Mercado desconfia que Bolsonaro vai rodar e quer rifar logo a Previdência

O cenário é especialmente obscuro. A única certeza nele é a obstinação das classes dominantes e de parte das elites dirigentes em ver aprovado o projeto de reforma da Previdência

Mercado desconfia que Bolsonaro vai rodar e quer rifar logo a Previdência
Mercado desconfia que Bolsonaro vai rodar e quer rifar logo a Previdência (Foto: Adriano Machado - Reuters)


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A novidade desta quinta-feira é o editorial do Globo dizendo que a salvação do país está nas mãos do Congresso, que deve atuar no sentido de uma aprovação rápida das "reformas". Claro, "reformas" significa destruição da Previdência pública. No subtexto pode se entender claramente que O Globo, ou o "mercado", apeou de Jair Bolsonaro, prenunciando uma contagem regressiva para que o país se livre dele. Como ninguém ainda sabe exatamente como isso vai acontecer na prática, o jornal dos Marinho se apressa em preservar os escombros de extrema direita da mais breve, mais incompetente e mais escabrosa administração da história da República.

O ideal para a classe dominante, num momento em que a família Bolsonaro perdeu qualquer noção de dignidade e evidenciou a total incapacidade de governar, é se livrar dele e preservar os elementos do neoliberalismo radical que Paulo Guedes começou a "experimentar" no Brasil. É uma situação confusa, pois ninguém sabe exatamente o que é Hamilton Mourão, o substituto constitucional. Se for um neoliberal tão determinado quanto Guedes, não é difícil prever que vai rodar como Bolsonaro, num segundo momento, tendo em vista a realidade do total fracasso econômico e do emprego que vai se evidenciando em todo o país.

Mas Mourão, como outros generais sem especialização em economia, pode ter feito declarações pró-neoliberalismo por simples cortesia para com o poderoso colega de Ministério. No plano internacional, num contexto de total estupidez prevalecente no Itamaraty e no próprio Planalto, fez declarações ponderadas e alinhadas com a posição tradicional brasileira de não intervenção na soberania de outros países. Somando-se ao posicionamento de outros generais, contribuiu para espantar o espectro de uma absurda guerra com a Venezuela sob comando norte-americano.

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Não tenho a menor simpatia por uma nova rodada de generais de reserva no comando do país, mas o princípio de realidade me diz que, a curto prazo, talvez não tenhamos como escapar de Mourão, caso Bolsonaro se afaste ou seja defenestrado da Presidência por excesso de estupidez ou por sinais de loucura. Parte de nossos amigos quer afastar essa hipótese, clamando por eleições gerais já, mas isso não é realmente uma solução viável ou sem risco, pois os progressistas, entre os quais me incluo, não podem ter certeza de que um candidato deles venha a ganhar eleições extraordinárias.

O cenário é especialmente obscuro. A única certeza nele é a obstinação das classes dominantes e de parte das elites dirigentes em ver aprovado o projeto de reforma da Previdência. Para eles, a cabeça de Bolsonaro bem vale a arrancada para a destruição de mais de cinqüenta anos de políticas sociais no Brasil, desde os anos 30. Ou, no mundo, desde o século XIX, quando o chanceler Bismarck criou a Previdência social na Alemanha. Entretanto, as manifestações de quinta-feira em todo o país, que são o começo de um processo, podem ter apontado ao Congresso o rumo certo a tomar. E O Globo, com seu editorial, fez o que sempre tem feito: ajudou o povo a escolher o lado certo, pois o errado todo mundo sabe que é o do Globo!

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