Maradona – O Deus e a Mão
"Tudo em Maradona parecia sintetizar Arte e Tragédia", resume o colunista Arnobio Rocha sobre a morte de Diego Armando Maradona
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O pequeno e atarracado Dieguito seria tudo menos um atleta de alto nível, mas pelos mistérios da vida e da arte, estava ali o maior bailarino da bola, um Dioniso do futebol, um ser teatral, aquele que podia transformar em mágica o seu controle de bola, com seu gingado, a milonga, a poesia do drible, da canhota mais incrível que o mundo já viu.
Tudo em Maradona parecia sintetizar Arte e Tragédia.
Ora, para conhecer Maradona é preciso saber o ciclo do Herói como definiam os gregos, de seu nascimento à morte, todas as dificuldades ao surgir, que passa pela iniciação mítica na tenra idade, seus feitos são conhecidos em todos os lugares, abrindo campo para os maiores atos de heroísmo que lhe renderam fama eterna. Os arroubos exageros fazem parte do contexto do herói, que superam a questão do bem e do mal, pois ele vai além do maniqueísmo.
Diego desponta como gênio extremamente jovem, o que lhe daria uma aparição ao mundo, na primeira copa da Argentina, o que lhe negaram, de certa forma, não macularia sua imagem, pela circunstância em que o país e os militares usaram a conquista de 1978.
Os quatro anos seguidos de glória local do pequeno Argentinos Jr ao grande Boca Juniors, o levaram ao poderoso Barcelona, sem que no entanto tivesse identidade e vivesse para aquela cidade.
Apenas ao ir ao pequeno Napoli, a região mais pobre e sofrida da Itália, como o Deus Dioniso, nasce definitivamente a relação de identidade e de loucura por um ser. A redenção de Maradona e o famoso time que ganharia dos milionários do norte, fez de Diego algo sobrenatural. Basta lembrar a torcida por ele, quando a Itália enfrentou a Argentina na copa de 1990.
No auge do Napoli, com uma seleção em formação, Maradona carregou a Argentina a um título espetacular, em 1986, no México, As atuações dele, gols e passes, malabarismo, gol com “mão de deus”, deu um novo alento ao seu país, que saíra de uma ditadura sangrento e vivia a penúria da falência econômica, Diego os redimiu, com o titulo, especialmente a vitória contra a Inglaterra, a resposta à guerra das Malvinas.
Como todo herói a sua queda é longa, cheia de dores e desespero, emoção e perdão. A vida em campo foi caindo em 1994, na copa dos EUA, um doping bastante contestado, mas um coração doente, a luta contra as drogas, contra a decadência.
Diego Maradona se reinventa, como técnico, mas principalmente como homem público, suas posições políticas e identidade com os mais pobres, os mais sofridos, seus encontros e apoio aos governos populares de esquerda, com generosidade e doação, a defesa incondicional dos valores humanos, transforma Maradona num cidadão muito além do futebol.
Maradona foi uma das maiores personalidades do mundo, sua arte da bola, se transferiu para Política e sua jornada foi absolutamente original, um ícone argentino como Che, um ser mitológico, que se despende como todo herói com seus últimos atos são de dor e sofrimento, ainda muito novo, 60 anos, recém completados, se despende pelo coração.
Um dia para jamais esquecer, por coincidência, Maradona parte no mês e dia em que partiu um dos seus ídolos, Fidel, é uma magia que poucos de nós entenderá.
Obrigado, Diego, quanta dor por sua perda.
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