Lula & Temer: é a antipolítica, estúpido

Quem acha que a disputa do ano que vem será sobre o governo Temer está redondamente enganado ou vai enganar seus chegados, deixando a avenida aberta para passar o populismo radical de direita. Não mora na filosofia, é a antipolítica, estúpido!

Presidente Michel Temer 28/08/2017 REUTERS/Adriano Machado
Presidente Michel Temer 28/08/2017 REUTERS/Adriano Machado (Foto: Leopoldo Vieira)


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"Lula e Temer na Justiça", mancheteou em regozijo o jornal O Globo. No editorial "Normalidade", celebrou: "o dia de ontem [14/09] pode ser visto como atípico, devido à coincidência de agendas muito especiais cumpridas em tribunais. Não é sempre, afinal, que, enquanto um ex-presidente depunha como réu (Lula, em Curitiba), o presidente atual era tema de sessão do Supremo (a reclamação de Temer contra suposta perseguição por parte do procurador-geral)".

Para bom entendedor democrata, de esquerda, meia palavra do Brizola bastaria, mas...

Temer e Lula se complementaram, paradoxalmente, em alimentar a sustentação recíproca em nível político, isto é, o primeiro não ver reação das ruas ao seu governo por encarnar o "mal necessário" ou o "menos pior" para os setores da sociedade que se engajaram no Impeachment de Dilma Rousseff. O segundo, ao conquistar a recuperação eleitoral ao demarcar com as reformas impopulares e opor seu legado às condições econômico-sociais negativas persistentes.

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Temer e Lula também se complementaram, paradoxalmente, em relação à Lava Jato. Lula trouxe metade da sociedade consigo de forma crítica ou em rechaço à operação sob a narrativa da Lawfare, o que acaba ajudando Temer a bancar-se a si mesmo e ao sistema político diante dos alegados abusos e violações da operação, principal produtora do desemprego que embala a saudade do ex-presidente.

Quando Luiz Inácio encerrou uma Caravana vibrante pelo Nordeste, foi imediatamente alvo da operação com uma chuva de novas denúncias. Quando Michel Lulia conseguiu mostrar uma redução do desemprego de 14% para 13% e o recorde de pontos na Bovespa (que já sonha com crescimento de 3% e SELIC menor do que 7%), foi imediatamente alvo da operação com uma chuva de novas denúncias.

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(É bem verdade que Temer dificilmente atrairia os mais pobres e trabalhadores, enquanto Lula tem timing para deslocar agentes do mercado. Choices).

E, ironia do destino, logo quando a "solução Jucá" foi "absolvida" pelo procurador Rodrigo Janot, aquele que pela investidura do cargo que ainda ocupa deveria ser o garantidor do ambiente de negócios no País, preservando o devido processo legal da primeira à última instância, mas parece ter escolhido incorporar o Coringa imortalizado por Liam Gallagher: para uns importa dinheiro, para outros o poder, porém há os que só querem ver o circo pegar fogo.

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Bombardeou o sistema político para produzir uma pressão dupla sobre o mesmo. De um lado, o histrionismo da base da oposição contra o governo. De outro, da base da antipolítica antipetista sobre o ex-presidente Lula. E pôr, claro, Raquel Dodge no meio do fogo cruzado, para se ver obrigada a manter o padrão atual da operação. Continuamente, todavia, este caso da JBS incluso, o PGR só tem conseguido unir o bloco governista de Temer e agregar impulso ao crescimento do ex-presidente Lula nas pesquisas.

Se esta tendência for mantida, é provável que o governo, após rejeitar a segunda denúncia (que por pouco não caiu do telhado) consiga aprovar a reforma da Previdência, paradoxalmente fazendo com que a candidatura de Lula seja cada vez menos interditável, se não quiser, obviamente, ocupar o espaço de Ciro Gomes, cuja língua coordena o cérebro.

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Pesquisa interessante da Ipsos Public Affairs revelou que 48% dos brasileiros são parcial ou totalmente contra o aumento das despesas para incentivar o crescimento a longo prazo, porém 40% são parcial ou totalmente favoráveis e 12% não sabem ou não responderam. É a cara do que hoje opõe Lula e Temer, que serão players da eleição de 2018.

O desafio de Lula é encontrar um meio termo entre a explosão de vez da sociedade ou a explosão das contas públicas e carregar a sua candidatura de duas etapas - a primária judicial e a propriamente dita - rumo à vitória, arrastando muita gente sensata de diversos setores da sociedade.

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O de Temer, no mínimo, é não alimentar as cobras criadas por quem o fuzila diariamente no JN.

Quem acha que a disputa do ano que vem será sobre o governo Temer está redondamente enganado ou vai enganar seus chegados, deixando a avenida aberta para passar o populismo radical de direita. Não mora na filosofia, é a antipolítica, estúpido!

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