Médicos furiosos com Dilma podem afundar o PSDB e o DEM

A ameaça que alguns médicos – seguramente não todos e, talvez, não tantos – estão fazendo à presidente da República pode produzir efeito oposto



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Em maio deste ano, o Brasil recebeu um alerta da Organização Mundial de Saúde (OMS): o país tem apenas 17,6 médicos para cada 10 mil pessoas – ou 1,76 médico para cada mil habitantes – e esse número, segundo a organização, é metade do encontrado em países europeus. No Maranhão, por exemplo, teríamos índice comparável aos de Iraque ou Índia.

O número da OMS parece superestimado quando se sabe que o número de médicos em atividade no Brasil chegou a 388.015 em outubro de 2012, segundo registros do Conselho Federal de Medicina (CFM). Contudo, grande parte dos médicos com registro que permite atuarem na profissão, não a exercem.

As estimativas não-oficiais do número de médicos no país giram em torno de 300 mil profissionais atuando regularmente. Pelo critério da OMS, pois, teríamos um número ainda pior: 14,9 médicos por cada 10 mil brasileiros, ou 1,49 por grupos de mil.

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Nos países europeus, por exemplo, o número de médicos beira a três por grupos de mil habitantes.

Em julho último, matéria da revista IstoÉ antecipou a chegada de programa governamental que já vinha em gestação quando a OMS alertou para a situação de extrema carência de médicos no país, sobretudo nas regiões ermas ou nas periferias dos grandes centros urbanos, problema que ameaçava deprimir ainda mais a situação do Desenvolvimento Humano no país.

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O programa Mais Médicos traria milhares de profissionais de saúde para cá de forma a mitigar efetivamente um dos maiores problemas que o Brasil tem na área de saúde: o estudo de medicina é caro, acessível somente para pessoas das classes sociais mais altas, que chegam a ter que se dedicar somente ao estudo durante ao menos 8 anos, sem poder trabalhar.

Programas governamentais como o de cotas nas universidades deverá aumentar, nos próximos anos, a diversificação de classe social e até de etnia entre a classe médica, além de aumentar o número de médicos formados. Contudo, a ampla resistência a uma política que visa popularizar mais uma profissão que se faz imprescindível em qualquer grotão do país vem atrasando a formação de um perfil de médicos que se disponham a ir trabalhar onde os de classe social mais alta não querem.

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Surpreendentemente, os médicos que não se dispõem a ir trabalhar nas regiões desassistidas por esse tipo de profissional – e que são os mais organizados em corporações de classe – passaram a combater furiosamente o novo programa governamental que responderia aos alertas internacionais para a carência de médicos no país.

O nível de irritação da classe médica com o programa do governo federal foi aumentando a níveis antes insuspeitos. Em 31 de julho, quase um mês após a matéria da revista IstoÉ sobre o programa Mais Médicos, o colunista do jornal O Globo Ilimar Franco noticiou no portal daquele veículo uma manifestação impressionante de médicos de Brasília:

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"Um grupo de médicos protestava ontem na frente do Ministério da Saúde contra o programa Mais Médicos, que abre postos de trabalho para médicos estrangeiros. O grito de guerra: "Somos ricos, somos cultos. Fora os imbecis corruptos".

A atitude dos médicos, como era previsível ao usarem o "argumento" de que são "ricos e cultos" fez com que a maioria da população ficasse a favor do que começaram a pregar que fosse repudiado.

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No Ceará, o presidente do Sindicato dos Médicos daquele Estado convocou um protesto contra médicos cubanos então reunidos em um evento do Ministério da Saúde. À saída, os médicos organizados passaram a vaiar seus colegas cubanos chamando-os de "escravos" por parte dos salários deles no Brasil ficar retida pelo governo de seu país.

Confira, aqui, a entrevista que o presidente do Sindicato dos Médicos do Ceará, José Maria Pontes, deu ao Blog à época dos fatos.

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Mais adiante, como parte do enredo, uma jornalista divulgou na internet a surpreendente "opinião" de que as médicas cubanas negras que estavam chegando ao país se pareceriam com "empregadas domésticas". Essa afirmação foi vista como racista e quase gerou denúncia do Ministério Público.

