Meu aniversário
O texto de aniversário do jornalista e escritor Eric Nepomuceno, que completa, hoje, 74 anos
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Nesta quarta-feira, 22 de junho, chego aos meus 74 anos. Há muito tempo digo, e repito aqui, que a vida não me deve nada.
Convivi muito de perto com algumas das melhores cabeças do meu tempo, a começar por Darcy Ribeiro. Tive e tenho amigos de primeira grandeza, a mesma companheira há 51 anos e cinco meses e sete dias, um filho magnífico.
Soube sobreviver à perdas infinitas, de meu pai e amigos da alma. Em meus tempos de repórter saí ileso de cobrir guerrilha urbana em várias cidades da Argentina (de 1973 a 1976) e guerras civis (de 1977 a 1983) no deserto do Saara e na América Central.
Passei por dois exílios, o primeiro involuntário (saí do Brasil porque quis, e em Buenos Aires comecei a publicar, na imprensa local, denúncias contra a nossa ditadura; com isso, passei a não poder voltar) e o segundo, mais do que exílio, foi literalmente fuga (de Buenos Aires e da ditadura do general Jorge Rafael Videla, em agosto de 1976).
Tem sido, sim, uma vida especialmente intensa – e, insisto, que não me deve nada, absolutamente nada.
O que eu jamais supus, nem nos momentos de mais bruma, é que chegaria a esta idade vendo meu país do jeito que está.
Essa decadência feroz começou, convém não esquecer jamais, com o golpe institucional que instalou na presidência um larápio calhorda chamado Michel Temer. A ele devemos o desmonte da Petrobrás e a atual política de preços, que faz com que o que é produzido em reais seja pago em dólares.
E aí veio o passo seguinte, a maior e mais abjeta catástrofe da história da República brasileira.
Por mais que me esforce não consigo entender como é que um esperpento como Jair Messias foi eleito presidente.
Sim, sim, entendo que desde o golpe militar do primeiro de abril de 1964 a primeira coisa a ser destruída foi a educação. Com isso, temos gerações e gerações de brasileiros mergulhados na mais profunda ignorância, e em todos os sentidos: da ignorância política à ignorância sobre a realidade vivida pelo nosso país.
Sei perfeitamente o tamanho do dano causado ao Brasil por um juizeco provinciano e desonesto chamado Sérgio Moro. E que esse dano foi plenamente reforçado pela demonização da política e dos políticos graças à ação dos grandes meios de comunicação, dos donos do dinheiro, dos militares e do comportamento omisso e poltrão do Supremo Tribunal Federal, que levou sei lá quantos anos para chegar à conclusão óbvia: todo o julgamento e a prisão de Lula foi uma empulhação que ajudou, e muito, a eleger Jair Messias.
Mas ainda assim não consigo acabar de entender como chegamos onde estamos. Sei bem que temos o pior Congresso em décadas, impregnado de boçalidades eleitas na esteira de Jair Messias. Sei perfeitamente que parte considerável dessa imundície será reeleita.
Sei tudo isso, entendo tudo isso, mas uma questão continua me sufocando a alma: como é que ainda tem gente, e é muita gente, que vai votar de novo nesse bandoleiro ladravaz?
O Brasil de 2023 será um amontoado de poeira da ruína que será deixada por Jair Messias. Por onde começar a reconstrução?
Guardo na alma uma esperança inoxidável: que assim que deixar a poltrona presidencial Jair Messias seja conduzido a um tribunal para responder à infinidade de crimes que cometeu durante seu imundo mandato.
E essa esperança me ajuda a aguentar o que falta até lá
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