Lula terá de quebrar dois tabus

"Para voltar à presidência nas eleições deste ano, Lula terá de quebrar dois tabus. O primeiro é que ninguém foi eleito três vezes presidente do Brasil em 129 anos de governos republicanos. O outro tabu que Lula tem pela frente é que, nas quatro ocasiões em que as forças hegemônicas conspiraram para impedir de concorrer, assumir ou tirar alguém do poder, elas sempre tiveram êxito", afirma o colunista do 247 Alex Solnik

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lula (Foto: Alex Solnik)


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Para voltar à presidência nas eleições deste ano, Lula terá de quebrar dois tabus.

O primeiro é que ninguém foi eleito três vezes presidente do Brasil em 129 anos de governos republicanos.

Ele, Dilma, Fernando Henrique e Rodrigues Alves são os recordistas: foram eleitos presidentes duas vezes. (Rodrigues Alves morreu antes de assumir pela segunda vez).

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O recordista de permanência no poder é Getúlio Vargas, imbatível, com 19 anos no total: 15 como ditador (1930 a 45) e quatro como presidente (1950-54). O segundo lugar é de Lula e Fernando Henrique (oito anos) e o terceiro de Dilma empatada com Sarney (cinco).

O outro tabu que Lula tem pela frente é que, nas quatro ocasiões em que as forças hegemônicas conspiraram para impedir de concorrer, assumir ou tirar alguém do poder, elas sempre tiveram êxito.

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Em 1930, o governador paulista Júlio Prestes fora eleito presidente em março, mas o perdedor, Getúlio, governador gaúcho, denunciou fraude eleitoral e iniciou uma vigorosa campanha nacional pela anulação do resultado, ao lado dos governadores de Minas e da Paraíba (este, João Pessoa, foi seu vice), abraçada pela opinião pública, que detestava o então presidente Washington Luís, apelidado o "Barba", um dândi que não combinava com a população carioca, extrovertida e gozadora e que só seria substituído em novembro.

O assassinato de João Pessoa, em julho, prontamente (e erroneamente) atribuído a Washington Luís, serviu de combustível para a conspiração que acabou por retirá-lo manu militari do Palácio do Catete e colocar Getúlio em seu lugar.

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A eleição presidencial seguinte estava marcada para março de 1938, conforme calendário eleitoral estabelecido pela constituição de 1934.

O candidato de Getúlio, José Américo de Almeida, não caía nas graças do povo, apesar da fama de escritor. O favorito era o governador paulista Armando de Salles Oliveira, seu correligionário em 30 e agora adversário ferrenho e apoiado pelo governador gaúcho Flores da Cunha, outro ex-getulista.

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Convencido de que o paulista seria consagrado nas urnas, no dia 10 de novembro de 1937 Getúlio cercou os prédios da Câmara e do Senado com tropas militares, extinguiu os partidos políticos e, é claro, cancelou as eleições, alegando que o estado tinha de ser protegido contra uma suposta conspiração comunista denunciada pelo Plano Cohen, um dos grandes blefes da nossa história.

No dia 13 de março de 1964, o presidente João Goulart era o político mais popular do país. Mais popular ainda se tornou nessa noite, quando, no célebre comício da Central do Brasil anunciou o confisco de terras à beira de estradas federais, de rios e de açudes para serem distribuídos no que seria a reforma agrária. E ofereceu as suas primeiramente.

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No dia 14 o deputado Bilac Pinto, da UDN, iniciou articulação pelo impeachment de Goulart acusado de supostamente conspirar para fechar o Congresso Nacional. Duas semanas depois ele foi deposto por um punch militar.

Dilma também não resistiu, em 2016, ao motim articulado dentro do seu governo pelo partido majoritário, o PMDB, que obteve apoio da maioria dos deputados e senadores, da imprensa, do Poder Judiciário e da opinião pública para retirá-la artificialmente do poder, por meio de um impeachment tão falso quanto o articulado contra João Goulart.

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A ofensiva contra Lula se origina, fato inédito na história, na seara jurídica, mas, como nas ocasiões anteriores, através de processos tão infames quanto a acusação de que Washington Luís matara João Pessoa; de que os comunistas do Plano Cohen queriam derrubar Getúlio; de que João Goulart planejava um golpe de estado e de que Dilma cometeu crime de responsabilidade com as inofensivas pedaladas fiscais.

As mentiras, até agora, ganharam das verdades.

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