Maria Marighella e a nova cara das esquerdas brasileiras
Ver e ouvir Maria Marighella traz a esperança de que poderemos construir barreiras contra os diversos tipos de violência cometidos contra a classe trabalhadora
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As esquerdas são um fenômeno plural e multifacetário que, nas palavras do historiador Geoff Eley, desempenhou o papel fundamental de forjar a democracia desde os meados do século XIX, num progressivo processo de ampliação de pautas que se iniciaram com a luta de socialistas pela igualdade política e social.
A partir do “ano mágico” de 1968, a ideia de esquerda supera dialeticamente o sentido igualitário que se encontrava nas suas origens à medida em que foi incorporando as demandas dos movimentos ambientalistas e pacifistas, por um lado, e as lutas em torno do respeito à diversidade presentes especialmente nos movimentos de mulheres, da comunidade lgbtqia+, de negros e índios, por outro lado.
Assim, com o passar dos anos, a cara do militante de esquerda foi se transformando (seria mais apropriado dizer, em italiano, foi se aggiornando) concomitantemente à multiplicação das lutas travadas na sociedade e à diversificação das suas pautas. Ainda que Geoff Eley trate da Europa no seu estudo, a experiência brasileira (e, por que não dizer, a da América Latina) caminhou na mesma direção de ampliação das dimensões e significados do “ser de esquerda”.
Pois bem, tive a oportunidade de entrevistar a atriz e vereadora de Salvador pelo Partido dos Trabalhadores, Maria Marighella, para o Trilhas da Democracia que irá ao ar no fim de semana pela Rádio Brasil de Fato, TVT e TV247, e, ao término de mais de uma hora de diálogo, saí convencido de que seu rosto, seus gestos e sua fala expressam o que há de melhor nas esquerdas que travam as lutas democráticas pela igualdade social e pelo respeito à diversidade, de maneira interseccional.
Numa semana em que fomos duramente impactados pelas cenas da mais absoluta barbárie do espancamento e assassinato do jovem congolês Moïse Kabagambe, no Rio de Janeiro, ver e ouvir Maria Marighella traz a esperança de que, com o apoio de políticas públicas voltadas à democratização da produção e do acesso à arte e à cultura, poderemos construir barreiras contra os diversos tipos de violência cometidos contra a classe trabalhadora, particularmente contra jovens negros das periferias do nosso país.
Numa semana em que serão lembrados os sete anos da Chacina do Cabula, na qual doze jovens negros foram brutalmente assassinados pela Polícia Militar da Bahia, em Salvador, ver e ouvir Maria Marighella faz acender o desejo incansável de continuar denunciando e lutando contra uma sociedade que tem no racismo um dos seus pilares de sustentação, em nome da justiça social e da integração racial.
Que muitas Marias brotem e continuem a renovar a cara das esquerdas brasileiras.
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