Marielle: o duplo assassinato de uma militante

"Antes de ser silenciada por terroristas bárbaros na noite do último 14 de março, quando foi vítima do seu segundo assassinato, Mirelle já tinha sido silenciada pela mídia dominante, que a assassinou pela primeira vez, escondendo e enterrando sua trajetória. A luta da Marielle Franco – mulher, LGBT, feminista, negra, favelada, jovem e militante socialista – é uma luta transcendental, porque é uma luta de resistência de uma vida inteira contra o banimento midiático, econômico e social dela e da sua classe, a classe dos subalternos", diz o colunista Jeferson Miola; "Marielle está presente! Mais do que nunca! E ela tem tudo para se transformar num rastilho de pólvora"

Marielle: o duplo assassinato de uma militante
Marielle: o duplo assassinato de uma militante (Foto: Mídia Ninja)


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A cada dia, a biografia de Marielle Franco é enriquecida com novas revelações de uma trajetória de vida que é digna de livro e filme.

Marielle não era muito conhecida além do circuito do Rio de Janeiro e de setores de vanguarda da esquerda partidária e social. Apesar disso, a barbárie e a covardia do seu assassinato causaram uma impressionante comoção no Brasil.

À medida, entretanto, que sua bela história política e de vida foi sendo contada, a revolta e a indignação política se adicionaram à comoção que tomou conta do país e se espraiou pelo mundo.

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É irônico que, enquanto viva, a trajetória desta extraordinária militante libertária tenha sido sonegada e escondida pela mídia elitista e colonizada que encontra tempo para programação imbecil ao estilo big brother e faustão, mas não destina 1 segundo do tempo da sua televisão para retratar a vida digna das sobreviventes da favela e das suas legítimas representantes.

É irônico porque, se Marielle tivesse sido celebrizada pela Globo como seu cadáver está sendo agora incensado pela emissora da família Roberto Marinho, provavelmente ela teria tido a justa e merecida notoriedade que poderia lhe assegurar um pouco mais de proteção e de inibição de ataques fascistas como o que a vitimou.

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Antes do atentado facínora do qual foi vítima na noite do 14 de março de 2018, Marielle Franco já era Marielle Franco – a jovem, negra, LGBT, “cria” da Maré, lutadora de fibra, democrata, feminista, socialista, defensora da liberdade e dos direitos humanos e vereadora pelo PSOL.

Antes do seu assassinato, portanto, já existiam as razões para este reconhecimento público que, só ocorrido agora, é cínico e perverso, porque só ocorre postumamente, com o corpo mortificado e inerte e a voz asfixiada, emudecida.

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Marielles mortas valem mais que Marielles vivas – as primeiras ganham notoriedade; as segundas, simplesmente não existem. A regra é simples: Marielles devem permanecer invisíveis em vida; seus exemplos, suas lutas e suas resistências devem ser silenciadas, abafadas e escondidas.

No manual da mídia que reproduz o pensamento único capitalista, não cabem vocábulos como pluralidade, diversidade, dissenso e tolerância. As lógicas contra-hegemônicas, consideradas ameaçadoras do status quo, são banidas do noticiário.

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Quando esconde a realidade, sobretudo a realidade das favelas e da vida concreta da maioria do povo pobre, a mídia simplesmente faz de conta que não existem políticas alternativas e que não existem sujeitos históricos como Marielle Franco.

O poder da mídia não provém exclusivamente da manipulação da notícia e da realidade, mas principalmente do ocultamento daquilo que não interessa ao sistema mostrar. Roberto Marinho dizia que “A Globo é o que é mais pelo que não publicou do que pelo que publicou”.

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No livro Quarto Poder, Paulo Henrique Amorim comenta sobre as ordens do doutor Roberto Marinho para o telejornalismo da Globo:

– “Ordem número 1: não quero preto nem desdentado no Jornal Nacional. Ordem número 2: se o Brizola se jogar debaixo de um trem para salvar uma criança, e se a criança se salvar e o Brizola morrer, mesmo assim devo ser consultado para saber se autorizo publicar o nome dele no Jornal Nacional”.

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A extraordinária obra política e social como a da Marielle não deve ser mostrada no Jornal Nacional, no horário nobre do noticiário ou nos programas dominicais que, aliás, são concebidos para alienar, abastardar e estupidizar o povo, nunca para educá-lo e libertá-lo.

Antes de ser silenciada por terroristas bárbaros na noite do último 14 de março, quando foi vítima do seu segundo assassinato, Mirelle já tinha sido silenciada pela mídia dominante, que a assassinou pela primeira vez, escondendo e enterrando sua trajetória.

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A luta da Marielle Franco – mulher, LGBT, feminista, negra, favelada, jovem e militante socialista – é uma luta transcendental, porque é uma luta de resistência de uma vida inteira contra o banimento midiático, econômico e social dela e da sua classe, a classe dos subalternos.

Marielle está presente! Mais do que nunca! E ela tem tudo para se transformar num rastilho de pólvora.

 

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