Por essas e por outras, a guerra que esse setor organizado e estridente da classe médica vem travando para desacreditar o programa Mais Médicos vem sendo perdida para o governo. De acordo com pesquisa Datafolha divulgada em 12 de agosto, 54% dos entrevistados se disseram favoráveis ao Mais Médicos. A mesma pesquisa, realizada em junho, registrou índice de aprovação de 47%. Ao mesmo tempo, a rejeição ao programa diminuiu de 48% em junho para 40% em agosto.

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E esse apoio continua crescendo. Em setembro, o Instituto Paraná de Pesquisas entrevistou 2,5 mil pessoas em todo país e aquele apoio de agosto ao programa Mais Médicos agora chegava aos 70,38%, corroborando dados de pesquisa Ibope feita pouco antes para a Confederação Nacional dos Transportes, que apontou que 74% dos brasileiros apoiavam a vinda de médicos estrangeiros para o país.

O fracasso (até aqui) dos médicos em influir na sociedade para obrigar o governo federal a interromper o programa Mais Médicos só fez estimular as entidades representantes da categoria a intensificar suas ações políticas. Os médicos que não conseguiram chantagear o governo agora querem derrotá-lo na eleição presidencial do ano que vem.

Segundo matéria do jornal O Globo, entidades de classe como a Associação Médica Brasileira vêm estimulando médicos a se filiarem a partidos políticos de oposição ao governo federal e a induzirem pacientes humildes a votarem contra Dilma Rousseff na eleição presidencial do ano que vem.

Sob estímulo das entidades de classe, estão ocorrendo filiações em massa de médicos a partidos de oposição, principalmente ao PSDB e ao DEM.

Segundo a AMB, pelo menos 300 médicos já se filiaram ao PSDB do Ceará, a convite do ex-senador tucano Tasso lereissati (CE). No Mato Grosso do Sul e em Goiás, o DEM já articula um número grande de filiações até novembro. O deputado Luiz Henrique Mandetta (MS) trabalha junto ao líder do partido na Câmara, Ronaldo Caiado (GO), para fazer um ato político e filiar, em um dia, cerca de mil profissionais.

Com base no número de quase 400 mil médicos com registro no país, o presidente da Associação Médica Brasileira (AMB), Florentino Cardoso, afirmou ao jornal carioca que a maior parte dos médicos em atividade no país vai influenciar o eleitorado. A classe médica teria capacidade de movimentar 40 milhões de votos em 2014 (400 mil médicos influenciariam 100 pessoas cada um).

A conta, porém, é absolutamente inverossímil. Em primeiro lugar, os médicos dizem, claramente, que têm capacidade de influenciar pessoas pobres que, durante os processos eleitorais, viriam consultá-los sobre para quem devem dar seus votos. Pessoas humildes, porém, são justamente as pessoas que sofrem com a ausência de... Médicos (!!?).

Como os médicos vão dar conselhos em lugares aos quais sequer querem ir?

Os médicos que aceitarem fazer essa pregação abjeta e, em boa medida, imoral – médicos dizem que querem se aproveitar da baixa escolaridade de pessoas humildes para fazê-las votar de forma que beneficia só a eles mesmos – estão superfaturando a própria influência política, como mostram as pesquisas.

A ameaça que alguns médicos – seguramente não todos e, talvez, não tantos – estão fazendo à presidente da República pode produzir efeito oposto, pois com o programa Mais Médicos tendo se tornado tão popular os partidos que estão filiando em massa médicos contrários a esse programa certamente colarão em si mesmos a pecha de serem contra o desejo da maioria votante.

O que fica da nova ofensiva de parte da classe médica é uma certa perplexidade com profissionais que deveriam ser humanistas por definição, mas que, com a postura que estão adotando de forma crescente, vêm desmoralizando a sua profissão, fazendo com que seja vista como exercida por pessoas insensíveis, arrogantes e gananciosas.

Os médicos dificilmente influirão na decisão eleitoral da sociedade, ao menos como pretendem. O mais provável é que aqueles que pretendem influenciar se sintam chocados ao receberem pregação contra um programa social que quem precisa de médico sabe que é bom para si. Assim, os alvos eleitorais dos médicos votarão de forma oposta à que recomendarem.

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