Marias guerreiras (e agora a Bela)
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Lembranças da infância
fogos, jogos e voos
alimentando sonhos
pipoca e bolo de fubá
leite quentinho com nescau
anjos da infância
tantas Marias,
uma Luz, uma Marina
e da Grécia Néousa
madrinhas e fadinhas.
Minhas irmãs
Luz e Terra, Brilhante e Selva
são rimas do meu coração
são infância perene, tempos mágicos
heroínas e guerreiras
que me ajudaram a sonhar
(PBMN)
Pensei escrever sobre o Dia Internacional das Mulheres, na perspectiva da sua origem, sobre a participação das mulheres no movimento operário e as sementes por elas plantadas em 1908, quando 15 mil mulheres, marcharam pela cidade de Nova York exigindo a redução das jornadas de trabalho, salários melhores e direito ao voto.
Eu poderia escrever sobre o Partido Socialista da América, que declarou o primeiro Dia Nacional das Mulheres, ou sobre Clara Zetkin, ativista e defensora dos direitos das mulheres, fez propôs a criação de um dia internacional (proposta acolhida pela ONU apenas em 1975), afinal, o Dia Internacional das Mulheres é oportunidade para rememorar os avanços sociais que ocorreram graças à coragem das mulheres que, em confronto com o machismo estrutural da sociedade, na política e na economia, conquistaram consciência social em relação à indesejada desigualdade de gênero. Mas vou escrever sobre mulheres que amo e que conheço bem. Mulheres que, pelo exemplo, influenciaram grandemente a minha vida.
Me refiro à minha mãe, avós e irmãs, convivi até com uma tia-bisavó, várias tias-avós, além das tias e primas; um dia a Celinha surgiu e por trás dos óculos redondinhos, sorriu e libertou definitivamente o meu coração.
Elas são carinhosas, amorosas, sérias, bravas, fortes, divertidas, cuidadoras, educadoras e inspiradoras, tenho certeza de que se fiz algo de bom e algum bem na minha caminhada foi graças ao apoio, amor e exemplo de cada uma delas (o Almir Reis foi amigo de algumas delas e pode ser testemunha, pois, como dizia o tio Chico “advogado não fala, prova”.Então são elas as homenageadas através desse artigo no Dia Internacional das Mulheres.
Vamos a elas. Cada uma delas esteve, ou está, à frente do seu tempo, são mulheres modernas, independentes e insubmissas, isso não é pouco considerando que elas nasceram na primeira metade do século XX.
Testemunhei minhas Marias, cada uma delas vivendo a própria realidade, assumindo papéis com dignidade, independência, amorosamente e sem posição de subordinação em relação aos maridos.
Gosto de falar da Tia Zélia, professora, da tia Bel, funcionária pública, e da tia Carminha, professora e advogada, são exemplos de resistência e transcendência, capazes de vencer os estereótipos e a imposição de papéis sociais menos importantes, foram protagonistas em suas vidas e inspiraram as nossas, são mulheres que amarei para sempre, nessa em outras vidas, foram pai, foram mãe, foram o que quiseram ser (e a tia Bel ainda teve tempo de me ensinar a nadar nas piscinas do Cultura).
Minha mãe, a Tuti, nunca desempenhou aceitou papel relacionado à visão reducionista do universo feminino de submissão, servidão e ausência de protagonismo. A Tuti é força, sonho e gentileza, é toda generosidade e assim nos conduziu - com disciplina inegociável e doçura -, ao que somos, minhas irmãs e eu.
Essa visão de subordinação da mulher está praticamente superada, ainda que não completamente; lá em casa tínhamos, de um lado, a vó Maura, matriarca de autoridade inquestionada e inquestionável, seja quinze filhos, noras, genros ou pelos trinta e seis netos e netas; e, do outro lado, a vó Maria, a maior economista da história da humanidade, capaz de multiplicar (ou esticar) o salário do meu avô para além do mês, mantendo “reservas secretas” que surgiam magicamente em momentos de dificuldade, outro matriarcado consolidado, sem elas muitos de nós teriam sucumbido.
Minhas tias, são quatorze “marias”, uma Marina e uma Neusa, minhas irmãs: Roberta, Ana Lucia, Ana Teresa e Silvinha, assim como a Celinha (que também é Maria), são corresponsáveis pela gradual desconstrução social dos estereótipos negativos e reducionistas do papel da mulher na sociedade. A figura da mulher no papel de submissão, que possuía a função exclusiva de ser esposa servil, mãe cuidadora e dona de casa exemplar, foi vencida e eu convivo com muitas dessas guerreiras.
São mulheres contemporâneas, que acumulam vitórias como a sua inserção no mercado de trabalho, ampliação de sua liberdade sexual e reprodutiva, a conquista da independência financeira, além do exercício de seus direitos políticos; elas, mães zelosas, filhas amorosas, são exemplo também do que a emancipação feminina trouxe de bom.
Mas não podemos romantizar, afinal, nem tudo são flores, muitos homens, as vezes os próprios maridos ou filhos, foram obstáculos para elas. Ainda há a dificuldade de conciliar atividades da vida familiar e da vida profissional; a exigência do mercado de priorizar a atividade profissional em detrimento da vida pessoal; a dificuldade de desempenhar com excelência tantos papéis (mãe, profissional, esposa, dona de casa e outros).
Num mundo estruturalmente machista, das mulheres é exigida a incorporação de atitudes tidas como masculinas (objetividade, frieza racional e dureza nas decisões) para ser valorizada na esfera profissional, uma estupidez.
Minha mãe sempre disse “às meninas”, assim nos referimos às minha irmãs: “vocês são livres, podem escolher uma multiplicidade de papéis que lhe é atribuída e até escolher priorizar a sua vida profissional”, ou seja, quem escolhe é a mulher, não a sociedade, não nós homens.
A grande conquista da mulher é o poder de escolha.
Hoje convivo com minhas sobrinhas e noras, seres humanos lindos e livres, e em breve chegará a Bela, minha neta, a elas desejo: liberdade e consciência social.
Viva as mulheres, obra-prima de Deus!
Essas são as reflexões.
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