Midia training de Moraes é mais um insulto à memória de Teori
Alguém teria de avisar Alexandre de Moraes que seus pontos de vista têm de ser expostos na sabatina oficial e não previamente. Não se trata de um vestibular ou de um Enem, mas da mais alta corte da Justiça de nosso país
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Desde o dia em que Temer anunciou seu nome à vaga de Teori Zavascki no STF, Alexandre de Moraes revelou que passaria a manter encontros com aqueles que teriam a missão de aprová-lo ou não, quebrando o decoro que deveria nortear o processo.
Mas ele não se limitou a isso, o que já seria vergonhoso e incompatível, ao revelar uma proximidade indesejável entre candidato e seus eleitores.
Ele foi além. Submeteu-se a uma sessão de mídia-training a bordo do barco do senador Wilder Moraes (PP-GO) ancorado no Lago Paranoá, fato que ele próprio confirmou, ressaltando, porém não saber que o local seria um barco. Não achou estranho o teor da reunião, mas o local. Em nota com crassos erros gramaticais que não se espera de um jurista com notório saber justificou-se:
"Fui convidado para expor meus pontos de vista em reunião com dez senadores. A reunião foi agendada no endereço QL 22 Conj 10 casa 20. Compareci e fui surpreendido que a reunião ocorresse em um barco atracado nessa residência. Tivemos uma conversa séria e respeitosa, assim como venho fazendo em todas reuniões com os demais Senadores".
Alguém teria de avisá-lo que seus pontos de vista têm de ser expostos na sabatina oficial e não previamente. Não se trata de um vestibular ou de um Enem, mas da mais alta corte da Justiça de nosso país.
Os temas para os quais ensaiou respostas e que vazaram disseram respeito à sua atuação como advogado do ex-deputado Eduardo Cunha e de uma cooperativa de ônibus que tinha ligações com o PCC, duas pedras em seu caminho.
Nem os senadores que se reuniram com ele, escondidos a bordo ou em qualquer outro local público, nem o indicado de Temer respeitaram a liturgia que sempre cercou episódios em que um novo ministro do STF seria submetido à avaliação do Senado, pois deveriam manter distância do candidato se queriam que a sua avaliação fosse considerada isenta.
Nenhum indicado ao mais alto escalão da Justiça brasileira ofereceu tantos sinais de que não tem as mínimas condições necessárias para atuar com notório saber jurídico, sobriedade e imparcialidade.
Jamais um candidato se deixou submeter a uma sabatina prévia, como se fosse um estudante sendo preparado para um exame decisivo.
A necessidade de sabatina prévia mostra o quanto os senadores estão preocupados com o desempenho de Moraes diante da CCJ, com transmissão ao vivo pela TV, não por temer avalizar uma escolha equivocada e ofender os brasileiros e a Justiça, mas por temer contrariar o presidente da República e arcar com as consequências de uma manobra mal- sucedida.
Todos já sabiam que a sabatina será um jogo de cartas marcadas e não de avaliação isenta da biografia e das ideias do indicado, muitas das quais, como foi noticiado, plagiadas alhures, o que agora ficou mais evidente ainda. Mas escancarar o toma-lá-dá-cá chega a ser um insulto à memória de Teori.
Os aliados de Temer, embora amparados em folgada maioria de votos na CCJ e no plenário, já se deram conta de que, quanto mais a sua candidatura fica exposta à chuva, mais se desidrata e se decompõe. Tentam antecipar a sua exposição para evitar o seu desmascaramento total e completo.
Tão lamentável é o conjunto da obra de Moraes que já afloram suspeitas de que foi contemplado por ter conhecido segredos incômodos de Temer ao prender um hacker que invadiu o celular da primeira-dama, investigado num processo que corre em segredo de justiça. E não por suas qualidades de jurista.
Last but not least: Moraes é um homem que nunca sorri.
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