Lula, um sopro de alívio

"É preciso dizer que só com ele poderíamos derrotar Bolsonaro", constata a jornalista Tereza Cruvinel

Lula na festa da vitória na Av. Paulista
Lula na festa da vitória na Av. Paulista (Foto: Ricardo Stuckert)


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Por Tereza Cruvinel

O Brasil respira aliviado, e uma brisa de normalidade já começa a soprar com a eleição de Lula. Não houve golpe, as instituições responderam corretamente, o resultado está assimilado. O alívio é nosso, pelo fim do governo mais nefasto que já tivemos depois da ditadura, e é também do mundo. Todos os chefes de Estado ou governo que cumprimentaram Lula expressaram o desejo de começar uma nova cooperação com o Brasil, especialmente na questão ambiental-climática.

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Dizem todos uma verdade, proclamada pelo próprio Lula no discurso em que consumou o fato falando como presidente eleito, apesar do silêncio grosseiro de Bolsonaro: a vitória não foi do PT nem dos dez partidos que o apoiaram. Foi de todos que se uniram para derrotar o projeo neofascista, para restabelecer os marcos da democracia e a opção por uma sociedade mais decente, igualitária e justa, consignada na Carta de 1988.  Com Lula eleito, retomamos o fio da história democrática iniciada em 1985, com a eleição de Tancredo-Sarney e o fim da ditadura.  

Sobre o papel de Lula, é preciso dizer que só com ele poderíamos derrotar Bolsonaro (embora as urnas tenham dito também que o bolsonarismo não está morto). Que só com Lula seria possível enfrentar a campanha mais suja que já vimos e derrotar a máquina governamental, a máquina das mentiras e o assédio aos eleitores por parte dos poderosos, como os empregadores, e dos que se dizem ministros de Deus. Feliz o Brasil por ter tido Lula nessa hora.

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Seu governo não será um mar de rosas, até porque o país está destroçado. Mas sempre que houver dificuldades, devemos olhar para trás e pensar no que estaria o segundo mandato de Bolsonaro. Deveremos sempre nos lembrar de um governo cretino que dividiu os brasileiros com a semeadura do ódio ideológico, que os desprezou na hora dolorosa da enfermidade e da morte, durante a pandemia, que confundiu seus próprios interesses com os do país, nas relações internacionais. De um presidente que nunca teve vergonha de mentir, de agredir mulheres, negros e indígenas, que nos ameaçou com um golpe o tempo todo, que afrontou os outros poderes e exerceu o cargo com uma vulgaridade ilimitada.

Já se cobra de Lula que caminhe para o centro. Ele mesmo externou no primeiro discurso a compreensão clara do tipo de governo que precisará fazer. Já se fala nas dificuldades com um Congresso dominado pela direita,  em que expoentes do bolsonarismo vão pontificar, especialmente no Senado. Bolsonaro vai para casa mas os políticos vão se ajeitar como abóboras na carroça. A habilidade política, um dom de Lula, terá que ser usada intensamente e ele o fará. A palavra diálogo foi das mais pronunciadas no discurso.

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Talvez Bolsonaro não lhe passe a faixa, e isso é o de menos. Talvez não faça uma transição civilizada, como a que Fernando Henrique inaugurou na passagem do governo a Lula, em 2002, e isso dificultará as coisas.

Será complicado montar um ministério com tantas forças aliadas. Antes de anunciá-lo, Lula irá à Argentina, aos Estados Unidos e à Europa, com direito a encontro com o Papa.

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Mas todas as dificuldades serão nada, dentro da normalidade,  diante do que teríamos com um segundo mandato em que Bolsonaro aprofundaria seu projeto autoritário. Lembremo-nos sempre disso.

Ontem me lembrei do dia da eleição de Bolsonaro, em 2018. Eu escrevia uma coluna para o Jornal do Brasil, enquanto os fogos estouravam no meu bairro. Dei-lhe por título "O inverno chegou". Eu previa um ciclo de dores e temia que durasse mais que quatro anos. Naquele momento Lula estava preso e o PT demonizado, embora Haddad tenha feito o milagre de chegar ao segundo turno. Hoje podemos dizer: o inverno acabou. É primavera no Brasil.

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