Mangabeira Unger, Ciro e a democracia que não corre mais risco

Candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes 29/09/2022
Candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes 29/09/2022 (Foto: REUTERS/Ricardo Moraes)


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A rebordosa decorrente do resultado das eleições de domingo estava apenas começando quando fomos contemplados pelo artigo de Roberto Mangabeira Unger, na Folha de São Paulo, de título “Como votar em 30 de outubro?”, no qual o professor da Universidade de Harvard propõe o voto em Lula.

Confesso, porém, que, se o “mentor de Ciro Gomes” não tivesse explicitado a recomendação do voto em Lula, ficaria em dúvida sobre a resposta à pergunta feita no título do artigo que demonstra a distância existente entre seu pensamento e os problemas que afligem a Nação nesse mês de outubro de 2022.

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Em apenas um parágrafo, Mangabeira Unger foi capaz de construir duas ficções que, em tempos normais, passariam despercebidas ou, no máximo, como mais um testemunho da sua maneira sui generis de se comunicar. Mas, o problema é que, desde 2013/2016, atravessamos uma conjuntura que nos aproxima cada vez mais de um precipício.

No parágrafo em questão, o professor de Harvard chamou a atenção para o fato de que havia sido proposital não ter tratado no seu texto do argumento da “defesa da democracia e do resguardo civilizatório contra a barbárie”. Isso porque (eis a primeira ficção) “nossas instituições são robustas e resistentes a golpes”.

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Na sequência, é afirmado que (eis a segunda ficção) “as dezenas de milhões de brasileiros que votaram em Bolsonaro não são protofascistas e não querem liquidar a nossa democracia”, estando a barbárie que assola o Brasil localizada (eis a conclusão) na nossa “falta de imaginação” e na nossa “mediocridade”.

Desconfio que Mangabeira Unger procura compreender o Brasil com a régua utilizada nos países do capitalismo central, particularmente, por razões óbvias, a régua padrão estadunidense, e, ao fazer isso, deslize para a clássica comparação cujo resultado é situar a “excelência” no Norte e a “mediocridade” no Sul do mundo, onde o Brasil está localizado.

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Tal forma submissa de pensar a realidade brasileira não é original, tendo um pé fincado numa determinada forma de analisar a realidade brasileira a partir do conceito weberiano de “patrimonialismo”, cujo exemplo mais difundido talvez seja a obra do antropólogo Roberto Da Matta, com seus escritos sobre o “jeitinho brasileiro”.

Entretanto, não é esse o momento apropriado de tratar de polêmicas de natureza sociológica, pois, ao contrário do que pensa Mangabeira Unger, a nossa jovem democracia assentada nos valores da Constituição Federal de 1988 encontra-se sob risco iminente de ser jogada por terra no caso do atual presidente obter um segundo mandato no dia 30 de outubro.

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Até aqui, algumas instituições resistiram às ofensivas autoritárias do presidente, a exemplo do STF e do Senado, mas, diante da nova composição parlamentar saída das urnas, uma inflexão à extrema-direita é praticamente certa – isso, com a sustentação de uma boa parte das dezenas de milhões que votaram Bolsonaro e não tem compromisso algum com a democracia.

O resto não passa de “ideias fora do lugar”.

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PS. o presente texto já se encontrava finalizado quando vi o curto vídeo gravado por Ciro Gomes declarando seu apoio a Lula (sem sequer pronunciar o seu nome), no qual afirma que “não acredita que a democracia esteja em risco nesse embate eleitoral, mas sim no seu absoluto fracasso em construir um ambiente de oportunidades que enfrente a mais massiva crise social e econômica que humilha a esmagadora maioria do nosso povo”. Com isso, fica explicitada a convergência intelectual e política existente entre o intelectual de Harvard e o político de Sobral – a convergência no gravíssima equívoco de dar como garantida uma democracia em acelerado processo de esgarçamento.

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