Lula tem que aproveitar trégua política e midiática no Congresso

"Lula sabe que vai ter que ser rápido no gatilho para aproveitar os ventos favoráveis de início de governo", diz Helena Chagas

(Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados)


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Os atos golpistas do 8 de janeiro e a crise institucional que se seguiu dominaram o debate no primeiro mês do governo Lula, que passou a controlar a pauta ao debelar os riscos de ruptura democrática e catalisar uma reação quase unânime das forças políticas ao golpe. Mas a normalidade, traduzida pela acomodação militar depois da substituição do comandante do Exército, vai se impondo. O jogo muda de fase e entram em cena desafios políticos que vão obrigar Lula a operar em outro campo.

O próprio presidente da República mostrou estar consciente disso ao fulminar, em entrevista, a criação da CPI dos Atos Golpistas, que estava prontinha para ser criada no Senado e agora deve ser engavetada por articulação dos líderes governistas. O recado do Planalto é de que não há tempo nem energias a perder com CPIs - sempre uma fonte tensão para qualquer governo - com uma pauta legislativa tão extensa e desafiadora pela frente.

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A maioria garantida até agora com a distribuição de espaços no governo será posta à prova com a posse do novo Congresso e a eleição de seu dirigentes  semana que vem. Ajuizadamente, o Planalto apostou nos cavalos que têm aura de vencedores, os atuais presidentes da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco - o primeiro até agora sem adversários conhecidos e o segundo tendo como desafiante, com poucas chances, o bolsonarista Rogério Marinho.

Tudo indica que o governo e sua nova base sairão vencedores nessas disputas - e que, por isso mesmo, Lula terá um grande saco de batatas a descascar nos tempos que virão. Partidos do Centro não-centrão, como MDB e PSD, e do próprio Centrão, como o União, não costumam operar no atacado, e vão apresentar suas faturas a cada votação importante do varejo governista. E serão muitas.

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Há urgência na aprovação das medidas provisórias do pacote fiscal de Fernando Haddad, inclusiva a polêmica que acaba com o voto de qualidade no Carf. A reforma tributária precisa ser votada no primeiro semestre para manter a credibilidade do discurso econômico do governo, caso também do projeto de lei complementar com o novo arcabouço fiscal que Haddad promete mandar ao Congresso até abril. Sem falar no Pacote da Democracia com medidas importantes contra atos terroristas.

Tudo isso precisa de maioria qualificada - três quintos dos votos para aprovar PEC e maioria absoluta para os PLCs - o que a nova base parlamentar, ainda que reunindo mais da metade dos parlamentares, não garante com a devida segurança. Não por acaso, os articuladores do Planalto negociam apoio com o Republicanos da Igreja Universal e da TV Record - e também do governador bolsonarista de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Não vai sair de graça, assim como custará caro também adesão de integrantes do PL de Bolsonaro.

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Lula sabe, acima de tudo, que vai ter que ser rápido no gatilho - é a linguagem de boa parte desse pessoal - para aproveitar os ventos favoráveis de todo início de governo, que acabaram reforçados pela absurda tentativa de golpe sofrida no 8 de janeiro. Esse cenário, com Bolsonaro no pelourinho dos golpistas, tendo os malfeitos de sua gestão amplamente expostos, não vai durar para sempre. A trégua política - e, principalmente, midiática - pode acabar de uma hora para outra.

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