Moro apequenou o nosso código de ética e alargou as margens da tolerância com o mal feito
A colunista Denise Assis, do Jornalistas Pela Democracia, diz "o que sabemos todos, é que há sete meses o país vive aos sobressaltos. E nada acontece. Não há medidas para frear o desemprego, não há providências para fazer a economia girar, não há perspectivas de crescimento. O 'posto Ipiranga' prevê que isto aconteça daqui a 'um ano ou dois'. Enquanto isto, vamos 'adoecendo'."
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Por Denise Assis, para o Jornalistas Pela Democracia - Com sete meses de governo o ex-presidente Jânio Quadros renunciou... Por que estou falando disso? Não sei... O que sabemos todos, é que há sete meses o país vive aos sobressaltos. E nada acontece. Não há medidas para frear o desemprego, não há providências para fazer a economia girar, não há perspectivas de crescimento. O “posto Ipiranga” prevê que isto aconteça daqui a “um ano ou dois”. Enquanto isto, vamos “adoecendo”.
Adoecendo de indignação, de imobilismo, de horror e de naturalização do que não pode ser naturalizado. Enquanto o lado de lá vai rachando e perdendo quadros e simpatizantes, arrependidos por terem votado com o fígado e não de olhos no futuro de um país que é de todos (eu disse de todos), o lado daqueles que simplesmente miraram o óbvio – não podia dar certo, ou melhor: tinha tudo para dar errado – adoece. É assim, quando a raiva não tem por onde escapar. Esse sentimento, quando reprimido, vira depressão, tristeza.
Diante do entreguismo, do desgoverno, da falta de decoro, do mínimo de elegância ou humanidade, há protestos organizados, mobilizações, palestras, manifestos, estridência nas redes sociais, mas qual é o discurso para enfrentar a baixaria que se instalou em Brasília, e teima em sair da boca de cena e vir para o proscênio, a nos enfrentar com sua escatologia? Enquanto isto, na coxia, eles preparam toda a maldade que virá de repente, de uma penada, ou da compra orquestrada de um Congresso que só funciona à base da grana “que ergue e destrói coisas belas”, como já cantou Caetano Veloso.
Houve esperança, quando Glenn Greenwald iniciou os vazamentos sobre a Lava-Jato. Mas embora sejamos extremamente gratos ao seu esforço e aos que se juntaram a ele nesta tarefa, o pior já tinha acontecido. A pressão exercida pela mídia e pela tal “força-tarefa” sobre a opinião pública teve dois efeitos colaterais de altíssima gravidade. O primeiro, foi levar ao poder – depois soubemos que era este o real objetivo de procuradores e do ex-juiz – o presidente que lá se encontra. O segundo, e este muito mais danoso, foi naturalizar o mal. Naturalizar o desrespeito às leis; naturalizar o descumprimento à Constituição; naturalizar o princípio de que os fins justificam os meios; naturalizar o que não é natural: o falso moralismo.
Todas as transgressões são desculpadas, minimizadas, ignoradas. Onde estão os que poderiam reivindicar o mínimo de decência? Guardados com Deus. (Que falta faz um Ulysses Guimarães).
Deste saldo, há alguns itens a serem debitados na conta do ex-juiz Sergio Moro. Há a desmoralização interna e externa da Petrobras, que foi à bancarrota por suas ações desvairadas e persecutórias (hoje se sabe o que ele perseguia: o seu naco de poder); há a quebra das nossas maiores empresas, reconhecidas mundialmente; há o desmoronamento dos direitos trabalhistas, que vieram na esteira do golpe que ele ajudou a engendrar, colocando no poder os que tinham pressa em acabar com eles. Há a perda de poderes sobre o pré-sal, nosso cheque para o futuro. Há a devastação da Amazônia, que nos colocava orgulhosos perante o mundo, enquanto lutávamos – com apoios internacionais - para preservá-la, mas há o pior dos males para um povo. Moro levou o público médio brasileiro a naturalizar o cinismo. Moro apequenou o nosso código de ética e alargou as margens da tolerância com o malfeito. E isto a história irá lhe cobrar.
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