Lula vence a cada debate em que é proibido
Do ponto de vista eleitoral, a ausência de Lula nos debates no primeiro turno não traz qualquer prejuízo a ele e ao PT; desde 1989 líderes nas pesquisas não comparecem a debates no primeiro turno, porque sabem que eles em nada ajudam suas candidaturas; o que menos há nesses "realities shows" eleitorais é debate efetivo; Lula é o vitorioso a cade debate porque sua ausência denuncia a injustiça; leia na coluna de Mauro Lopes
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O debate entre os candidatos da Rede TV na noite desta sexta (18), sem Lula, foi absolutamente irrelevante. Não tem peso sobre o rumo das eleições, não interfere nas pesquisas e, mais uma vez, quem dele saiu vencedor foi Lula. O tema de ontem e hoje no país não é o debate, mas a decisão da ONU sobre Lula -isto é o que polariza o país. A ausência de Lula denuncia a injustiça contra ele -por isso, a cada debate sem sua presença, ele é o grande vitorioso.
Há analistas que alardeiam um suposto "prejuízo brutal" para Lula e o PT por sua ausência nos debates. Ora, se os debates nas TVs fossem relevantes e a ausência de Lula um enorme prejuízo para sua candidatura, porque Lula não cai nas pesquisas?
Um interessante estudo feito pela Nexo que demonstra como, historicamente, os debates no primeiro turno são irrelevantes. Nas eleições de 1989, 1994 e 1998 os líderes (Collor e FHC) ignoraram olimpicamente os debates -e sequer havia rede social à época. O mesmo aconteceu com Lula em 2006. Em 2010, Dilma deixou de ir a dois debates. O fato é que para os líderes nas pesquisas, os tais debates não têm importância.
Talvez fosse mais apropriado qualificá-los de "debates", assim mesmo, entre aspas. Não há debates no sentido estrito da palavra. Eles são interditados pela quantidade de candidatos presentes e o formato dos programas, "candidato pergunta para candidato" e "jornalista pergunta para candidato" numa dinâmica de 30 segundos para perguntas, 1 minuto para respostas e 45 segundos para réplicas (os tempos-padrão dos programas de TV entre candidatos).
Em boa parte das confrontações, existe mesmo é um diálogo de surdos. Um candidato pergunta, fazendo introdução para falar do que lhe interessa, o outro responde o que lhe interessa sobre o assunto que considerar mais interessante e na réplica o perguntador retoma o assunto de seu interesse. Os jornalistas, em geral, esforçam-se para aparecer mais que os candidatos, nos seus segundos na ribalta. Um deles foi exemplar, no debate entre candidatos ao governo de São Paulo, ao perguntar sobre uma lei que limita a caça de javalis no estado -isso mesmo, caça de javalis.
Os debates reduzem-se a este amontoado de solilóquios ou então a confrontos eventuais entre os candidatos -que no mais das vezes buscam parecer preocupados com "programa de governo" do que com o embate com o adversário, com medo de aparecerem como antipáticos. Nestes confrontos, importa menos o tema e mais a performance de cada um para que os jornais e programas de TV no dia seguinte possam decretar quem "ganhou" e quem "perdeu". Subsidiariamente, servem para gerar alguns memes para agitar as redes sociais. Por isso, os tais "debates" assemelham-se cada dia mais a "programas de auditório" entre candidatos que efetivamente com debates com alguma relevância.
Servem, os debates no primeiro turno, à indústria da informação e do entretenimento do jornalismo conservador que escorrega numa decadência a olhos vistos. Para a estratégia do PT, os debates são de fato sem qualquer expressão. Como se diz popularmente, não cheiram nem fedem. Como aconteceu no passado com Collor, FHC, o próprio Lula e Dilma.
No segundo turno a história é outra, porque então há de fato confrontação entre propostas para o país e visões de mundo, quando no meio de todo o show business eleitoral é possível que o eleitorado divise o que verdadeiramente está em jogo nas eleições. Isso se houver segundo turno pois, se Lula for o candidato, a eleição deve ser resolvida em 7 de outubro.
É claro que é importante Lula e o PT ingressarem na Justiça para assegurar seu direito de participar nos debates -mas é porque trata-se de um tema de Justiça, e não de estratégia eleitoral.
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