Morar na Buenos Aires da Argentina de Macri
"Aqui só não houve uma explosão popular como a que aconteceu no Equador e acontece hoje no Chile porque domingo haverá eleições. E as urnas se encarregarão de catapultar Macri para longe, bem longe", escreve Eric Nepomuceno, Jornalista pela Democracia, ao analisar o aumento da pobreza e o declínio da atividade econômica na Argentina
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Por Eric Nepomuceno, para o Jornalistas pela Democracia
Nos últimos quatro meses, a média dos aluguéis em Buenos Aires subiu 16%. Se a isso somamos os 20% de reajuste semestral previsto em todos os contratos, significa um aumento de quase 40% em quatro meses. Quase 10% de aumento ao mês, bem acima da acelerada inflação.
Talvez por isso os bairros de classe média e inclusive os ocupados pelos mais bem aquinhoados portenhos mostram um desfile de placas de imóveis oferecidos para aluguel ou venda.
Aliás, neste outubro a inflação imobiliária arrefeceu visivelmente. A razão: diminuiu a procura por apartamentos para alugar, e com isso os preços ficaram como estavam.
Quanto à vendas, o cenário é impactante: se em 2018 houve uma queda abrupta de 38% em relação a 2017, neste primeiro semestre as vendas representaram menos da metade do que foi vendido no mesmo período do ano passado. Duas razões: primeiro, a profunda crise imposta pelo projeto econômico de Mauricio Macri, que Paulo Guedes deve achar admirável, e que corroeu ainda mais os salários.
A segunda razão: o câmbio. Nenhum imóvel tem o preço estabelecido em pesos argentinos: a única moeda que vale nas transações imobiliárias é o dólar. É nessa moeda que são feitos os anúncios nos jornais ou nas vitrines das agências de imóveis.
Até aqui, em todo caso, estamos falando das classes médias, que já tinham sido duramente abaladas desde as crises de 2001 e 2008 e que agora foram novamente golpeadas de maneira descomunal. Porque entre os pobres e os que vivem na faixa da miséria, o panorama é ainda mais aterrador.
Aliás, convém reiterar que de dezembro de 2015, quando Macri assumiu prometendo “pobreza zero”, para cá, os argentinos pobres, que representavam 29% da população, no fim de 2019 serão 37%.
E de cada cem argentinos, 8 são indigentes, ou seja, não ganham sequer o suficiente para comprar alimentos (aliás, no item alimentação a inflação ronda a marca dos 60%). Os refeitórios populares instalados nos bairros mais miseráveis não conseguem atender a demanda, que não fez mais do que crescer desde o começo do ano passado.
O quadro é tão grave que no mês passado o Congresso aprovou a declaração de um “estado de emergência alimentar”, que na prática significou aumentar os fundos destinados aos refeitórios populares.
Dados oficiais do governo mostram que 37 dos 59 produtos que integram a cesta básica tiveram seus preços elevados bem acima da inflação.
O impacto disso tudo sobre os mais pobres é tremendo. Se a classe média foi fortemente abalada pelo desmoronamento da economia provocado pelo governo Macri, os que sobrevivem na faixa da pobreza sofreram e sofrem muitíssimo mais.
Outro drama enfrentado pelos pobres é a questão da moradia. Em Buenos Aires existem hoje mais de mil e duzentas favelas, que abrigam uma população de umas 400 mil famílias. Cada uma delas integra as estatísticas de quem mais padece os efeitos do descalabro econômico imposto pelo neoliberalismo fundamentalista de Macri.
Se a esse quadro for acrescentada a disparada nos preços dos serviços públicos, com destaque para as tarifas de luz, água e gás, além do transporte público, a Argentina estaria vivendo na beira de um abismo similar ao que o Chile foi parar.
Aqui só não houve uma explosão popular como a que aconteceu no Equador e acontece hoje no Chile porque domingo haverá eleições. E as urnas se encarregarão de catapultar Macri para longe, bem longe.
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