Macri obedece ao FMI, veta a Lei votada pelo povo nas ruas e no Parlamento
A lei de Emergência Tarifária votada agora pelo Congresso argentino contra o chamado “tarifaço”, graças à união das forças do peronismo, do kichnerismo e dos demais partidos reformistas e da esquerda, viabiliza o retrocesso dos valores das tarifas de luz, gás e água a novembro de 2017, e condiciona seus aumentos em conexão com o dos salários
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Não é a primeira vez, esta é a sexta, em que Macri, abusivo aplicador de decretos de necessidade e urgência (DNU), levanta a espada do veto às leis da oposição votadas no Parlamento. A lei de Emergência Tarifária votada agora pelo Congresso argentino contra o chamado “tarifaço”, graças à união das forças do peronismo, do kichnerismo e dos demais partidos reformistas e da esquerda, viabiliza o retrocesso dos valores das tarifas de luz, gás e água a novembro de 2017, e condiciona seus aumentos em conexão com o dos salários. Sem esta lei, o insustentável aumento médio de 1295% desde o início do governo Macri, chegará a 1768% e 1519% respectivamente para luz e gás, no fim deste ano. O valor das tarifas deverá chegar a ser 11% do salário. Vive-se uma situação em que famílias pobres devem optar entre iluminar e aquecer a casa no inverno ou comer. Leia.
Macri veta a lei, e a credibilidade no seu governo despenca
O veto de Macri chegou depois do voto, como previamente anunciado nas ameaças a governadores peronistas conservadores, e ao “peronismo responsável” para que não se deixassem influenciar pelo que ele denominou “loucuras” da ex-presidenta e senadora, Cristina Kirchner, e votassem contra a Lei da Emergência Tarifária. Estas pressões anteriores, como as posteriores à votação da lei, com o veto presidencial, expressam, antes de tudo, uma crueldade de classe, interesses empresariais espúrios e de offshores de membros do governo, conivência com multinacionais energéticas Leia, mas também debilidade e desespero, frente à derrota política de Macri que significou perder aliados eleitorais do campo burguês, da média e pequena indústria e comércio (Frente Renovadora) que junto a Cristina Kirchner (Aliança Cidadã) tiveram a iniciativa do projeto contra o “tarifaço”, e levaram, no Senado, 37 votos contra 30, após já terem sido vitoriosos na Câmara de Deputados.
Após os frequentes atropelos do Executivo ao Judiciário, agora é a vez do Executivo passar por cima do Legislativo. Com este escandaloso veto à vontade da maioria parlamentar, o governo Macri não tem escrúpulos de demonstrar seu anti-democratismo, desde que fique claro ao FMI, que lhes é servil a todas as condições impostas em cambio dos 30 bilhões de dólares de empréstimo: arrocho salarial, corte nas pensões, tarifaço, desemprego em massa, esvaziamento do estado e privatizações. Mas é um veto sem nenhum respaldo social. Informa-se, que 95% das pessoas na área metropolitana coincidem que as tarifas não podem subir mais que os salários; e 88% se opõem ao veto presidencial.
A votação desta “lei de emergência tarifária” deu-se poucos dias após a multitudinária manifestação, no Obelisco de Buenos Aires, contra o FMI e os ajustes. Veja o vídeo: argentinos contra o FMI. O povo tem votado com os pés; por isso o Parlamento aprovou a lei. E Macri a vetou, passando também por cima das estatísticas que expressam que 77% está contra o FMI, que 91% vê uma grave crise econômica no país, que Macri tem 60% de imagem negativa e 26% de aceitação. Portanto, são imprevisíveis as formas que poderá tomar esta tragédia social na Argentina à qual responde este governo, diariamente, com anúncios e declarações que põem em dúvida se há, por sua parte, um projeto mínimo de negociação, e tática política de diálogo social institucional.
Tudo indica que como aqui se diz, o governo de “Cambiemos” veio com tudo para arrasar as conquistas da década kirchnerista e saquear o país a favor dos fundos abutres, das finanças internacionais e do FMI. No dia seguinte ao veto de Macri, o ministro das Finanças, Dujovni, negociador de François Lagarde (FMI), anunciou mais cortes, inclusive o congelamento da assunção de funcionários no serviço público federal por 2 anos.
