Meu caro Herman
Valorizo muito a escola pública, pois foi aí que estudei toda minha vida. Hoje a desmotivação de alunos e professores na educação básica é notória
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Saudades dos tempos em que buscávamos soluções para resíduos agrícolas na forma de compósitos com polímeros e estudávamos suas propriedades. Você até cogitou de eu coordenar um projeto temático nessa área com outros colegas do Estado, o que infelizmente não logramos. Mesmo quando você já estava comprometido como Vice-Reitor da Unesp, não deixou de participar de nossas bancas examinadoras de pós-graduação em Lorena e fazia os convites para colaborarmos em seus projetos na vizinha Guaratinguetá, também avaliando seus alunos.
Depois, já Reitor, nos esbarramos no aeroporto de Guarulhos, você indo participar de evento internacional para valorizar e promover as Universidades Públicas Brasileiras e eu muito satisfeito por participar de um congresso científico na área de biocombustíveis nos Estados Unidos.
Ao longo desses anos, quando você foi conduzido à posição de Secretário Estadual de Educação, eu sempre comentei que “meu amigo Secretário é da área; se vai conseguir solucionar problemas já consolidados que se arrastam por décadas, eu não sei”. Nossa amizade baseada no trabalho científico nunca levou em consideração nossas divergências políticas. Assim continuamos a ser. Ao longo de sua atuação no primeiro mandato do Governador Alckmin, sequer ouvia-se ou lia-se o seu nome. Eu, missivista contumaz e crítico da gestão dos tucanos, tanto na esfera federal (no passado) e estadual (de um presente já de longuíssima data), também não expressei uma linha contrária a sua atuação ou citei seu nome. A exceção aconteceu há vinte dias, quando aparentemente sua saída da atual gestão já estava consumada e você expressou sua franqueza ao sentir-se decepcionado com a qualidade da educação no Estado. A Folha de S. Paulo publicou uma carta minha no Painel do Leitor, na qual eu mencionei esse fato.
Meu caro Herman, eu tenho dúvidas se é funcional a proposta de reorganização que ocasionou esse atual desgaste e culminou na sua saída da Pasta. De qualquer forma, faltou o diálogo, tão comum quando nos debruçamos sobre projetos científicos de interesse social, nos quais divergências de concepções são canalizadas para uma proposta comum que contemple a maioria dos anseios dos que ali atuarão. No plano educacional faltou fundamentalmente isso. Sem contar que medida semelhante já fora tentada por sua antecessora Rose Neubauer no governo Covas, sem sucesso. Resgatar essa história poderia ter sido valiosa para não se repetir os mesmo erros e entraves de mais de 15 anos atrás.
Valorizo muito a escola pública, pois foi aí que estudei toda minha vida. Hoje a desmotivação de alunos e professores na educação básica é notória. Além disso, uma colega de Piracicaba estava agoniada porque após quase 30 anos de atuação como professora em duas escolas públicas, com a reorganização, teria de assumir uma carga horária de trabalho reduzida para um terço da atual, o que impactaria diretamente nos vencimentos da aposentadoria que se aproxima. Veja só o dilema de alguém que, contrariamente a mim, sempre apoiou a atual gestão estadual por meio do voto.
Por fim, Herman, saiba que sua biografia não será maculada pela atuação ao longo desses cinco anos, nem pela sábia decisão de se desligar da atual gestão. Não sei se voltará à pesquisa e à docência, mas aproveito para informar que os equipamentos arduamente adquiridos no projeto que coordenei finalmente serão alocados em seu departamento para a continuidade daqueles trabalhos de pesquisa científica.
Ficam aqui meu abraço e minha admiração.
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