Militares golpistas entram em cena

"Não houve uma tentativa de golpe ainda, mas os oficiais das FFAA voltam a se projetar como agentes políticos de solução militar da crise atual, projetando o fantasma da imposição de novo de um regime de terror sobre a sociedade. É hora de cortar o mal pela raiz, de bloquear a difusão desse clima de ameaças golpistas de novo na sociedade, no momento em que a direita fica inerte diante do governo corrupto que ela instalou e se sente ameaçada pelo apoio popular do Lula", afirma o colunista do 247, Emir Sader

Augusto Heleno e Mourão
Augusto Heleno e Mourão (Foto: Emir Sader)


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Sempre houve vozes dentro das FFAA reivindicando o que fizeram no passado e atualizando seu direitos de intervir na vida politica do País. Sempre foram vozes mais ou menos isoladas, expressando o mesmo tipo de radicalização violenta que existe hoje em setores da sociedade brasileira.

O que trouxe de novo esta manifestação golpista é que se trata de um general da ativa e que busca justificar uma nova intervenção golpista das FFAA. Alega que, se o Judiciário não resolver o problema de políticos que teriam cometido ilegalidades, restaria às FFAA intervir de novo.

O novo também foi a ausência total de punição ou sequer de reprimendas e, pior, o comandante do Exército não apenas diz que o general golpista não será punido, como alega que “as FFAA têm mandato para fazer (uma intervenção militar) na iminência de um caos”. Uma justificativa idêntica à que levou, em 1964, as FFAA a romperem com a democracia e instaurarem a mais brutal ditadura que o País já conheceu, violando os direitos humanos, destruindo tudo o que tivesse que ver com democracia, executando a acusados, desenvolvendo a tortura como método sistemático de interrogatório. Foram condenados pela democracia, a Comissão da Verdade trouxe à tona uma parte das barbaridades cometidas pelas FFAA, que nunca reconheceram, no entanto, as monstruosidades que cometeram, nem puniram os responsáveis por elas.

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Quando o governo imposto pelo golpe produz um caos no País, tanto econômico, como político e institucional; quando a direita fica sem
saída institucional para dar continuidade ao golpe; quando a reação popular é de condenação ao golpe e a seus projetos antipopulares; quando surge a perspectiva concreta de um resgate do direito do povo decidir sobre seu destino e essa via aponta para a vitória do Lula. Quando acontece tudo isso, retornam vozes soturnas da caserna – e da caverna -, ameaçando o País com um novo golpe militar.

O comandante do Exército faz uma interpretação completamente arrevezada da Constituição, para alegar que teriam o direito de intervenção, em caso de caos. Caos que seria definido pelos próprios militares, como momento de intervenção. Se reivindicam assim o direito de tutela sobre a democracia e sobre o povo brasileiro. Este, incapaz, segundo os golpistas, de resolver os problemas do País – porque privado dessa possibilidade pelo golpe atual -, deixaria nas mãos dos militares golpistas “restabelecer a ordem no País”.

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Ordem que seria restabelecida com a ponta dos fuzis e o movimento dos tanques, destruindo o que ainda sobrevive de democracia no Brasil de hoje e impondo de novo o regime de terror que só envergonhou o País no passado.

Esse comandante tem que ser chamado ao Parlamento, para revelar de onde ele tirou essa interpretação da Constituição, porque ele não pune e ainda legitima o general golpista e, no caso dos esclarecimentos não serem suficientes, o Congresso deve pedir a imediata exoneração desse oficial, que não honra o juramento de defesa da Constituição.

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Não houve uma tentativa de golpe ainda, mas os oficiais das FFAA voltam a se projetar como agentes políticos de solução militar da crise atual, projetando o fantasma da imposição de novo de um regime de terror sobre a sociedade. É hora de cortar o mal pela raiz, de bloquear a difusão desse clima de ameaças golpistas de novo na sociedade, no momento em que a direita fica inerte diante do governo corrupto que ela instalou e se sente ameaçada pelo apoio popular do Lula.

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