Mandela, no Brasil, hoje estaria preso

O maior líder moral do século XX foi também um político pragmático, que nunca se desviou de seus fins



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Da vida de Nelson Mandela muito se sabe sobre dois períodos marcantes de sua trajetória: os 27 anos de prisão na Robben Island, onde ficou confinado num cárcere de quatro metros quadrados, entre 1964 e 1990, e o governo marcado pela conciliação com os brancos, entre 1994 e 1999. Menos conhecida, no entanto, é a sua atividade política anterior à eleição histórica, que levou o primeiro negro ao poder na África do Sul.

Entre a prisão e o poder, Mandela foi também um líder político pragmático, que jamais se desviou de seus fins. E que buscou os meios necessários para atingi-los. Um dos principais aliados (leia-se doador de recursos) foi o príncipe Bandar, da Árabia Saudita. Outro, o ex-ditador líbio Muamar Kadafi. Graças a eles, Mandela teve condições de organizar seu partido, o Congresso Nacional Africano, e, assim, chegar ao comando de sua nação, onde a maioria do povo era segregada e oprimida de forma infame pelos colonizadores ingleses.

Em 1964, antes de ser condenado à prisão perpétua por “terrorismo”, Mandela falou sobre seu sonho. “Durante a minha vida, dediquei-me a esta luta do povo africano. Lutei contra a dominação branca, lutei contra a dominação negra. Acalentei o sonho de uma sociedade livre e democrática na qual as pessoas vivam juntas em harmonia e com oportunidades iguais. É um ideal para o qual espero viver e realizar. Mas, se for preciso, é um ideal pelo qual estou disposto a morrer.” Quando deixou a prisão, amparado pela multidão que o aguardava, “Madiba” se viu compelido pela história a liderar toda uma nação.

No Brasil, o único líder político que, guardadas as proporções, pode ser comparado a Nelson Mandela é o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Assim como o sul-africano combateu o apartheid racial, Lula se dedicou a enfrentar o chamado apartheid social. Mas também de modo conciliador. Foi capaz de liderar um processo inédito de distribuição de renda e de inclusão na história do País, sem gerar rupturas com a elite. O bolo foi repartido e os ricos se tornaram ainda mais ricos.

No entanto, os pragmáticos que lutaram para que o primeiro trabalhador chegasse à presidência de uma nação continental como o Brasil hoje estão encarcerados e se veem como presos políticos. Do lado de fora da Papuda, na elite ressentida, há os que sonham até com a eventual prisão de Lula, pois ele, na visão dos adversários, seria o verdadeiro “chefe da quadrilha”. Em nota oficial, o algoz do PT, Joaquim Barbosa, disse que Mandela “dá esperança a todas as vítimas de injustiça em qualquer parte do mundo”. Aos que se sentem injustiçados por ele, resta o consolo de “Madiba”: “Podem nos tirar tudo, menos nossa alma e nosso coração”.

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