Mauro Nadvorny recorre ao velho truque para encerrar a discussão: basta qualificar seu oponente como antissemita
"Sim, vetei o artigo de Mauro Nadvorny em que ele celebra o assassinato do general Qasem Soleimani. E também abri espaço para que ele se dissesse censurado em nossas páginas e ainda me chamasse de antissemita", diz Leonardo Attuch, editor do Brasil 247. "Mas contesto seu argumento para encerrar a discussão: defender a vida como princípio não é ser antissemita – muito pelo contrário"
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O colunista Mauro Nadvorny acaba de constatar que, ao contrário do que ele pregou para seus seguidores no Facebook, o Brasil 247 é um veículo de comunicação democrático. Aqui, em nossas páginas, ele acaba de publicar um artigo em que diz ter sido censurado por mim. Se não fôssemos visceralmente democráticos, evidentemente, não teríamos aberto espaço a esse artigo em que ele, inclusive, me rotula como antissemita. Ou, no mínimo, afirma que usei um argumento antissemita para criticá-lo.
É evidente que a acusação não faz sentido algum. Afinal, nosso motivo para vetar o artigo que ele diz ter sido censurado foi a defesa da vida como um valor absoluto. E me parece óbvio e ululante, como diria Nelson Rodrigues, que a defesa da vida, princípio basilar do que se convencionou chamar de Humanismo, jamais poderá ser classificada como uma postura antissemita. Muito pelo contrário.
Como já expliquei no meu artigo anterior, o texto de Mauro Nadvorny, em que ele celebra o assassinato do general Qasem Soleimani por Donald Trump, foi despublicado porque, já na primeira frase, ele argumenta que o mundo se tornou um lugar melhor para se viver após este assassinato. Mauro também disse que Soleimami ameaçava a sua existência e, em razão disso, celebrou a sua execução. Na minha crítica ao seu artigo, disse que ele reproduziu a lógica do discurso fascista – "bandido bom é bandido morto" – que os progressistas tanto combatem.
Mauro me chama de antissemita porque classifiquei seu argumento como etnocêntrico, ou seja, como de alguém cuja visão de mundo considera seu grupo étnico, nação ou nacionalidade socialmente mais importante do que os demais. Mas foi exatamente isso o que ele expressou ao dizer que Soleimani mereceu ser assassinado porque poderia "nos" assassinar. Por essa lógica, Trump, que assassina iranianos e iraquianos, na prática seria um herói justamente porque seus salvos são "eles" – e não "nós", da "tradição judaico-cristã". Por essa lógica, Trump salvou o mundo de um potencial genocida, que ele compara a Hitler em seu artigo.
Experimentemos agora trocar os nossos óculos e nossas lentes. Coloquemo-nos no lugar de iraquianos, palestinos e iranianos. Esses povos, naturalmente, também se sentem ameaçados pelas ações de Donald Trump, de vários de seus antecessores, e de Benjamin Netanyahu. Basta dizer que mais de 200 mil civis iraquianos já foram assassinados desde que teve início a pretensa "guerra ao terror", que visava evidentemente assessgurar o controle geopolítico do Oriente Médio e de todas as suas riquezas naturais. Em razão desta ameaça, é legítimo defender que Trump e Netanyahu sejam assassinados? Mauro Nadvorny escreveria isto num de seus artigos? Tenho certeza de que não. E se escrevesse, pode estar certo de que não seria publicado em nossas páginas.
Apenas lamento que, em vez de debater argumentos, ele recorra ao velho truque para encerrar uma discussão: rotule seu opositor como antissemita e declare vitória. O que é isso, companheiro?
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