Mercado pressiona Lula para fazer ministro da Fazenda
"'O tal mercado' está fazendo pressão sobre Lula para que nomeie um dos seus e para que a política econômica venha num formato palatável", diz Helena Chagas
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Integrantes daquela entidade denominada mercado estão cansados de saber que Lula não é um irresponsável do ponto de vista fiscal. Sob qualquer ótica, os atos de um sujeito nos oito anos em que foi presidente da República deveriam pesar mais do que palavras mal-encaixadas como a crítica do petista à "tal estabilidade fiscal" nessa quinta. Ainda mais depois das "n" vezes em que o presidente eleito disse ter aprendido com D.Lindu a não gastar mais do que ganhava. E do espaço que ele vem dando ao vice, Geraldo Alckmin, e a seus indicados de perfil centrista na transição.
Não é exatamente pelos temores em torno da trajetória da dívida pública, portanto, que as bolsas rugiram, o dólar trovejou e economistas e comentaristas que já andavam loucos para bater no petista soltaram o verbo. Houve claro exagero nessa reação, e o que está por trás dela é uma espécie de queda-de-braço entre Lula e o mercado.
Na prática, o que "o tal mercado" está fazendo é pressão sobre o presidente eleito. Pressão para que ele nomeie um dos seus - e logo - como ministro da Fazenda e, sobretudo, para que a nova política econômica, ainda em gestação, venha à luz num formato palatável a esses setores.
Depois de indicações para o gabinete de transição bem recebidas por essa turma, como as de Pérsio Arida e André Lara Resende, entraram Nelson Barbosa e Guido Mantega no grupo. Têm tanta legitimidade quanto os demais para estar lá, até porque conhecem profundamente o riscado. Mas são nomes que assustam a turma neoliberal, que também não gostou de a PEC da Transição prever que o gasto de R$ 175 bilhões com o Bolsa Família seja excluído do teto de gastos em bases permanentes.
Outro motivo de insatisfação, inclusive do próprio, é o fato de Henrique Meirelles não ter recebido seu invite para o grupo da transição - numa indicação de que não será mesmo ministro da Fazenda, embora candidato do mercado. Nessa linha, o nome de Fernando Haddad, que circulou na semana como um dos preferidos de Lula, também não foi bem acolhido.
Foi nesse contexto de jogo-de-quem-pisca-primeiro que a turma da Faria Lima resolveu mandar avisos ao navegante Lula - que dificilmente responderá do jeito que eles querem.
O petista pode até ter encaixado mal as palavras sobre estabilidade fiscal, mas na fala desta quinta-feira ele se dirigiu a quem o elegeu: a população mais pobre do país, destinatária de seu compromisso maior no campo social. Lula não seria Lula se não fizesse isso. Seus aliados até esperam agora certa cautela no discurso para não ofender os ouvidos sensíveis do mercado. Mas o presidente eleito está onde sempre esteve.
Lula nunca foi tão Lula, por exemplo, quando chamou economistas de perfis e ideias díspares para a transição - até como cortina de fumaça em relação à política que vai adotar e ao personagem que vai comandá-la, ainda não escolhido. Sinaliza que não vai se atirar ao mar dos gastos incontidos, mas que também não seguirá a cartilha ortodoxa que desconhece a prioridade do combate à pobreza e as questões sociais.
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