Metamorfose ambulante do general. Triunfo do Consenso de Washington

Dois anos depois do golpe parlamentar-jurídico-midiático, o general nacionalista se rende ao discurso do Consenso de Washington de que o principal problema nacional não é a desigualdade social, mas a corrupção entranhada no Estado nacional, que justifica a desnacionalização comandada por Temer

Dois anos depois do golpe parlamentar-jurídico-midiático, o general nacionalista se rende ao discurso do Consenso de Washington de que o principal problema nacional não é a desigualdade social, mas a corrupção entranhada no Estado nacional, que justifica a desnacionalização comandada por Temer
Dois anos depois do golpe parlamentar-jurídico-midiático, o general nacionalista se rende ao discurso do Consenso de Washington de que o principal problema nacional não é a desigualdade social, mas a corrupção entranhada no Estado nacional, que justifica a desnacionalização comandada por Temer (Foto: César Fonseca)


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Há dois anos, véspera do golpe do impeachment, que derrubou presidenta eleita com 54 milhões de votos, sem crime de responsabilidade para caracterizá-lo, o general Eduardo Villas Boas, comandante do Exército, dizia, em palestra no Ceub, que o grande problema brasileiro era a especulação financeira, que destrói a nação.

Defendia, com energia, o nacionalismo econômico, capaz de resgatar o País da crise, criando empregos, renda, produção, estabilidade política e democracia.

Promover indústria brasileira, a partir de visão nacionalista, para fortalecer defesa do país, representaria, para o general, opção desenvolvimentista, um dos principais carros-chefe da economia.

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Relacionava os gastos com defesa ao multiplicador keynesiano desenvolvimentista, a exemplo do que acontece nos países capitalistas desenvolvidos, especialmente, Estados Unidos.

Nada mais nacionalista.

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Destacava que o pouco apego à defesa das ideias nacionalistas, no Brasil, decorria de formação histórica preconceituosa.

"Preferimos elogiar o nacionalismo dos outros, enquanto condenamos o nosso."

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Lembrava que a estabilidade política requer prioridade ao desenvolvimento nacionalista, maior instrumento para garantir soberania nacional.

Certamente, vocalizava as conquistas que, nos governos Lula e Dilma, as forças armadas, pela primeira vez na história, alcançaram, com aprovação, no Congresso, em 2005 e 2007, do Programa Nacional de Defesa(PNE) e da Estratégia de Defesa Nacional(EDN), respectivamente.

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Ali estão, praticamente, consignados os sonhos dos militares brasileiros de possuir programa nacionalista de desenvolvimento econômico a partir do multiplicador de Keynes, produzido por meio da indústria de defesa.

Era o que os generais, Geisel, à frente, defendiam, quando no poder, para irritação das potências imperialistas, contrárias à afirmação de verdadeira geopolítica brasileira, no contexto global.

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Villas Boas fechava, naquela ocasião, com o conceito de segurança nacional moderno, desenvolvido pela Escola de Copenhague, o qual está intimamente ligado à manutenção do emprego, da renda, da educação, da saúde e da preservação ambiental.

Segurança nacional é desenvolvimento nacional sustentável.

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A soberania nacional, portanto, requer desenvolvimento econômico nacionalista com justa distribuição da renda, o que não ocorre com economia dominada pela especulação financeira, cujo propósito essencial descarta o social em favor do meramente econômico-financeiro, comprometido com a concentração absurda da renda.

Ou seja, para o general, o maior problema nacional era a desigualdade social decorrente de opção econômica equivocada, invertida pela prioridade concedida à especulação.

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Rendição a Tio Sam

Agora, ele fala outra coisa.

Cala-se diante da estratégia neoliberal de Temer/Meirelles/Guardia, sintonizada com o Consenso de Washington, que acelera desmobilização das bases econômicas desenvolvimentistas, como Petrobrás, Eletrobras etc, bem como da supressão de direitos e garantias dos trabalhadores asseguradas na Constituição.

Passados dois anos de sua pregação aos universitários, quando rolava golpe parlamentar-jurídico-midiático, que colocou o país em estado de exceção, conforme denunciam juristas nacionais e internacionais, o problema maior, não é mais a desigualdade social, a especulação financeira, concentradora de renda, mas a corrupção.

Vocaliza o mesmo discurso do vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pense, pronunciado, semana retrasada, em Lima, Peru, durante reunião dos presidentes das Américas, para alinhar pensamento continental às diretrizes de Tio Sam.

A corrupção, que se alastra na América do Sul, do ponto de vista ideológico de Washington, do governo Trump, das suas agências financeiras – FMI, Banco Mundial, BID etc – está centrada no estado nacional.

