Me segura que eu vou dar um golpe
"Bolsonaro parece estar dizendo “me segura que eu vou dar um golpe. Sinceramente, não sei mais se é caso de impeachment ou de camisa-de-força", diz Alex Solnik
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Por Alex Solnik
Pensei muito antes de escrever esse texto. Fiquei tão perplexo quanto os embaixadores. E continuo perplexo. Não é todo dia que se vêem cenas surreais como as de ontem.
Eu não sabia mais, a certa altura, se era uma paródia com Marcelo Adnet, uma sátira do Sacha Baron Cohen, o “Z” do Costa-Gavras ou a “Crônica do Golpe Anunciado”.
Ou, quem sabe, “O Incrível Exército de Brancaleone”.
Eu não sabia mais - e não sei até agora - se era para levar a sério ou morrer de rir. O aviso de um golpe de estado ou uma piada sem graça? E alguém já viu um golpista avisar que vai tentar o golpe ao vivo e a cores?
Imagino o que devem ter pensado os diplomatas ouvindo o presidente do país denunciar instituições e autoridades para eles.
“O que nós temos a ver com isso”? devem ter pensado. “Por que está contando essas coisas para nós? Ele precisa de ajuda”?
Bem, talvez ao menos no inglês. Para que da próxima vez não se escreva “brienfing” em letras garrafais no telão da presidência da República.
Uma apresentação daquela deve ter tido ensaios. Ninguém foi capaz de dizer a Bolsonaro que aquilo pegaria muito mal para ele e para o Brasil?
O que ganharia em revelar ao mundo sua intenção de dar um golpe preventivo por estar ameaçado por um suposto golpe do STF que consiste em eleger fraudulentamente seu adversário, sem apresentar provas? Ele deve achar que é muito esperto e os outros são otários e vão acreditar no seu delírio.
Os chefes de estado normais costumam enaltecer o seu país nos encontros com estrangeiros, varrer mesmo a sujeira que houver para baixo do tapete, jamais lavar roupa suja como fez Bolsonaro voluntariamente.
Ou o mundo virou de cabeça para baixo ou Bolsonaro não é um chefe de estado normal.
Nos anos 70 tornou-se comum, no Rio, a expressão “me segura que eu vou ter um troço”. Era o covarde pedindo para que o “impedissem” de começar uma briga. O poeta Wally Salomão fez blague, chamando sua autobiografia, na qual revela sua orientação sexual, de “me segura que eu vou dar um troço”.
Bolsonaro parece estar dizendo “me segura que eu vou dar um golpe”.
Sinceramente, não sei mais se é caso de impeachment ou de camisa-de-força.
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