Lula vira opção dos capitalistas frente a previsível recessão americana
"Os empresários, realistas e pragmáticos, flexibilizam suas posições neoliberais frente ao avanço eleitoral lulista", escreve César Fonseca
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Por César Fonseca
Concentração de renda e desigualdade social levam empresários a dar mais atenção a Lula, como atesta resultado do seu encontro com eles, nessa semana; afinal, a predominância ampla da concentração e da desigualdade excessiva promovem incontrolável sobreacumulação de capital que aprofunda subconsumismo e consequente queda insustentável da taxa de lucro, quanto mais expande ociosidade industrial, afetada pela destruição do poder de compra dos salários; o fenômeno ganhou proporções incontroláveis a partir das contrarreformas neoliberais, trabalhista e previdenciária, em 2019; diante do tombo da lucratividade, os empresários, frente ao subconsumismo em expansão, reduzem produção e, ao mesmo tempo, elevam os preços, para garantirem o mínimo de eficiência marginal do capital(lucro), sem a qual são obrigados a fecharem as portas, especialmente, pequenas e médias empresas foram para o espaço; sobrevivem os oligopólios, dominados pelo capital estrangeiro aliado aos bancos nacionais, igualmente, oligopolizados; as medidas neoliberais entraram em violenta contradição com dois fatores aleatórios não previstos pelos golpistas de 2016, apoiados pelos empresários, que derrubaram Dilma mediante impeachment sem crime de responsabilidade capaz de justifica-lo: 1 – pandemia da covid-19 e 2 – guerra Rússia x Otan, na Ucrânia, invadida, preventivamente, por Putin; agora, para completar o pânico, emerge recessão nos Estados Unidos, cantada em prosa e verso pelo mercado financeiro internacional.
ATAQUE AO SUBCONSUMISMO
A insuficiência de consumo decorrente das reformas neoliberais sucumbiu-se ao encavalamento dos dois fatores externos, que afetaram, internamente, a estratégia neoliberal bolsonarista, caracetizada pelo antinacionalismo destinado a esvaziar economicamente o Estado nacional em nome de falso combate ao déficit público; ocorreu o oposto, o déficit não encolheu, mas expandiu-se, trazendo com ele inflação incontrolável; Bolsonaro, nesse cenário, perdeu o controle da economia e, por isso, balança perigosamente sua popularidade, que ameaça sua reeleição, como atestam as pesquisas eleitorais que sinalizam vitória de Lula; diante do cenário de catástrofe neoliberal, em que, sob bolsonarismo fascista, a economia brasileira vai na contramão do mundo, os empresários, realistas e pragmáticos, flexibilizam suas posições neoliberais frente ao avanço eleitoral lulista, quanto mais enfrentam crise de realização de lucros na produção e no consumo; sobram especulação financeira cercada de incertezas gerais diante das manobras de Washington.
PERPLEXIDADE GLOBAL
O ambiente de incerteza mundial em que a moeda hegemônica americana sem lastro real balança diante da valorização das commodities, que viram moeda real, como já ocorre, relativamente, ao rublo russo, no calor da guerra na Ucrânia, contribui para mudança da classe empresarial; ela, fundamentalmente, perde confiança na continuidade permanente da realização de lucros na especulação financeira, especialmente, quando o BC americano(FED) prenuncia recessão econômica nos Estados Unidos; a subida da taxa de juro americana enxuga a liquidez mundial em dólar com consequente perigo mortal para as economias da periferia capitalista, mergulhadas em dívidas públicas impagáveis, como a brasileira; o BC brasileiro entrou em estresse total porque a única arma que dispõe é a puxada dos juros, receita, porém, mortal, que afeta o endividamento estatal; este já suga dos cofres do tesouro nacional cerca de R$ 700 em juros e amortizações, inviabilizando sustentabilidade econômica interna; os capitalistas da Fiesp, presidida por Josué Alencar, filho do seu ex-vice José Alencar, e os rentistas da Faria Lima veem o chão fugir dos seus pés, abrindo-se ao desespero, especialmente, se a recessão americana se adiantar, como passa a ser conversa corrente no mercado especulativo.
OUTRA MAROLINHA?
Partir para produção, que exige aumento do poder de compra dos salários, vira alternativa à vista, que favorece Lula; afinal, em 2008, quando estourou crise monetária nos Estados Unidos, o então presidente Lula disse que se tratava de uma marolinha que iria vencer, partindo para melhor distribuição da renda nacional e oferta de maior liquidez, na praça; essa alternativa está na mão, especialmente, porque o país dispõe de colchão de reservas de mais de 350 bilhões de dólares, acumuladas pelo próprio Lula como presidente em razão de sua política de valorização dos salários e dos programas distributivos de renda; comprometer-se, no calor da crise capitalista neoliberal, com o seu oposto antineoliberal, ou seja, com valorização do salário mínimo, como vigorou no seu governo, no período de 2003 a 2010, configurando estratégia de sucesso, valoriza, ainda mais, o seu passe na disputa eleitoral.
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