Moralismo autoritário

Num futuro próximo, a sociedade perceberá com mais clareza a verdade do supostamente virtuoso magistrado de Maringá e do MPF, todos representantes e milicianos de uma direita que sai do armário disposta a tomar o que não consegue ganhar democraticamente

São Paulo - Polícia Federal chega a construtora Odebrecht na 23ª fase da Operação Lava Jato( Rovena Rosa/Agência Brasil)
São Paulo - Polícia Federal chega a construtora Odebrecht na 23ª fase da Operação Lava Jato( Rovena Rosa/Agência Brasil) (Foto: Pedro Maciel)


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“A pior ditadura é a ditadura do Poder Judiciário. Contra ela, não há a quem recorrer.”

Rui Barbosa

 

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Há questão das mais relevantes que merece nossa atenção: o autoritarismo revelado nas ações da operação Lava-Jato.

O autoritarismo está mais presente do que alguns incautos imaginam. Mudou de forma apenas. Se antes ele era facilmente identificado, pois usava farda e fazia ordem unida. hoje o autoritarismo, de toga, se manifesta de forma dissimulada, está presente na atuação de juízes, delegados de polícia, auditores fiscais e promotores de justiça, trata-se de um autoritarismo hipócrita que se escuda no moralismo lacerdista, nas verdades de herdeiros da UDN golpista e que teimam em não abrir caminho para conservadores democratas.

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Vivemos um novo autoritarismo, muito perigoso porque são inimigos das liberdades e dos direitos fundamentais os representantes da lei.  E cometem barbaridades, ignoram a lei, os costumes e a constituição em nome de um summum bonum, ou seja, em nome de um “bem maior” definido por sua ideologia e não pela supremacia da lei. Todos serão julgados pela História, como o que são: canalhas abjetos e autoritários

O que fazem os moralistas autoritários é verdadeira a relativização do Estado de Direito, o que é inadmissível e causa enorme indignação em todos que não são cooptáveis pela mídia e pelos panfletos ideológicos travestidos de noticias; relativizam o Direito Penal e o Direito Processual Penal quando baseiam sua ação pseudo justa no desprezo à presunção de inocência e determinam a prisão de suspeitos antes de culpa formada; o encarceramento para constrangendo-os forçá-los a delatar os outros; e, moralistas hipócritas, vazam seletivamente informações para conquistar e formar a opinião pública; destroem, sem dor na consciência, a fé da sociedade nela própria e nas instituições, o que revela viés autoritário indesejado e de efeito destruidor.

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Esse moralismo autoritário desnuda um vínculo existente entre o Poder Judiciário e os setores mais conservadores do Brasil, o pessoal que conduziu Getúlio ao suicídio, perseguiu JK, forçou a renuncia de Jânio e patrocinou dois golpes em Jango, além de apoiar a ditadura civil-militar brasileira instaurada com o golpe de 1964.

Há, como já escrevi aqui no 247, uma relação de lealdade e de nepotismo entre o Judiciário e esses setores, trata-se de uma verdade inconveniente. Há, de forma induvidosa, um esforço de parcela do Poder Judiciário, do MPF e das Policias em fornecer elementos de destruição de todo um setor representativo da política do país, sempre com diligente apoio da mesma imprensa que em 1964 comemorou a deposição de Jango.

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Há omissão da maioria dos magistrados, do MP e da imprensa em relação às graves violações de direitos em curso. Essa omissão, que grandemente colaborou para a sua perenidade, impunidade e institucionalização da violência no Brasil nos anos de chumbo, conduz a nação ao abismo e a um salto em direção ao autoritarismo.

Os moralistas autoritários de Curitiba, por exemplo, apesar de terem sua ação partidarizada e ideologizada (são alinhados à oposição) acreditam que representam fielmente o justo, mas a aplicam de forma repressiva em razão das suas visões de mundo, suas decisões não são isentos.

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Acredito que muito se deve ao fato de que dos três poderes clássicos do Estado Democrático de Direito apenas o Judiciário não é essencialmente democrático, já que não é submetido ao escrutínio do “demos” (povo) na definição de seu acesso, composição, promoção e acesso às funções de direção dos tribunais, e em pleno século XXI merece reflexão. Há um viés aristocrático na forma de acesso dos juízes à carreira que os conduz a posturas autoritárias. Acredito que as promoções de juiz substituto para juiz titular de 1ª, 2ª, 3ª entrâncias e entrância especial e depois para desembargador poderiam ocorrer através de outros concursos públicos ou através de eleições. Não sendo realizado esse debate estaremos apenas reproduzindo a lógica aristocrática de natureza essencialmente elitista e de viés autoritário.

Jurisdição é prerrogativa dos membros do Poder Judiciário. Recupero o conceito de jurisdição porque acredito que a hiperconcentração de poder e legitimidade no Poder Judiciário esvazia mais do que os demais Poderes, esvazia o necessário movimento e envolvimento da sociedade civil nas questões políticas e cidadãs.

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E recupero o conceito também porque acredito que o centro de gravidade do desenvolvimento jurídico não está propriamente na legislação, na burocracia, na ciência do direito ou na jurisprudência, mas na sociedade mesma. 

Há na sociedade – entre a ação humana e as estruturas sociais – uma tensão contínua, pois na primeira a diversidade se contrapõe à unidade da segunda. E as estruturas e instituições nada mais são que artefatos humanos cabendo ao Direito harmonizar a tensão entre ação humana e estruturas sociais, assim como compatibilizar diversidade e unidade. Tanto isso é verdade que podemos afirmar que as estruturas e instituições transformam-se continuamente.

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Há quem afirme também que não há boa intenção na atuação do pessoal de Curitiba, que eles não combatem os crimes contra os cofres públicos, como sugere a mídia, a verdade seria que o extremado moralismo autoritário, que só ilude os cidadãos incautos, está a serviço da política partidária.

Num futuro próximo, a sociedade perceberá com mais clareza a verdade do supostamente virtuoso magistrado de Maringá e do MPF, todos representantes e milicianos de uma direita que sai do armário disposta a tomar o que não consegue ganhar democraticamente. 

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