Muito ativo na economia, tal estado, segundo Tio Sam, precisa, urgentemente, desfazer dos seus ativos produtivos e financeiros (Petrobrás, Eletrobras, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal etc), como a forma de combater a corrupção.

Mas não foi com esse Estado, assim articulado, que o Brasil virou sétima potência mundial, e que, com o golpe neoliberal, desarmado, volta-se à condição de colônia, pré revolução de 1930?

Não é à toa, portanto, a articulação do departamento de justiça dos Estados Unidos, FBI e CIA, com o Ministério da Justiça brasileiro e suas ramificações na PGR, Polícia Federal, na produção da Operação Lavajato, para acelerar espionagem geral sobre o governo Dilma, Petrobrás, Congresso etc.

Ou foi algo extemporâneo, desarticulado, tanto o golpe de 2016, como, agora, a prisão de Lula, impedido de candidatar-se à eleição de 2018, os responsáveis pela quadrilha criminosa que transformou o estado brasileiro no centro da corrupção nacional, como destaca o discurso de Washington, para pautar o poder midiático oligopolizado tupiniquim?

Mas, o estado enxuto, como prega Washington às colônias aliadas( visto que vê a América do Sul como quintal norte-americano), representaria, realmente, ataque à corrupção ou concessão de benesses aos gringos?

Armou-se, dessa forma, o raciocínio lógico imperial.

Estado enxuto neoliberal, segundo esse conceito, como arma de combater corrupção, não pode capitalizar suas empresas, que, descapitalizadas, precisam ser vendidas.

Olhaí a Eletrobras: patrimônio de R$ 400 bilhões, sendo liquidado por R$ 12 bilhões!

Doação!

Seria a melhor forma de combater a corrupção, desmontar o estado nacional, liquidando suas bases de alavancagem desenvolvimentista?

Reforçaria ou não o modelo especulativo no lugar do modelo desenvolvimentista, na medida em que se enxuga o Estado desativando setores que geram renda disponível para o consumo, para favorecer especuladores do mercado financeiro?

Não seria essa lógica promoção da própria corrupção?

Desarma-se, no Brasil, com o golpe neoliberal washingtoniano de 2016, o agente desenvolvimentista que anima o capitalismo mundial, no século 20, desde a crise de 1929, a partir da maior potência econômica, os próprios Estados Unidos, empenhados, agora, em recomendar aos outros o que não pratica para si mesmo.

Como combater a corrupção por uma classe política que derrubou governo democrático cuja orientação destrói o Estado em sua capacidade de promover o que o general julga essencial para garantir soberania nacional?

Metamorfose brataquiana

Verifica-se, claramente, que o general Villas Boas adota, dois anos após o golpe parlamentar-jurídico-midiático, dois discursos, completamente, divergentes e contraditórios.

O nacionalismo, que defendeu no Ceub, é, inteiramente, incompatível com o discurso, orientado por Washington, de combate à corrupção, para desarmar o estado nacional, sem o qual a estabilidade econômica e política pregada por ele torna-se, praticamente, impossível.

Por que a metamorfose brataquiana do general Villas Boas?

Ocorreu ou não pixotagem do PT na relação política com os generais?

Dilma Rousseff e seu voluntarismo explicam ou não?

No auge da crise, em que se armava a sua derrubada, no Congresso, ela, em 19 de abril de 2016, não compareceu ao desfile militar do Exército, no Forte Apache.

Mandou representá-la o ministro da Defesa, Aldo Rebelo, com o qual o general Villas Boas, como disse aos estudantes, no Ceub, convivia muito bem, apesar de ser comunista.

Não teria sido a hora exata para ela buscar apoio dos militares contra o golpe antinacional que os congressistas preparavam?

Que teria acontecido, se Dilma colocasse, no Ministério da Defesa, o general nacionalista Villas Boas, respeitado entre seus pares?

Outra jogada errada de Dilma: desprestigiou os militares com extinção do Gabinete de Segurança Institucional(GSI).

Foi ou não a gota d'agua, para afastá-los do seu governo?

O que fez o ilegítimo Temer, na primeira hora que assumiu, depois do golpe?

Recriou o GSI e colocou, para comandá-lo, o general Etchgoyan, ala direitista do Exército, contrapolo da posição nacionalista do general Villas Boas, que se viu, naturalmente, esvaziado.

Dois anos depois do golpe parlamentar-jurídico-midiático, o general nacionalista se rende ao discurso do Consenso de Washington de que o principal problema nacional não é a desigualdade social, que ele identificou avançar com o país sucateado pela especulação financeira, mas a corrupção entranhada no Estado nacional, que justifica a desnacionalização comandada por Temer, tendo ao lado um general de direita.

O Consenso de Washington triunfou.

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