprir sua tarefa
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Quando o Diário Oficial publicou, em 8 de julho, que Sérgio Moro tiraria uma semana de férias (ele ficou fora do cargo de 13 a 21 deste mês), num momento crítico das revelações da Vaza Jato, refutei a avaliação dominante, inclusive na esquerda, de que ele estaria em recuo, numa situação periclitante, à beira de cair. Defendi que ele ia aos Estados Unidos para sair do foco e organizar o contra-ataque. Foi o que aconteceu.
Havia um precedente. O episódio de pouco mais de um ano atrás, em 8 de julho de 2018, quando o desembargador de plantão no TRF4, Rogério Favreto, expediu um habeas corpus determinando a soltura de Lula. Moro, de férias, foi o grande articulador da reação do Judiciário, do MP e do governo Temer para manterem o ex-presidente preso, ilegalmente.
Moro não tira férias, tenhamos claro.
A partir dos EUA (sempre lá), ele costurou a reação à Vaza Jato. O modelo estava dado: a tentativa de Bolsonaro de tornar a facada de Adélio Bispo de Oliveira num atentado político articulado pelo PSOL. Os "hackers caipiras", ao que tudo indica pequenos golpistas do interior de São Paulo, são os Adélio da estratégia de Moro.
A estratégia de Bolsonaro não conseguiu tornar um ato tresloucado num atentado político, mas foi eficaz para tensionar o ambiente e criar um clima de confrontação que é decisivo para seu projeto político. Não foi totalmente bem-sucedida, mas criou o roteiro para Moro.
Apesar da queda de popularidade de Moro e Bolsonaro, a oposição não pode embarcar na ilusão de que o governo está fraco, incapaz de reação, amedrontado. Eles ainda são fortes, muito fortes.
A razão da força do bolsonarismo é meridiana: o governo Bolsonaro coesiona as elites do país num projeto de transferência patrimonial sem precedentes na história mundial. É o programa-síntese do projeto neofascista: transferir todo o patrimônio público brasileiro para o grande capital nacional e internacional, sobretudo estadunidense. Tudo o que construímos desde Getúlio Vargas está sendo retalhado e entregue: a Petrobrás, os bancos públicos, as universidades. Tudo. Até, como prometeu o pinochetista Paulo Guedes, os prédios dos palácios presidenciais.
Privatização e garantia de pagamento dos juros da dívida pública para o sistema financeiro e os rentistas. É o programa de governo das elites sob comando do governo Bolsonaro. Tudo o mais concorre em apoio a isto.
Moro tem um papel chave, não como condutor do programa, mas como o fiador do cenário político-institucional que garanta sua realização. Manter Lula preso e a oposição acuada; investir contra a imprensa; construir um Estado policial. Estas são as tarefas de Moro.
Sim, Moro é um medíocre, assim como Bolsonaro. Mas, não nos iludamos. Hitler também o era. Os medíocres obsessivos e perversos são instrumentos poderosos para as elites, sempre. Eles estão no comando de grandes empresas e, agora, no comando do país.
E eles não tiram férias.
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