Marisa Letícia: a vergonha de seus detratores
"Dona Marisa, a Galega, morreu ontem isolada dos seus iguais pelo muro de ódio acéfalo deliberadamente erguido em torno dela e da família que ela amou, forjou e protegeu com garra e generosidade contra o cerco de entrevados que os rodeava. Vai viver agora naquela única eternidade que realmente importa, morando para sempre no coração dos justos que ainda são a imensa maioria dos brasileiros", diz Maria Fernanda Arruda, colunista do Cafezinho
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Por Maria Fernanda Arruda, colunista do Cafezinho
Esse tipo de gente se encontra em todas as classes sociais; a diferença é que, no caso, *todos* os que são assim se juntaram no mesmo grupo e, não tendo parâmetros externos para balizar-se e açulados pelo coro unânime dos porta-vozes da miséria, vão ficando cada vez mais assim, e passam a ser facilmente reconhecíveis em qualquer situação, mesmo quando estão sozinhos: são aqueles neófitos entusiasmados que a toda parte levam a má nova do “governo mais corrupto da história”; são os que tratam balconistas e porteiros com desdém e arrogância mas vivem cheios de rapapés e adulações para aqueles de quem pensam poder obter alguma vantagem; aqueles que, quando a farinha é pouca, querem o pirão deles primeiro, os que protestam contra as leis de trânsito, que furam fila, que se revoltam quando quem antes viajava de ônibus passa a viajar com eles nas latas de sardinha voadoras que criam ser um privilégio que os separava da pobreza; são os médicos que se negam a trabalhar fora das grandes cidades e dos potenciais clientes ricos para as suas práticas privadas e se indignam quando alguém se dispõe a fazer isso, ou que colaboram com a PM no extermínio da população preta e pobre.
São todos aqueles funcionários públicos que batem o ponto e saem para cuidar dos seus negócios privados, ganhando sem trabalhar. São aqueles ignorantes profundos que acreditam ser herdeiros diretos do Maquiavel na sabedoria política porque repetem dois ou três truísmos sobre o tema único da “corrupção”; são os que acreditam piamente que no tempo da ditadura militar não havia corrupção porque ela não aparecia nas páginas dos jornais que apoiavam o regime. São racistas, preconceituosos, desonestos e oportunistas que morrem de pavor diante da possibilidade de um direito alheio ser um ataque às migalhas que consideram como seu privilégio exclusivo, marca da gratidão dos senhores pelos seus bons serviços. São gente capaz de ir fazer um buzinaço na porta de um hospital para comemorar a morte iminente de uma paciente.
Um dos alvos favoritos do ódio dessa corja sempre foi a cidadã Marisa Letícia, companheira do cidadão Lula. Nela, viam todas as qualidades humanas a que não têm acesso por sequer imaginarem que possam ser qualidades. A alegria de viver, a generosidade, a dignidade, a humildade, a ausência de deslumbramento com os atavios e badulaques do poder, e a sutileza , marcas características da cidadã Marisa, são para eles cafonices incompatíveis com o “cargo” de esposa de um presidente da república, em quem esperam ver as roupas e joias caras que aspiram para si mesmos algum dia, e de quem esperam que dedique o seu tempo coordenando ações de “caridade” para os “menos favorecidos” — sim, porque esses néscios se julgam “favorecidos”.
Para eles, a cidadã Marisa Letícia é a encarnação dos seus terrores mais negros, é a pobre que não conhece o seu lugar, a impostora que ocupa indevidamente o lugar de uma primeira-dama, a mulher autônoma e livre que se recusa a fazer o papel de figurante passiva no espetáculo do poder e vive longe das câmeras, cuida da horta do palácio presidencial, organiza festas juninas para a família e os amigos, fala palavrão e ri com prazer, é naturalmente solidária e generosa sem fazer disso alarde, com a delicadeza necessária para que a solidariedade e a generosidade não sejam peça de marketing político.
Marisa Letícia, para horror e vergonha dos seus detratores, não se aproveitou das “oportunidades” do poder para virar a dondoca que eles queriam ver no lugar dela, alguém que, pela pose perfeitamente adequada à posição, mostrasse ao populacho que aquelas alturas têm dono, que não são para eles, e que é melhor eles se conformarem em vez de tentar assaltar o céu. É uma ameaça, um mau exemplo, e precisa ser diminuída, menosprezada, alvo de chacotas e insultos; precisa ser destruída, tanto ou até mais que o próprio Lula, porque, mais que ele, recusando-se ao papel de modelo negativo, algo que se admira e se venera mas é impossível emular, tornou-se um modelo positivo, que não se imita nem se segue porque já faz parte da vida diária da imensa maioria das mulheres — e dos homens — do país, é a prova viva de que o governo não é o condomínio fechado de doutores e madames, e de que o poder só corrompe quem quer ser corrompido. Então, vamos lá fazer um buzinaço debaixo da janela daquela [preencher com o epíteto racista/sexista favorito] pra ver se ela se apressa em ir abraçar o capeta.
Dona Marisa, a Galega, morreu ontem isolada dos seus iguais pelo muro de ódio acéfalo deliberadamente erguido em torno dela e da família que ela amou, forjou e protegeu com garra e generosidade contra o cerco de entrevados que os rodeava. Vai viver agora naquela única eternidade que realmente importa, morando para sempre no coração dos justos que ainda são a imensa maioria dos brasileiros, os que sabem que são pobres e vão aos poucos sabendo por que o são. Aos seus detratores, os pobres que se acham ricos e só sabem do mundo o que lhes contam os seus donos, restará a vergonha e o opróbio. Nós, os que somos todos dona Marisa, vamos rir por último.
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