Ministro Alexandre Padilha erra ao apoiar a substituição de Daniela Carneiro pelo bolsonarista Celso Sabino
"Seria a consagração do desatino como estratégia e o atestado final da incapacidade do ministro Alexandre Padilha de avançar na articulação", aponta
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A substituição da deputada Daniela Carneiro pelo bolsonarista Celso Sabino no comando do Ministério do Turismo, solicitada por Luciano Bivar at caterva, seria a consagração do desatino como estratégia e o atestado final da incapacidade do ministro Alexandre Padilha de avançar na articulação política com vistas à ampliação da base governamental.
Dos três ministérios ocupados por representantes do União Brasil, o único em que a titular participou efetivamente da campanha do presidente Lula é o do Turismo. Ao lado do marido, o prefeito Waguinho, Daniela promoveu manifestações de enorme adesão popular na ruas de Belford Roxo. Fez da cidade um contraponto ao bolsonarismo hegemônico na Baixada Fluminense.
Ainda que o resultado do pleito tenha sido adverso, criou-se ali um bastião de defesa do candidato petista, encrustado em território dominado pelo adversário. O movimento teve efeito simbólico em todo o estado do Rio, pois representou o início da corrosão do bolsonarismo na região. Plantou-se ali, na aridez de um terreno controlado pelo inimigo, bases de resistência democrática.
Se o objetivo do ministro Padilha é efetivamente conquistar o apoio da bancada do União, que em votações recentes permaneceu onde sempre esteve: na oposição, por que razão resolveu dar curso às negociações usando como moeda de troca a única integrante do grupo que efetivamente apoiou o presidente Lula? Contrassenso e ingratidão contaminam esse processo.
Além do Turismo, o União detém outras duas pastas: Comunicações, comandada pelo polêmico Juscelino Filho (MA), colecionador de suspeições, entre as quais o desvio de verba de emenda parlamentar; e Desenvolvimento Regional, chefiada por Waldez Góes, apaniguado do senador David Alcolumbre.
A despeito da vulnerabilidade ética de Juscelino e da restrita densidade eleitoral do amapaense Waldez, tenta-se desalojar do ministério a deputada federal mais votada do Rio de Janeiro, o segundo mais importante estado da federação, berço político do líder da oposição, Jair Bolsonaro. Fragiliza-se, assim, um dos mais importantes núcleos de apoio a Lula em território fluminense.
A situação mostra-se ainda mais grave diante do perfil do pretenso substituto. O deputado Celso Sabino é um bolsonarista de quatro costados. Não só apoiou o ex-presidente na tentativa frustrada de reeleição, como atuou em defesa das práticas mais abomináveis da súcia comandada por Bolsonaro. É dele, por exemplo, a autoria da “Pec da Impunidade”, apresentada com o propósito de impedir a prisão do deputado Daniel Silveira – o mais simbólico representante da malta que fez do ódio e do ataque às instituições um princípio de ação política.
A construção de maiorias exige, em determinados momentos, posições invertebradas, ideologicamente flexíveis, especialmente num parlamento tão fragmentado como o nosso. Contudo, há que ter algum limite ou mesmo pudor nesta tarefa. A subversão absoluta da coerência não parece ser o critério mais adequado.
Daniela Carneiro é uma das 11 mulheres dos 37 ministérios do presidente Lula. Evangélica, é a única representante da política fluminense no primeiro escalão. Seu desempenho à frente da Pasta tem sido reconhecido no governo e por representantes do trade do setor. Não, portanto, razões objetivas para a mudança.
Articulada pelo União Brasil, com aval do ministro Alexandre Padilha, sua eventual substituição configuraria um repositório de erros políticos: desagrada ao Rio, fragiliza ainda mais a posição de Lula junto aos evangélicos e traz desapontamento pela incoerência e ingratidão que encerra.
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