Lula terá que vencer o 3º turno
"Lula terá que fazer um governo equilibrado para que não tenhamos um novo golpe. A direita terá poder para sabotar, como fez com Dilma", diz Eduardo Guimarães
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Estatisticamente, é mais do que improvável uma virada de Bolsonaro sobre Lula a esta altura do campeonato eleitoral. E o mais irônico é que quem pode ter selado a derrota dele é ele mesmo, com sua língua infecta e descontrolada.
Essa não é uma mera opinião. O novo fôlego que Lula ganha a 5 dias da eleição já foi detectado por duas importantíssimas pesquisas, a Atlas Intel, a que mais acertou no primeiro turno, e a pesquisa Ipec (ex-Ibope), a que mais errou.
Nas pesquisa Ipec, Lula e Bolsoanro não se moveram na última semana, o que é a melhor das notícias para Lula. Mas é a pesquisa Atlas Intel que traz a melhor notícia para o ex-presidente ao registrar ganho de 1,2 ponto percentual em relação à pesquisa anterior.
Detalhe: a pesquisa Atlas Intel tem margem de erro de um mísero ponto percentual, sendo, talvez, a mais exata do mercado. E se na pesquisa Ipec Lula tem vantagem de 8 pontos, na pesquisa Atlas Intel ele tem 6. Mas os números não importam, o que importa é a tendência.
Detalhe: as tendências reveladas por essas pesquisas são muito boas para Lula, porque se uma (Ipec) aponta estabilidade com grande diferença entre os contendores, a outra (Atlas Intel) aponta crescimento do ex-presidente.
E note-se que o episódio de Roberto Jefferson nem foi computado -- ainda. Mas os planos de Bolsonaro sobre salário mínimo, conforme o seu "Posto Ipiranga" deixou transparecer, já estão produzindo efeitos, entre outras burrices e asneiras que estão afundando a candidatura fascista.
Como se não bastasse, a pesquisa Atlas Intel registra migração dos votos de Tebet e de Ciro para Lula.
No caso de Tebet, 54,2% dos entrevistados que votaram nela no 1o turno migraram para Lula no segundo. No levantamento publicado na 2a-feira 24, essa marca subiu para 69,6%. Além disso, os eleitores da senadora que migraram para Bolsonaro cairam de 29,2% para 18,2%.
No caso de Ciro, antes 53,9% dos eleitores do pedetista declaram votar em Bolsonaro e 39,1% em Lula. Agora, o petista aparece reunindo 51,13% dos votos de Ciro, enquanto o atual presidente tem 41,16%.
Ou seja: como sempre foi previsto, a vitória de Lula já se configura quase inexorável -- porque 100% inexorável só a morte. Porém, tragicamente essa eleição não vai terminar no 2o turno. O Bolsonarismo não irá se conformar com a derrota. E quanto mais apertada for, maior será a possibilidade de um 3o turno.
E o terceiro turno será a previsível reação de Bolsonaro à derrota, conquanto Lula não dispare na reta final e ele perca de lavada. Se assim for, a partir das sessões eleitorais cercadas por bolsonaristas furiosos com a "denúncia" do presidente de que foi "roubado", eclodirá um risco de convulsão social que não se sabe até que ponto vai pegar.
Nesse cenário, segue uma incógnita sobre como se portarão as Forças Armadas, que podem transformar o chororô bolsonarista em um golpe de Estado, com o presidente da República se recusando a deixar o cargo com apoio dos tanques verde-oliva.
Vencida essa etapa, restará a oposição feroz da extrema-direita e um Congresso em que a ela e a centro-direita conseguirão manter grande parte da força que têm hoje, enquanto a esquerda não terá votos próprios suficientes para barrar um impeachment.
Lula, portanto, terá que fazer um governo muito mais equilibrado para que não tenhamos que assistir a um novo golpe parlamentar no país. Claro que se conseguir fazer a vida dos brasileiros melhorar como fez a partir de 2003, quando o cenário econômico era talvez até pior que hoje na economia, o Centrão, sobretudo, vai aderir a ele como aderiu há quase vinte anos.
Mas não nos esqueçamos que a direita terá poder para sabotar o governo Lula, como fez com Dilma sob a batuta de Eduardo Cunha, que conseguiu impedi-la de governar simplesmente rechaçando todas as medidas que propunha ao Congresso.
Lula precisará de muito apoio da esquerda e da centro-direita. Se o seu governo, previsivelmente equilibrado em relação ao espectro político, virar alvo da esquerda, como ocorreu com Dilma, o que sobrevirá vai fazer a situação atual parecer um mar de rosas.
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