Moro, Bolsonaro e a Democracia sinuosa brasileira

Críticos da Lava Jato acreditavam mais que era a Petrobrás a maior vítima da ardilosidade de Sérgio Moro, Deltan Dallagnol e sua trupe de bandidos de Toga. Ledo engano. Moro fizera pior: destruíra também a esperança dos iludidos (opinião pública) de que a corrupção cessaria e, ademais, destruíra por mais grave ainda, a democracia



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A engenharia civilizatória do Brasil é esquizofrênica. A verdade é que toda sociedade moderna, para que possua conteúdo evolutivo-societário, é essencial que exista uma democracia forte, consolidada, linear[1]. Em nosso país o que ocorre é exatamente o contrário. O que nós empreendemos é uma democracia sinuosa. Uma democracia a partir de um projeto de engenharia de curvas perigosas, curvas acidentadas, curvas da morte[2]. Nossa democracia é produto de uma grande aventura política que, ora flerta com retrocessos históricos (tais como dissimulações na aplicação das normas vigentes, golpes de Estado e até mesmo fascismo institucionalizado), e ora outra, se esmera em reorientar a narrativa para se parecer na normalidade político-institucional, doravante, democrática.

O evento de melhor assimilação deste comparado rali dos sertões institucional que vivemos no País e o atual contexto imprimido pela Operação Lava Jato. Trata-se da força-tarefa que uniu Ministério Público e Polícia Federal a fim de investigar e punir com rigor a corrupção no Brasil, porém, desta vez (era a esperança), pegando pelo gogó os poderosos megaempresários que patrocinam o desmonte institucionalizado brasileiro, assim como seus tentáculos imersos no Parlamento e nos vários órgãos da República. Grande mentira: tornou-se [evidente] com o tempo a Farsa-tarefa que se vestiu da vaidade e hipocrisia de seus membros, lideradas por um Juiz de primeiro grau que, além de destruir o Estado de Direito brasileiro, destruíra também sua economia, fazendo com que nossas maiores empresas que geravam centenas de milhares de empregos fossem punidas[3] desnecessariamente.

Até este momento, os maiores críticos da Lava Jato acreditavam mais objetivamente que era a Petrobrás, uma das gigantes do petróleo no mundo, que estava sendo a maior vítima da ardilosidade de Sérgio Moro, Deltan Dallagnol e sua trupe de bandidos de Toga. A Petrobrás quebrou e com isso, desemprego generalizado e abertura para vender a preço de banana o nosso patrimônio para a Shell, Chevron, Exxon Mobil e outras. Porém, ledo engano. Moro fizera pior: destruíra também a esperança dos iludidos (opinião pública) de que a corrupção cessaria e, ademais, destruíra por mais grave ainda, a democracia.

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Do mapa da História do Brasil, jamais poderíamos considerar como fato normal, atividade coerente com a democracia, a eleição de 2018. Não! As conversas reveladas pelo sítio The Intercept mostram que toda a promiscuidade dos membros da força-tarefa da Lava Jato não objetivava outra coisa que não fosse elevar ao Poder dois atores estratégicos a este modelo de País retrógrado e voltado a subserviência às castas tradicionais que de forma alguma querem que os mais pobres tenham acesso às políticas públicas e à qualidade de vida. Sérgio Moro precisava ser indicado Ministro do STF a qualquer custo, e Jair Bolsonaro, agora Presidente da República, é o instrumento mais caricato para se fazer a transição deste "novo" Brasil ao atraso secular.

Moro pode ser chamado de tudo, menos de burro. Foi o político mais genial que esse País teve nos últimos 4 anos(?). Armou tudo de forma brilhante. Envolveu os tolos e covardes (a maioria) do STF. Seduziu a população brasileira por meio de um acordo espúrio com a grande mídia, especialmente, a Rede Globo, a maior pedagoga do povo brasileiro. Conseguiu a chancela do Congresso Brasileiro. Trouxe para seu lado outra casta, os generais falastrões brasileiros, idiotas úteis que somente servem a si mesmos e não à segurança e à soberania nacional.[4]

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Mas como em toda ganância pelo poder, quando não se respeita o escalonamento necessário na estratégia da subida, a queda é cruel. A altura volátil que Moro chegou representa também seu declínio livre e inevitável. Ao que parece, o juiz não aprendeu nada com outro ator que construiu sua Torre de Babel com areia da praia, subiu muito rapidamente na República, e caiu de fisiologia trancada no chão da forma mais vergonhosa que se espera: o ex-deputado Eduardo Cunha. Moro – e todos nós – logo veremos sua ruína por proporcional arrogância instalada em seus atos.

Retomando o escopo deste artigo, tal como a farsa-tarefa revelada na Vaza Jato, as eleições de 2018 não foram somente fruto de fakenews que por si só já deveria ser motivo de anulação do pleito. Elas são um produto da Lava Jato que encarcerara de forma completamente enviesada, ao arrepio das leis e, de modo particular, da Constituição Federal, o então líder das pesquisas eleitorais. Ora, se uma vez preso[5] quem pautava o imaginário político dos brasileiros e, de longe, que poderia vencer já no Primeiro Turno de 2018, sem poder disputar o sufrágio do eleitor, qual legitimidade há numa eleição que se supunha ser democrática de fato – e não o foi?

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Por derradeiro, ou exigimos, o povo brasileiro, a anulação da eleição de 2018, ou continuaremos para sempre a trafegar essa patética democracia sinuosa que joga para fora da pista não somente atores individuais, entretanto, toda a população deste País e, sobretudo, seu modelo civilizatório – sempre repercutido no âmbito do retrocesso histórico e jamais na evolução cultural própria das grandes nações.

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[1] Linear, neste sentido, é apenas na dinâmica de um fluxo contínuo; sem recuo, sem altos e baixos, sem grandes pontos fora da curva (da História).

[2] "Morte" aqui possui duplo sentido: de morte humana, face que há consequências objetivas de um Estado que, não fazendo bem a execução das políticas e serviços públicos, pessoas estão em risco. Entretanto, "morte" é também caráter simbólico do evento civilizatório-cultural e político de uma sociedade. Democracia é, portanto, sinônimo de vida.

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[3] Em países modernos, empresários que cometem crimes contra o Estado, estes são punidos severamente, entretanto, as empresas são preservadas (acordos de leniência feitos de forma discreta, sem comoção social) para preservar, sobretudo, os empregos das pessoas e a fluidez da economia nacional.

[4] Pior é que democracia no Brasil é desacreditada em todas as esferas: i) povo não se interessa; ii) instituições a enfraquecem; e iii) os representantes a traem. Ou seja: quem vai proteger a democracia neste País?

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Aliás, o Brasil é a única nação que conheço que [n]o Parlamento [se] pratica autofagia. Isto é, são nossos próprios representantes que matam a democracia, e a "comem" de forma voraz.

[5] Fiz questão de não citar o nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (embora mereça nosso respeito) no texto principal para que ninguém personalize o escopo desta inflexão que apresento. Todavia, que assegurem, na coluna vertebral da potencial desgraça deste País, o fato de a democracia e do Estado Democrático de Direito terem sido gravemente feridos a partir da farsa da Lava Jato e, portanto, possam os republicanos que ainda existam e que tenham coragem, exigir a reparação dos danos causados ao Brasil, começando pela ANULAÇÃO DA ELEIÇÃO 2018, por todo o evento fático posto e comprovado até aqui pelo The Intercept.

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