Moro cedeu a mais uma pressão: dos armamentistas

"O lobby da indústria de armas mostrou quem realmente dá as cartas no governo quando está em jogo a defesa do setor", afirma Gilvandro Filho, do Jornalistas pela Democracia; "O ministro da Justiça, Sérgio Moro, havia nomeado para o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária a cientista política e ativista antiarmamentista Ilana Szabó de Carvalho, especialista em segurança pública. Havia. Desistiu na pressão", diz; "O Moro de hoje é a cara de suas atuais entrevistas na TV, quando fala baixo, gagueja, olha de lado e não consegue convencer ninguém", acrescenta

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Por Gilvandro Filho, do Jornalistas pela Democracia

Nesta quinta-feira (28), o lobby da indústria de armas mostrou quem realmente dá as cartas no governo quando está em jogo a defesa do setor. O ministro da Justiça, Sérgio Moro, havia nomeado para o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária a cientista política e ativista antiarmamentista Ilana Szabó de Carvalho, especialista em segurança pública. Havia. Desistiu na pressão.

A grita com a “inconveniente” nomeação foi grande por parte de dos bolsonautas, nas redes sociais, e logo teve início uma campanha feroz para que a medida não se concretizasse. Não durou muito e Moro fez o que vem ao longo de sua passagem pelo governo: não aguentou o tranco e recuou. Revogou a nomeação.

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Contra a ativista, pesaram muito seus pronunciamentos e artigos publicados na mídia contra o decreto de flexibilização da venda e posse de armas, que passará a permitir – assim que aprovado pelo Congresso – que cada brasileiro habilitado (cerca de 75% da população) possa comprar e ter em casa até quatro armas de fogo. Quatro.

Ilana também se mostrou crítica ao confuso pacote anticrime apresentado por Moro ao Congresso, além de ser favorável à descriminalização das drogas. Era, portanto, um alvo vistoso à maioria reacionária e truculenta que compõe a maioria do governo e da base de apoio de Bolsonaro. Um governo fraco e suscetível a achaques e pantins de grupos medievais como é o caso do MBL, um dos que cobraram de Moro a “desnomeação” da cientista política. Sem falar na bancada evangélica e da própria bancada da bala, esteios do governo do “mito”.

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O poder do lobby da indústria de armas em cima do governo Bolsonaro cresce de forma inversamente proporcional à firmeza, ou à vontade, do ministro Moro em encará-lo. Controladores de uma bancada poderosa, os empresários do setor de armamentos são influentes e pragmáticos. No governo falam de igual para igual com as autoridades, sobretudo o presidente da República e os três filhos dele, cada um simpatizante de fatias do mercado da bala. Até o próprio ministro Moro faz reuniões misteriosas e secretas com empresários do setor, como a que ocorreu com o pessoal da Taurus, cujo conteúdo só Deus sabe qual foi – o ministro alegou privacidade e não se explicou.

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Uma geral do poder de fogo (sem trocadilho) dessa gente por ser lida em outros artigos postados aqui no Jornalistas Pela Democracia. Um deles, nesta coluna, pode ser lido neste link.

Mesmo com todo barulho feito nas redes sociais, a pressão ocorreu mesmo foi nos bastidores do governo, na bancada da bala e sobre o Ministério da Justiça, de maneira direta. O esquadrão armamentista é um agrupamento forte demais para deixar correr frouxa uma nomeação como a de Ilana. Estranho é que Sérgio Moro não tenha se tocado que isto pudesse acontecer. Como previsível demais que é ele tenha voltado atrás. Ao contrário do que acontecia em sua vida pré-governo, a docilidade diante dos lobbys e da base parlamentar de apoio de têm sido os pontos fortes do ministro.

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Moro tem ficado quieto em relação a denúncias surgidas contra membros do governo ou políticos da base bolsonarista. Estão aí casos como do filho mais velho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), encalacrado com um escândalo que envolve o seu ex-assessor nos tempos de vereador do Rio, motorista, pagador, amigo de fé, irmão e camarada Fabrício Queiroz. Moro não se abala com a questão. Como mantém o mesmo comportamento distante e silente em relação ao caso envolvendo em denúncias de Caixa Dois contra o ministro Chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzzoni. Quem não se lembra da antológica frase de Moro?  “Ele até pediu desculpas...”

No próprio pacote anticrime, criticado por juristas pelo seu vazio de conteúdo, Moro cedeu à pressão dos parlamentares e tirou o Caixa Dois, justificando um fatiamento inexplicável. Exatamente o contrário do que disse até um dia desses o próprio Moro, sobretudo nos cinematográficos tempos de estrelato da Operação Lava Jato. No quesito “frases”, Moro tem outra inolvidável: “Caixa Dois não é corrupção”.

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O estilo claudicante do ministro da Justiça diante de situações, digamos, embaraçosas para sua imagem de justiceiro e salvador tem sido a marca da sua passagem pelo poder. Mesmo que essa imagem seja muito questionada por ele ter agido ao arrepio da razão e debruçado na ausência de provas, como é o seu caso mais emblemático, a caçada jurídica e política ao ex-presidente Lula.

Ao contrário de antes, quando acumulou fama e prestígio com sua imagem de paladino, o

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