Macri, desesperado, faz apelo a Deus, e Frente de Todos promete fim do ciclo neoliberal desonroso
"A depender do clima nas ruas, do humor político do povo argentino e das pesquisas eleitorais, nem Deus conseguirá salvar Macri e os setores neoliberais de uma derrota inclemente no próximo domingo", escreve o colunista Jeferson Miola. O atual governo, diz ele, "faz o povo argentino recordar o período dramático vivido no imediato pós-Menem, no início dos anos 2000"
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A campanha eleitoral na Argentina encerrou oficialmente ontem. A partir das 8 horas desta sexta-feira, 25 de outubro, estão proibidas quaisquer atividades de campanha.
As 6 candidaturas presidenciais realizaram atos e comícios de encerramento em distintas cidades do país [as 4 candidaturas coadjuvantes – de Roberto Lavagna, de Nicolas de Caño, José Luis Espert e Juan José Centurión – realizaram atividades com menos público].
Maurício Macri, da coalizão Juntos por el Cambio, que tenta a reeleição, realizou comício na cidade de Córdoba. Os organizadores do evento anunciaram a presença de 50 mil pessoas.
O lema da campanha oficialista – “si, se puede” – mais se parece uma profissão de fé do que realidade, porque as pesquisas de diferentes institutos repetem os resultados das PASO [eleições Primárias, Abertas, Simultâneas e Obrigatórias], realizadas em agosto passado, e mostram uma vantagem da candidatura Alberto Fernandez-Cristina Kirchner próxima aos 20%, que asseguraria a vitória oposicionista já no primeiro turno.
Na falta de expectativas eleitorais concretas [e, também parece, de expectativas terrenas] e com um governo amplamente rejeitado devido às políticas catastróficas que geraram desemprego, recessão, endividamento público, pobreza e, vergonhosamente, fome humana, o atual presidente encerrou o comício de campanha com um apelo divino: “Vamos que se puede, con Dios se puede más” [sic].
Em Mar del Plata, a 415 km da capital Buenos Aires, Alberto Fernandez e Cristina Kirchner, da Frente de Todos, fizeram o encerramento da campanha também com um comício multitudinário.
O encerramento da campanha em Mar del Plata tem um simbolismo especial. Foi naquela bela cidade litorânea que em novembro de 2005, na IV Cúpula das Américas, Lula, Kirchner, Chávez e Tabaré Vázquez, na presença do presidente estadunidense George W. Bush, conduziram a cerimônia funeral da ALCA, a Área de Livre Comércio das Américas.
No ato final de campanha, a candidata a vice da Frente de Todos [FT], Cristina Kirchner, discursou que “não estamos encerrando uma campanha eleitoral, mas um ciclo histórico para que não voltemos a cair nunca mais nas garras do neoliberalismo”.
Alberto Fernandez, o candidato presidencial da FT, disse que “estamos assinando um contrato moral com vocês. No domingo vamos votar e com o voto teremos que começar a virar uma página desonrosa que começou a ser escrita em 10 de dezembro de 2015”, dia em que Macri assumiu a presidência do país, há 4 anos.
O clima que se percebe nas ruas de Buenos Aires é de saturação com o governo Macri, que faz o povo argentino recordar o período dramático vivido no imediato pós-Menem, no início dos anos 2000.
Os argentinos sentem-se profundamente envergonhados com compatriotas passando fome – um flagelo inaceitável para um país que produz o suficiente para alimentar 400 milhões no planeta e não consegue garantir a alimentação aos seus 44 milhões de habitantes, como me disse em entrevista o futuro senador e ex-chanceler do período Néstor Kircher, Jorge Taiana.
A situação argentina só não teve o desfecho de uma convulsão social de características ainda mais fortes que a que acontece no Chile e em outros países do continente e também no Haiti e em Honduras, porque o povo argentino vislumbrou na eleição do próximo domingo, 27 de outubro, a saída institucional para dar um basta a Macri e suas políticas ultraliberais destrutivas [aqui].
A depender do clima nas ruas, do humor político do povo argentino e das pesquisas eleitorais, nem Deus conseguirá salvar Macri e os setores neoliberais de uma derrota inclemente no próximo domingo.
Os argentinos estão com um sorriso aberto no rosto – e isso não é figurativo. Perguntados sobre o motivo da alegria, respondem: sabemos que tudo será muito difícil a partir de 10 de dezembro [dia da posse do eleito] porque houve muita destruição, mas finalmente daremos um basta a esta catástrofe do governo Macri, que nos retirou a vida e a alegria.
Ao “começar a virar uma página desonrosa”, como discursou Alberto Fernandez no comício de encerramento da campanha da Frente de Todos, a Argentina parece começar viver sua primavera política e social.
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