Militares: o mal-estar de quem pode pagar a conta
A jornalista Helena Chagas, do Jornalistas pela Democracia, avalia que integrantes da ala militar do governo não deverão falar mal da escolha de Abraham Weintraub para o MEC, apesar da derrota para o núcleo olavista; "Não há hoje qualquer sombra de articulação concreta dos militares para puxar o tapete de Bolsonaro, ou de alguma aliança com os políticos, sem os quais nada seria possível, com esse objetivo. O mal-estar verde-oliva, porém, pode vir a ser um ingrediente de uma fermentação maior no futuro, envolvendo todas as forças interessadas, caso o governo continue fracassando na gestão e na economia"
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Por Helena Chagas, no Divergentes e para o Jornalistas pela Democracia
Não veremos, ao menos no curto prazo, qualquer integrante da ala militar do governo falar mal da escolha de Abraham Weintraub para o MEC – até porque alguns deles têm boas relações pessoais com o economista, cultivadas nos tempos da campanha eleitoral. É evidente, porém, que os militares perderam a rodada mais recente do campeonato. Weintraub não é uma "olavete" indicada pelo guru Olavo de Carvalho, mas é um "olavista" que teve seu nome por ele chancelado e representará, na Educação, a ala ideológica do governo. O entorno militar de Bolsonaro, cuja prioridade tem sido "desolavizar" o Planalto e a Esplanada, não ficou feliz.
Afinal, os militares têm sido saco de pancada permanente de Olavo de Carvalho, que ora bate no vice Hamilton Mourão, ora no ministro Santos Cruz – este, sim, da copa e da cozinha do Planalto. O fato de o presidente da República dar a Olavo o papel decisivo de aprovar a nova nomeação do MEC é, sim, o que parece: desprestígio da ala militar.
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Não se sabe no que isso resultará. Todos os interlocutores da turma verde-oliva que cerca Bolsonaro são unânimes em assegurar que os generais do governo são absolutamente leais ao presidente – inclusive Hamilton Mourão, que vem provocando tititi com sua movimentação para mostrar que é capaz e viável como eventual substituto mas que, até agora, nas ações, vem sempre chutando a bola para dentro.
Não há hoje, portanto, qualquer sombra de articulação concreta dos militares para puxar o tapete de Bolsonaro, ou de alguma aliança com os políticos, sem os quais nada seria possível, com esse objetivo. O mal-estar verde-oliva, porém, pode vir a ser um ingrediente de uma fermentação maior no futuro, envolvendo todas as forças interessadas, caso o governo continue fracassando na gestão e na economia.
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Por isso, é bom que o escanteamento militar no episódio MEC – que vai ficar claro, gritante, se Weintraub demitir o secretário-executivo da pasta brigadeiro Ricardo Machado – seja lido junto com o recado dado por Mourão no último domingo, em Harvard, a uma platéia que o aplaudiu fortemente. Disse o vice: "Se o nosso governo falhar, errar demais, não entregar o que está prometendo, essa conta irá para as Forças Armadas. Daí a nossa extrema preocupação".
Na superfície, Mourão parece ter dito que os militares não podem deixar esse governo dar errado, o que é razoável. Um pouco abaixo dela, porém, dá para imaginar muita coisa. E se, mesmo assim, der errado?
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