Fico a imaginar o que tem a dizer o deputado Alessandro Molon, que deixou o PT acusando o partido de ser conivente com a corrupção e de compactuar com desvios éticos de militantes e dirigentes, diante da pregação rasteira, oportunista e, sobretudo, golpista da sua chefe na Rede, a ex-senadora Marina Silva. Na opinião do deputado, pregar a ruptura da ordem democrática, como faz a liderança máxima do seu partido, fere ou não condutas éticas e preceitosrepublicanos?
Os sites noticiosos do PIG dão amplo destaque nesta segunda-feira (18 de janeiro) às declarações de Marina incitando o TSE a acelerar o julgamento das contas da chapa Dilma-Temer, para que os dois sejam cassados o quanto antes.Ela enxerga evidências de que dinheiro ilegal irrigou a campanha pela reeleição da presidenta em 2014.
Molon, nem que seja nas internas do partido, poderia perguntar à candidata a presidente derrotada duas vezes por que o dinheiro das empreiteiras envolvidas na Lava Jato é sujo para o PT, mas limpo e cristalino quando financia a campanha de Aécio (candidato que mais recebeu doações dessas empreiteiras e que foi apoiado por ela no segundo turno contra Dilma) e da própria Marina.
Há gente que carrega ressentimento pelo resto da vida, incapaz de sublimar ou se livrar de sentimentos negativos, como mágoa e desejo de vingança. Desde que foi preterida pelo presidente Lula na escolha do seu sucessor, Marina vem revestindo de amargura suas decisões e opções políticas.
Publiquei no meu blog, no dia 18 de agosto de 2014, um artigo ( O fim da "dolce vita" de Marina) sobre as dificuldades que a candidata a presidente encontraria na campanha, depois de ser lançada como substituta de Eduardo Campos. Todas se confirmaram, impedindo-a até mesmo de chegar ao segundo turno.
Mas isso não vem mais ao caso. O trecho desse artigo que considero válido republicar diz repeito à conversão da outrora destacada militante de esquerda Marina Silva em quadro do conservadorismo e do atraso. Vamos a ele :
"O retrovisor da história recente ajuda a entender a trajetória errática de Marina nos meandros da política real, despida das lantejoulas de seu discurso empolado. Com uma história de vida admirável, repleta de superações de toda ordem, Marina era uma estrela de primeira grandeza do Partido dos Trabalhadores. De deputada estadual no Acre ao Senado da República foi um pulo. Chegou ao ministério do presidente Lula em 2003, praticamente como uma indicação unânime das entidades e dos militantes ambientalistas. Gozava também do carinho e da confiança de Lula.
Marina sempre sonhou em ser indicada por Lula para sucedê-lo. Mas se queimou com o chefe depois de assumir posições públicas conflitantes com a linha desenvolvimentista adotada pelo governo, que se aprofundou desde que Dilma Rousseff assumiu a Casa Civil em 2005, em plena crise do mensalão. Reeleito em 2006, Lula fez de Dilma uma espécie de coordenadora de seu segundo mandato, já dando sinais de que pensava em escolhê-la como sucessora. Daí por diante foram vários os choques entre a ministra do Meio Ambiente e a chefe da Casa Civil.
Contrária à construção de obras de infraestrutura fundamentais para o desenvolvimento do país, como as usinas hidrelétricas de Jirau, Santo Antônio e Belo Monte, a ministra Marina não poupou esforços para dificultar as licenças ambientais necessárias às obras, levantando inclusive argumentos que beiravam o ridículo diante da importância estratégica dessas usinas, como a ameaça à procriação de bagres.
Foi quando trombou de vez com Dilma no ministério. Lula, não só se solidarizou com sua ministra da Casa Civil nessa queda de braço interna, como passou a dar reiteradas declarações à imprensa em favor da desburocratização das licenças ambientais, contra o excesso de questionamentos do Ministério Público em relação à obras e em defesa do caráter estratégico das hidrelétricas da Amazônia. Sem alternativa, Marina pede demissão. Sua ambição de chegar à Presidência a faz deixar, na sequência, o PT, partido que ajudou a fundar e onde era respeitada e muito querida."
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