Lula trava quarto turno da eleição contra o bolsonarista Roberto Campos Neto

Para Mario Vitor Santos, Lula considera os juros abusivos "um ataque a seu governo" por parte da diretoria do Banco Central, nomeada por Bolsonaro

Lula e Roberto Campos Neto
Lula e Roberto Campos Neto (Foto: Ricardo Stuckert/PR | BC | Marcos Oliveira/Agência Senado)


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Não há na ata do Comitê de Política Monetária do Banco Central, no  comunicado ou em declarações do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, nada que dê conta de responder a questão: por que a taxa básica de juros foi mantida em 13,75%, a maior taxa real do mundo, superior às que são praticadas em economias em muito piores condições do que a brasileira e que, em tese, deveriam oferecer juros maiores para captar recursos no mercado?

O conjunto de comunicados foi entendido pelo presidente Lula como um  ataque aos seus planos de crescimento da economia, criação de empregos, melhoria de salários e diminuição da pobreza.

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Mais do que isso, Lula reagiu como quem considera que a decisão do Banco Central, cuja diretoria foi nomeada por Bolsonaro, como um ataque de natureza política a seu governo.

Se Bolsonaro apoiava ou se rendia a essas taxas, Lula optou por polarizar contra uma política monetária que, sob a alegada intenção de forçar uma economia de gastos, gera ao contrário uma despesa com juros da ordem de 756 bilhoes de reais anuais ou cerca de 10% do Produto Interno Bruto.

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Lula disse que "é só ver a carta do Copom para a gente saber que é uma vergonha esse aumento de juros e a explicação que eles deram para a sociedade brasileira".

O presidente usa o peso de sua autoridade para escolher novo combate e novo adversário. Lula se recusa a aceitar que as prioridades e o espaço de atuação do governo sejam determinados por seus adversários, oriundos da gestão bolsonarista e que prometem dominar o futuro, como a própria ata do Banco Central antecipa. Quem votou com a camisa da seleção, como Roberto Campos Neto, já disse tudo.

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Para supostamente segurar a inflação, o titular do Banco Central ambiciona paralisar a economia, estrangulando a capacidade de consumo de cidadãos e negócios.

De quebra, remunera regiamente um grupo restrito de rentistas que inclui bancos e gestores de carteiras de títulos, ou aquilo que o economista Paulo Nogueira Batista chama de "turma da bufunfa", uma elite muito influente,  a mesma turma que domina as edições, as entrevistas e as colunas de opinião dos meios de comunicação corporativos brasileiros.

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A falta de ética desse consórcio de veículos hoje normalizou o abandono do pluralismo em suas reportagens, que reservam amplos espaços para opiniões de "analistas", "economistas-chefes" e "consultores" de bancões e firmas de investimento, remunerados para argumentar pela elevação ilimitada dos juros.

O noticiário enviesado ouve exclusivamente fontes que dizem aquilo  que o editor ou repórter já sabe que elas dirão.

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O fato de Lula, com os acidentes de sua trajetória, não se curvar, já indica o grau de tensão que deseja imprimir para salvar o governo de um cerco, ampliando seu campo de ação enquanto ainda conta com a boa vontade dos integrantes da sua Frente Ampla e buscando ainda se valer do rastro de rejeição ao bolsonarismo a partir do episódio do assalto aos Três Poderes.

Assim como foi forçado a decapitar a liderança visível da extrema-direita entre os militares, Lula precipita agora o ataque contra o mesmo bolsonarismo, mas na economia.

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O presidente sabe do tamanho dessa disputa, pois nesse terreno seus adversários incluem a chamada terceira via (que Lula acolheu parcialmente no seu ministério) e as forças que deram o golpe contra Dilma Rousseff.

Na mídia, na Justiça e no Parlamento essas facções gestaram a prisão do Lula candidato e criaram as condições para o triunfo de Bolsonaro em 2018. Articulistas refratários à reindustrialização já tentam encabrestar Lula recorrendo a supostos traumas ("Dilma 2").

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Lula não dá sinais de se apavorar com a conjuração desses espectros.

A linguagem da ata e do comunicado do Copom nem se esforçam para disfarçar.

 Sob o manto do que dizem ser uma a neutralidade "técnica", uma "independência", quem opera é um presidente do BC que enverga a camisa da seleção ao votar, que age com evidente intenção política de manter as taxas de juros elevadas.  É a forma de o Banco Central se insurgir contra investimentos e estímulos à atividade econômica anunciados pelo novo governo.

O país testemunha, portanto, uma espécie de quarto turno presidencial (o terceiro sendo o 8 de janeiro), em reação à vontade das urnas.

Entre esperar passivo o avanço inevitável da oposição encarniçada e entrincheirada ou partir já para o ataque, o presidente resolveu se antecipar.

Quem viveu o que ele passou não tem mais como fechar os olhos diante do que já está escancarado.

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