O anúncio de tais medidas vêm acompanhado de declarações que surpreendem um povo reduzido à miséria, ao desemprego e ao desalento, na voz de um estadista, ao vetar a dita Lei com estas palavras: “eu gostaria de ter uma varinha mágica para fazer aparecer o dinheiro, mas isso não é assim! Nós argentinos, temos que assumir o verdadeiro valor da energia e consumir menos!”. Dias antes da votação, chegou a dizer que a solução era que as pessoas deviam comprar lâmpadas Led de baixo consumo. “Nós vamos continuar, batalhando contra todas as máfias no país, começando pelo narco-tráfico. Estamos fazendo as coisas tão bem que necessitamos de mais cadeias”. Além de tudo, anunciou que o governo estava estudando a possibilidade das Forças Armadas cumprir tarefas vinculadas à segurança. Os organismos pelos Direitos humanos, e o bloco parlamentar opositor já se está mobilizando para pedir esclarecimentos sobre isso, num momento de altíssima contestação social. Na área educativa também repercutiu e foi fortemente repudiada uma declaração da governadora, Vidal, de “Cambiemos”, no Rotary Club, sugerindo cortes orçamentários contra as Universidades Públicas nos bairros pobres, criadas no governo kirchnerista (como fizeram Lula/Dilma no Brasil): “É pela igualdade que populamos a província de Buenos Aires com universidades públicas quando sabemos que os que nascem na pobreza não chegam à universidade?”. Vidal reforça palavras já ditas por Macri: “O problema não é fazer universidades por todos lados!” Evidentemente, muito triste; os pobres nunca estiveram na agenda de “Cambiemos”.
Reaparece Cristina, e Macri mostra músculos
A intervenção de Cristina Kirchner (Unidade Cidadã), foi a mais esperada pelos argentinos naquela madrugada do dia 31 de maio, em rede nacional, pois mais que senadora é a ex-presidenta que deixou em lágrimas 700 mil na Praça de Maio, em dezembro de 2015, ao despedir-se do seu governo e que materializou junto com Néstor Kirchner uma década de conquistas sociais, valorizou o trabalhador, o papel do Estado, nacionalizou YPF (Yacimientos Petrolíferos Fiscales) Veja video, reduziu ao mínimo a Dívida Externa, rompeu com o FMI e os Fundos Abutres, e criou a Lei das Comunicações . A nostalgia da “herança” perdida começa a tocar muitos eleitores de Macri. Cristina Kirchner, uma verdadeira estadista, fez uma brilhante exposição comparativa, com cifras e exemplos, entre o seu governo e o de Macri, sobretudo no campo econômico, financeiro e energético; denunciou as mentiras de “Cambiemos”, do presidente e da vice-presidenta ao eleitorado, a impunidade midiática e fez um alerta para impedir uma catástrofe econômica e social, ouvindo a voz do povo, hoje decaindo rumo à área da pobreza extrema, e pagando pelas nefastas consequências dos ajustes; demonstrou como o governo Macri ao manter o “tarifaço” não tem interesse em investir nos serviços públicos, mas favorecer a lucratividade das empresas privadas de energia com lobbies no seu governo. Veja vídeo completo: Discurso de Cristina Kirchner no Senado
Como já era de se esperar, o poder Judicial-Midiático, começa a abrir bateriais e tirar da gaveta processos contra Cristina Kirchner, sem provas, nem fundamentos, com o objetivo de tirar das telas de TV seu papel protagônico nas lutas políticas, e apagar as imagens das enormes manifestações contra os ajustes do governo Macri.
Prepara-se a Greve Geral Nacional
Ontem, a chamada Marcha Federal, vinda de vários rincões do país, desde o início da semana, confluiu na Praça de Maio, com mais de 400 mil trabalhadores informais da Economia Popular, ambulantes, autônomos, cooperativas com o lema: “Contra o veto, o ajuste, por pão e trabalho”. Apoiados por todas as centrais sindicais da CTA e da CGT, e movimentos populares de bairro, preparam uma Greve Geral Nacional para o início de junho. O processo vai rumo a uma polarização de forças de classe e uma unidade de todos os movimento sindicais, sociais e parlamentares de esquerda contra o governo Macri e seus ajustes, abarcando uma frente única entre trabalhadores formais e informais, pequenos agricultores, junto às chamadas PYMES (pequena e média empresa). A conjuntura mundial, o triunfo eleitoral de Maduro na Venezuela; a derrota de Rajoy (pró-Macri) com a posse do presidente socialista Pedro Sánchez (pró-Lula) na Espanha; e a vitória parcial dos caminhoneiros e petroleiros no Brasil podem dar um maior empurrão na luta do povo argentino e latinoamericano.
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