Mesmo expressivos, atos não anulam jogo político
Para Tereza Cruvinel, colunista do 247, manifestações deste domingo contra o PT e o governo "foram expressivas, mas não suficientes para encurralar o governo. Não devem ser desprezadas, mas não serão determinantes no curso da crise política"; na avaliação da jornalista, "se conseguir avançar com os movimentos da semana passada, que lhe tiraram do isolamento e proporcionaram mais oxigênio, a presidente Dilma Rousseff pode vencer a crise no jogo institucional, suprimindo qualquer pretexto jurídico para seu impeachment. A melhora da popularidade ficaria para depois, condicionada aos resultados da economia"; "A rejeição de grande parcela da sociedade ao governo, traduzida pelos protestos", acrescenta Tereza, "é um dos elementos da crise, mas não é o único"
✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.
Há pouco o que se discutir sobre o tamanho das manifestações de domingo contra o PT e o governo: foram expressivas mas não suficientes para encurralar o governo. Não devem ser desprezadas mas não serão determinantes no curso da crise política. Se conseguir avançar com os movimentos da semana passada, que lhe tiraram do isolamento e proporcionaram mais oxigênio, a presidente Dilma pode vencer a crise no jogo institucional, suprimindo qualquer pretexto jurídico para seu impeachment. A melhora da popularidade ficaria para depois, condicionada aos resultados da economia.
A rejeição de grande parcela da sociedade ao governo, traduzida pelos protestos, é um dos elementos da crise mas não é o único. Um governo pode enfrentar momentos de impopularidade sem que isso vire crise se sua relação com as instituições da superestrutura política vai bem. Entenda-se por isso partidos, Legislativo, Judiciário, instituições da sociedade civil e mesmo as Forças Armadas. O Congresso é muito sensível ao humor das ruas e as outras instituições também mas, dentro do jogo democrático, não podem adotar soluções extremas apenas para responder aos insatisfeitos.
Dilma começou o segundo mandato enfrentando problemas nas duas frentes. Depois de vencer a disputa de 2014 por estreita margem de votos, decepcionou eleitores com medidas contrárias ao discurso de campanha. Para completar, sobreveio a torrente de denúncias de corrupção da Lava Jato. No jogo institucional, começou sofrendo uma grande derrota com a eleição de Eduardo Cunha para a presidência da Câmara, e com um enorme contencioso na relação com os partidos aliados, fruto de inabilidades palacianas, descumprimento de acordos e a montagem de um ministério que não garantiu a coesão da base aliada. Some-se a isso os maus resultados econômicos e tem-se a crise completa.
Após meses de derrotas no campo institucional, na semana passada o governo conseguiu romper o cerco e arejar a atmosfera política. Uma nova relação com o Senado e seu presidente, Renan Calheiros, fez da Agenda Brasil um ponto de convergência dos que buscam uma saída sem ruptura, e neste grupo estão forças políticas e empresariais que avaliam como nefasto ao país e a seus projetos o custo de um impeachment. O TCU adiou seu parecer sobre as contas, concedendo mais tempo para a defesa do governo, o TSE sustou a tramitação da ação para anular a eleição da chapa Dilma-Temer e o STF decidiu que as contas serão apreciadas em sessão conjunta do Congresso, logo, sob a presidência de Renan Calheiros.
Não deve o governo subestimar os protestos de domingo mas não parece que eles tenham tido força suficiente para neutralizar estas ações anti-crise que estão em curso, a não ser, é claro, que o próprio governo ponha tudo a perder com erros e inabilidades. E isso veremos no correr desta semana pós-protestos.
A irracionalidade dos manifestantes
Além de não terem sido uma avalanche capaz neutralizar o jogo da política, os protestos de domingo continuam carregando suas contradições.
1. Uma delas está no fato de, apesar do apelo de líderes do PSDB, os manifestantes não terem adotado a palavra de ordem “queremos novas eleições”. O mote unificador do movimento foi “impeachment já”, seguido dos “Fora Dilma”, “Fora PT” e outros de menor ressonância. O impeachment, entretanto, exige condições que, até agora pelo menos, não estão criadas. Ainda não existem elementos que enquadrem a presidente em crime de responsabilidade. Em sem isso, pode haver golpe mas não impeachment como remédio constitucional.
2. Outra contradição do movimento anti-Dilma foi revelado pelo Datafolha, em pesquisa realizada durante o protesto de São Paulo. Quem pede o impeachment deve saber que o titular da presidência afastado é substituído pelo vice-presidente, estando ainda na fila, pela ordem, o presidente da Câmara e o do Senado. Aliás, segundo o Datafolha a grande maioria demonstrou saber que Michel Temer seria o substituto natural de Dilma em caso de afastamento dela. Entretanto, a mesma pesquisa apurou que 68% dos entrevistados no protesto rejeitam o vice-presidente (considerando suas ações ruins ou péssimas) e 79% rejeitam o presidente do Senado, Renan Calheiros.
3. Já o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, segundo na linha sucessória, é rejeitado por apenas 43%, na mais clara indicação de que os manifestantes sofrem de indignação seletiva. Poupam Cunha porque ele é adversário de Dilma, assim como pouparam o governador Ivo Sartori em Porto Alegre apesar de seu governo estar sendo um desastre financeiro.
Mas fiquemos com a rejeição a Michel Temer. Se a maioria dos que hoje pedem o impeachment de Dilma o desaprovam, isso pode significar que, se eventualmente empossado, Temer também enfrentará rejeição e protestos. Ou seja, a crise vai continuar, em sua vertente social, não se resolvendo com o afastamento de Dilma.
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:
Este artigo não representa a opinião do Brasil 247 e é de responsabilidade do colunista.
Comentários
Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247