Máquina que produziu fake news agora trabalha pelas dissensões entre os militares

O núcleo que disseminou notícias agora trabalha em outra frente, mantendo viva a chama golpista, avalia Denise Assis

Jair Bolsonaro e Lula
Jair Bolsonaro e Lula (Foto: ABR | Reprodução)


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Por Denise Assis, para o 247 

Depois da eleição, que mobilizou e intensificou as atividades do “gabinete do ódio”, no Planalto, saíram de cena as fakes eleitorais. O núcleo que as disseminou passou a trabalhar em outra frente. Desta vez, para embaralhar notícias no seio militar, mantendo viva a chama “golpista” entre oficiais da reserva e uma parcela dos da ativa que se recusam a aceitar o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, como presidente. O propósito é manter a tensão até a sua posse.

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Um dos políticos tido como influente na escolha do ex-deputado José Múcio para o cargo de ministro da Defesa, com o objetivo de “apaziguar” os ânimos entre o meio militar e o governo entrante, nega que teve essa participação, embora diga que o indicaria “de olhos fechados, por ser habilidoso e um quadro que já exerceu funções de relevância, sempre se saindo muito bem”.  

Esse interlocutor lembrou que “ele foi coordenador político do governo, indicado por Lula, foi ministro do Tribunal de Contas, chegando a presidente do TCU. Então ele tem a confiança do presidente e das Forças Armadas. Tem tudo para dar certo”, opina.

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Sobre o argumento de que Múcio não conhece ou teve interação com as Forças Armadas, o interlocutor lembrou que “os demais ministros civis da Defesa também não tinham. “Não se espera que o indicado tenha familiaridade com o meio militar. O que se requer é habilidade de lidar com a corporação, muito ciosa das suas tradições e da sua memória, mantendo a relação sem nenhum atrito”. Disse, também, que “é o mesmo quando se indica, por exemplo, um diplomata. É preciso levar em conta que são duas instituições muito fortes: a dos diplomatas e a das Forças Armadas. Ninguém acha que vai ser uma coisa simples indicar um general para o ministério das Relações exteriores. Da mesma forma, um diplomata para o ministério da Defesa”, argumenta.

Outra possibilidade, a de se indicar o ministro do STF, Ricardo Lewandowski, seria um erro, avalia, “porque também o Supremo é uma entidade à parte do ministério da Defesa. É provável até que haja uma série de litígio da área da Defesa, envolvendo o STF. Então eu acho que a escolha do José Múcio tranquiliza melhor a situação e tira do caminho do novo governo obstáculos que ele vai ter que enfrentar na área da política, porque a base de sustentação a ser montada é complicada e a base parlamentar também. Sem contar que o governo terá dificuldades na economia, porque a situação do país e do mundo está difícil”.  

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A indicação de um nome como o do José Múcio “reduz qualquer coeficiente de atrito nessa área e libera as energias para enfrentar outros e mais importantes desafios”.  

Sobre as “manifestações” na porta dos quartéis terem ou não respaldo das fileiras, indica que é preciso “separar os que são da reserva, dos militares da ativa. São duas áreas distintas. Os que estão na reserva dispõem de uma liberdade de ação e se sentem mais à vontade para emitir manifestos e participar de grupos nas redes sociais e apoiar esses movimentos”. Para ele, “os que estão na ativa são mais ligados às funções institucionais, têm preocupação em preservar a missão constitucional e são mais avessos a dar opinião na política. Não querem ter esse tipo de manifestação. Os grupos que estão nas portas dos quartéis têm mais apoio dessa área da reserva. Os outros não querem se meter nisso”.

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A opinião vem seguida da ressalva: “não que os demais ficaram contentes ou apoiam a eleição de Lula. Não é isto. Claro que preferiam que o PT não tivesse sido eleito, mas se não é uma boa notícia a eleição do PT, pior seria tentar embaralhar as regras do jogo. Então, aceita-se. Não é o que eles gostariam, mas o PT ganhou a eleição e está encerrado o assunto”, considera.

Ao ser alertado de que o manifesto contendo 221 assinaturas, publicado em primeira mão pelo 247, continha também 46 assinaturas de oficiais da ativa, explica que recebeu o documento sem as assinaturas, apócrifo, mas alerta: “tendo assinatura de gente da ativa, é grave”. E destaca: “uma coisa é divulgar um manifesto assinado pelo oficial reformado que está lá no Clube Piraquê, no Rio de janeiro. O máximo que ele comanda é uma mesa de gamão. Agora, uma pessoa que está na ativa tem contato, tem uma tropa, mas isto eu não vi. Tive o cuidado de observar e não dei muita importância porque estava sem assinaturas”.

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Ao constar isto na versão recebida, achou que tinha a ver com a disputa interna, entre os chamados “melancias” – verdes por fora e vermelhos por dentro -, conforme foram acusados os comandantes: militar do Nordeste, Richard Nunes; Valério Stumpf, chefe do Estado Maior e Tomás Miné Ribeiro de Paiva, comandante militar do Sudeste. Segundo ele, esta foi uma das fakes disseminadas pelo próprio Palácio e seu gabinete do ódio, com o objetivo de manter a discórdia e a confusão nos quartéis até a posse de Lula.

De acordo com sua interpretação, “essas coisas podem causar tumulto, mas não leva a nada. O problema no Brasil não vai ser nessa área, mas sim, na de economia e política”.

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Para ilustrar, traz para a conversa a “dita” declaração dos comandantes das três Forças, prometendo entregar os cargos antes de Lula assumir. “Não houve isso. O que houve foi uma sugestão do comandante da Aeronáutica, (tido como o mais bolsonarista), mas que não foi aceita pelos dois colegas do Exército e Marinha. Isso é efeito da central de boatos do Palácio do Planalto, que tenta por toda maneira tumultuar a posse de Lula. Debite-se isto à central de boatos, apenas”.  

Quanto ao tuíte do general Villas Boas, com ameaças golpistas, afirma que caiu no vazio. “Ele não influencia mais ninguém. Não tem força para mais nada. Ninguém da tropa dá ouvidos a Villas Boas. De jeito nenhum”. E faz blague: “nosso pessoal quando vai para a reserva fica valente e inteligente. Querem reformar o mundo. A passagem do comando é de um general para o outro. Isso seria uma afronta entre eles. Não há a menor chance de prosperar”.

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O que vai ainda resistir, em sua opinião, são as manifestações na porta dos quartéis, até a posse do Lula. Isto tem a intenção de mostrar para o mundo que o governo que chega é “contestado. Não goza de unanimidade. E nós veremos na posse os infiltrados provocando correria de um lado para o outro, caminhões vindos do Mato Grosso, do Pará, de Minas, querendo entrar não sei onde, para tumultuar. É só isso. Eu já perguntei a eles se os grupos fossem do MST se seriam tolerados da mesma forma. Certamente que não”.

E conclui dizendo que essas são área de segurança nacional, mas que compreendem uma ação de segurança pública. “Cabe aos estados retirá-los de lá, para a desobstrução das vias públicas. Tinha de coibir. Parece que até os estacionamentos dos quartéis estão sendo ocupados por essa gente. E se a turma que é a favor resolver acampar também?”, questiona. “Se é permitida a manifestação para uns, tem que ser para todos. Quem vai mediar esse conflito? A conclusão é que não pode ninguém. É caso para as secretarias de Segurança pública”, sentencia.

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